sexta-feira, agosto 31, 2007

Shushogi: 27

27. Devemos calmamente considerar que, se o verdadeiro Dharma ainda não tivesse sido espalhado pelo mundo, não poderíamos tê-lo encontrado, mesmo que tivéssemos devotado nossas vidas a isso. Nós, que agora pudemos encontrar o verdadeiro Dharma, devemos fazer esse voto. Sabemos que Buda disse: “quando encontrarem mestres de suprema iluminação, não levem em conta seu passado familiar, não se importem com sua aparência, não se aborreçam com suas faltas e não julguem sua conduta. Simplesmente, em respeito à sua sabedoria, curvem-se diante deles três vezes ao dia, os honrem e não lhes causem nenhuma mágoa”.

quarta-feira, agosto 29, 2007

Errantes do Samadhi (convite: 02 set)

Nova caminhada pela cidade de São Paulo, dessa vez no seguinte roteiro:

Alto de Pinheiros
Parque Vila Lobos
Jaguaré
USP
Rio Pequeno
Butantã
Vila Sônia
Morumbi
Itaim Bibi
Parque Ibirapuera
Jardim Paulista
Pinheiros
Alto de Pinheiros

A saída será da Fnac de Pinheiros (praça dos Omaguás, 34 - porta de entrada), domingo 02 de setembro às 9h15. São mais ou menos 25 km. Levar alimentos, a bebida compramos pelo caminho. Quem não puder fazer toda a caminhada poderá fazer apenas uma parte. Até lá!

segunda-feira, agosto 27, 2007

Shushogi: 25

25. Em resumo, devemos calmamente refletir sobre o fato de que a prática do voto de acordar para a mente da iluminação compreende esses princípios; não devemos ser precipitados. Ao trabalhar, salvando a todos, devemos venerar e respeitar esses méritos, que permitem a todo ser vivo receber orientação.

domingo, agosto 26, 2007

Shushogi: 24

24. Praticar a cooperação significa não diferenciar, não fazer distinção entre si mesmo e os outros. É, por exemplo, a vida humana do Tathagata, que é igual à de todos os seres humanos. Ao se compreender isso profundamente, passