segunda-feira, novembro 30, 2009

Fukanzazengi

Regras gerais para a prática do zazen
de Dogen Zenji (1200-1253)


Quando se busca a fonte do caminho, percebe-se que ele é absoluto e tudo permeia. É desnecessário distinguir entre “prática” e “iluminação”.

O ensinamento supremo é livre, então por que estudar os meios para alcançá-lo?

O caminho é, desnecessário dizer, muito diferente da delusão.
Por quê, então, preocupar-se com os meios de eliminá-la?

O caminho está completamente presente onde você está, então para que servem a prática e a iluminação?

Contudo, se houver na origem uma minúscula distinção entre você e o caminho, o resultado será uma separação tão grande quanto a que há entre o céu e a terra. Caso um fugaz pensamento dualístico surja, você já perderá sua mente-de-Buda.

Por exemplo, algumas pessoas se orgulham do seu entendimento, e pensam que são fartamente dotadas da sabedoria de Buda. Elas pensam ter atingido o caminho, iluminado suas mentes e adquirido o poder de tocar os céus. Elas imaginam que viajam pelos campos da iluminação. Mas na verdade elas praticamente perderam o caminho perfeito, que está além da própria iluminação.

Você deve atentar para o fato de que mesmo Buda Shakyamuni teve de praticar zazen, durante seis anos. Também se narra que Bodhidharma teve de praticar zazen no templo de Shao-lin por nove anos para poder transmitir a mente-de-Buda. Se esses grandes homens sábios foram tão diligentes, como poderiam os praticantes de hoje em dia prescindir da prática do zazen? Você deve parar de perseguir palavras e erudição e aprender a se recolher e se refletir em si mesmo. Quando você faz isso, seu corpo e sua mente naturalmente são abandonados, e sua natureza-de-Buda original surge. Se você pretende compreender a sabedoria de Buda, deve começar a treinar imediatamente.

Para praticar o zazen é desejável ter um aposento silencioso. Você deve ser moderado no comer e beber e abandonar todas as atividades ilusórias. Pondo tudo de lado, não pense nem no bem nem no mal, nem no certo nem no errado. Desse modo, cessando as várias atividades mentais, abandone até mesmo a idéia de se tornar um Buddha. Isso é verdadeiro não só para o zazen, como para todas suas atividades diárias.

Coloque uma esteira grossa e quadrada sobre o chão onde você se sentará e sobre ela uma almofada redonda. Você pode se sentar igualmente nas posições de lótus completo ou de meio-lótus. Em lótus completo, coloque seu pé direito sobre sua coxa esquerda e então seu pé esquerdo sobre sua coxa direita. Em meio-lótus, apenas coloque seu pé esquerdo sobre a coxa direita. Suas roupas devem ser confortáveis, porém asseadas. Em seguida coloque as costas de sua mão direita sobre seu pé esquerdo a as costas da mão esquerda sobre a palma da mão direita, com as pontas dos polegares tocando-se levemente. Aprume o corpo, não se inclinando nem para a esquerda nem para a direita, nem para a frente e nem para trás. Suas orelhas devem estar no mesmo plano que seus ombros e seu nariz alinhado com seu umbigo. Sua língua deve ser colocada contra o céu da boca e seus lábios e dentes devem permanecer firmemente fechados. Mantendo seus olhos constantemente abertos, respire suavemente pelas narinas. Finalmente, tendo ajustado seu corpo e sua mente dessa forma, faça uma profunda respiração, balance seu corpo para a esquerda e para a direita e então permaneça solidamente, imóvel como uma rocha. Pense no não-pensar. Como se faz isso? Pensando além do pensamento e do não-pensamento. Este é o princípio fundamental do zazen.

Zazen não é “meditação passo a passo”, mas simplesmente a tranqüila e agradável prática de um Buddha, a realização da sabedoria de Buddha. A verdade aparece, não há delusão. Se você compreende isso, você é completamente livre, como um dragão que alcançou a água ou um tigre que descansa na montanha. A lei suprema então surgirá por si mesma, e você se libertará do cansaço e da confusão mental.

Ao término do zazen, movimente o corpo vagarosamente e levante-se com tranqüilidade. Não se mova abruptamente.

Pela virtude do zazen é possível transcender a diferenciação entre “mundano” e “sagrado” e conquistar a capacidade de morrer enquanto se pratica zazen ou enquanto se está de pé. Além disso, é impossível para nossa mente discriminativa entender como os Buddhas e ancestrais expressaram a essência do Zen para seus discípulos com o dedo, uma estaca, uma agulha ou um martelo de madeira, ou como eles transmitiram a iluminação com um hossu, um punho, um bastão ou um grito. Isso não pode ser compreendido por meio de poderes sobrenaturais e tampouco com uma visão dualística da prática e da iluminação. Zazen é uma prática além dos mundos subjetivo e objetivo, além do pensamento discriminativo. Portanto, nenhuma distinção deve ser feita entre o inteligente e o estúpido. Praticar o caminho com o coração uno é, por si mesmo, iluminação. Não há diferença entre prática e iluminação ou entre zazen e vida diária.

Os Buddhas e os patriarcas, tanto neste como noutro mundo, na Índia e na China, todos eles mantiveram a mente-de-Buddha e ressaltaram o treinamento Zen. Portanto, você deve dedicar-se exclusivamente à prática do zazen, completamente absorvido por ela. Apesar de ser dito que há inúmeras maneiras de entender o Buddhismo, você deve apenas praticar o zazen. Não há necessidade de abandonar seu próprio local de prática e empreender viagens inúteis para outros países. Se o seu primeiro passo for errado, você inevitavelmente fracassará. Você já teve a boa sorte de ter nascido com um precioso corpo humano, portanto não desperdice seu tempo em vão. Agora que você sabe qual é a coisa mais importante no Buddhismo, como pode se satisfazer com o mundo transitório? Nossos corpos são como o orvalho na relva, e nossas vidas como o brilho de um relâmpago, desaparecendo em um instante.

Praticantes determinados do Zen, não sejam pegos de surpresa por um dragão real ou dediquem muito tempo apalpando apenas uma parte de um elefante. Apliquem-se no caminho que leva diretamente à sua mente original de Buddha. Respeitem aqueles que alcançaram o conhecimento perfeito e nada mais têm a fazer. Tornem-se um com a sabedoria dos Buddhas e alcancem a iluminação dos patriarcas. Se praticarem zazen por algum tempo, compreenderão tudo isso. A casa do tesouro então se abrirá por si mesma e vocês poderão usufruí-la plenamente com seus corações.

quinta-feira, novembro 26, 2009

Deixa o escuro chegar


Quando o dia cair
e as cores ficarem azuis, até sumirem,
quando a silhueta da figueira se confundir com o céu
e os pássaros em bando se recolherem

Bem no fim.
Quando já tiver feito o seu trabalho,
e os ponteiros indicarem o caminho de casa.
Justo na hora do cansaço.

(Ao chegar em casa) ou mesmo antes.
Não se entregue, não pactue
Não se deixe vagar pelas coisas como um espectro
Não faça recesso de si, não se esqueça no espelho das sombras.

Na hora cansada, as luzes do trânsito ainda são diamantes e rubis
e o cheiro sem ar das máquinas paradas são apenas isso.
A distância entre a lua e o sol nunca é mesma, veja bem
não feche a cortina que te separa de si

Não aceite contratos de puro sonho e desvario
Nem tome distância de onde se encontra.
Andando pelas calçadas ou ruas,
leve flores e água mineral.

terça-feira, novembro 24, 2009

Aviso importante!

Neste próximo retiro, Rohatsu Sesshin, que acontece em dezembro, ao contrário do que esperávamos e foi divulgado neste blog, NÃO HAVERÁ POSSIBILIDADE DE ALOJAMENTO NO TEMPLO. Como o prédio novo, o pavilhão Daikankaku, ainda não está 100% pronto, embora já tenha sido inaugurado, os engenheiros da obra resolveram por cautela não disponibilizar o prédio para uso ainda, até que seja entregue finalizado.

Sendo assim, aqueles que vierem para o retiro terão que se alojar em casa de amigos ou hotel. Para informações sobre hotéis próximo ao templo, favor entrar em contato com Templo Busshinji pelos telefones: 11 3208-4515/4345

segunda-feira, novembro 23, 2009

Tokudo - as últimas ordenações no Busshinji

Neste último dia 7 de novembro, a sangha do Busshinji esteve em festa, receberam ordenação leiga:

André - Endei
Claudemir - Gengaku
José Carlos - Ippo
Lauro - Rotsu
Vanderlei - Banrei

Foto: Daniela Coen

O oficiante do Tokudo, Mestre Saikawa Roshi


Foto: Lauro Araujo
Foto: Lauro Araujo


Recebemos também ordenação de monge, eu e Wajun:

Bruno - Daitetsu Seigen
Ezequiel - Dotetsu Wajun
Foto: Jarbas Viana
Foto: Daniela Coen
Foto: Jarbas Viana
Foto: Daniela Coen
Foto: Daniela Coen

quarta-feira, novembro 18, 2009

ROHATSU SESSHIN - BUSSHINJI



Acontecerá de 13 a 20 de dezembro no Templo Busshinji, São Paulo, o Sesshin da Iluminação, conhecido também por Rohatsu Sesshin. O valor da doação é de R$ 200. Tendo a frente o Superior Dosho Saikawa, abade desta instituição

As inscrições podem ser feitas no local, dia 13 de dezembro, na parte da manhã. Após o almoço daremos início ao sesshin. O encerramento ocorrerá na manhã de 20 de dezembro, em torno das 3hs.

Desta vez ainda não será possível a hospedagem no próprio templo, tendo os participantes que se hospedarem na casa de amigos ou hotel. Para saber de hotéis mais próximos ao templo, favor ligar para o templo.

Nosso endereço:
Rua São Joaquim, 285 • Bairro da Liberdade
São Paulo SP • Próximo à estação de Metrô São Joaquim
Tel.: 3208-4515 / 3208-4345 ou Fax: (0xx11) 3208-0418
A Grande Barca

        "O Iluminado parte na Grande Barca, mas não há ponto de partida. Ele parte do universo; mas na verdade, ele parte de nenhum lugar. Sua barca está equipada com todas as perfeições, e não é manejada por ninguém. Ela se apoiará em absolutamente nada e se apoiará no estado de tudo saber, que lhe servirá de não-apoio. Ademais, ninguém jamais partiu na Grande Barca; ninguém jamais partirá nela e ninguém está partindo nela agora. E por que isso? Porque nem aquele que está partindo nem o destino para o qual ele parte podem ser encontrados: por isso, quem estaria partindo e para onde?"
        O Bodhisattva Subhuti disse: "Profunda, ó Venerável, é a perfeita Sabedoria que vai além."
        E o Venerável respondeu: "Profunda como o abismo, como o espaço do universo, ó Subhuti, é a perfeita Sabedoria que vai além".
        Subhuti disse ainda: "Difícil de ser alcançada pelo Despertar é a perfeita Sabedoria que vai além, ó Venerável".
        Ao que o Venerável respondeu: "Essa é a razão, ó Subhuti, por que ninguém jamais a alcança pelo Despertar".


quarta-feira, novembro 11, 2009

Cinquentenário e Inauguração


Na foto Mestre Saikawa, sua esposa e discípulos, preparam o memorial do fundador do Templo Busshinji, Sokans e, em tamanho menor, logo atrás, dos monges, para a inauguração do novo prédio Dai Kankaku.

Confira a programação da cerimônia do cinquentenário do Templo Busshinji e inauguração do Pavilhão Dai Kankaku:

Dia 13 de novembro
10:00 - Cerimônia para Recepcionar o Shumu Socho
- Corte da Faixa de Inauguração e Descerramento da Placa
- Apresentação do novo prédio
11:00 - Cerimônia de Abertura da Imagem do Fundador
11:30 - Cerimônia dos 600 volumes do Sutra Prajna Paramita
12:30 - Banquete no Salão do Pavilhão Dai Kankaku


Dia 14 de Novembro
13:00 - Cerimônia de Abertura do Monumento
13:30 - Palestra
14:30 - Cerimônia Memorial dos Fundadores
15:30 - Cerimônia de Abertura dos Olhos das Imagens Daiguen Shuri Bosatsu e Daruma Soshi
16:30 - Cerimônia Memorial dos Antepassados(Grupo do Japão)
17:30 - Cerimônia do Manto Kuyo (Milhões de Luzes)


Dia 15 de Novembro
08:30 - Cerimônia para Recepcionar o Shumu Socho
09:00 - Cerimônia Memorial dos Monges e Professores falecidos da América do Sul
10:00 - Cerimônia Comemorativa do Cinquentenário do Templo Busshinji
- Entrega do Certificado de Honra ao Mérito de Shumucho para Convidados
11:00 - Cerimônia Memorial para todos os membros
- Entrega do Certificado de Honra ao Mérito do Busshinji para Convidados

quinta-feira, novembro 05, 2009

Nunca passei por aqui


Quando via um passarinho no caminho,
parava e esperava, só para ver seu vôo
fosse Sabiá, Bem-te-vi, Sanhaço, Rolinha, Periquito,
ou outro sem nome.

Costumava mudar de calçada sempre que via um pela frente
ciscando sementes, catando gravetos, assim
permanecia tudo em seu lugar

Nas noites difíceis, quando já não sentia nada, nada mesmo,
tocava o chão de pedra, ou de cimento, com a barriga
e o calor do sol ainda aquecia, era assim que me acalmava.

Mas nunca desconfiei da morte, nem me era dado pensar nela
tinha fé na ponta das minhas garras, na maciez do salto,
nas orelhas exatas e naquele grande bigode espigado.

Da morte, é melhor não falar, ou pensar.
A morte, é melhor viver, experimentar por si.
Não que se queira morrer, dessa morte definitiva,
pelo contrário, e é só por isso que estou aqui,
falando de passarinhos e de raios de sol.


Foto: Seigen Mitih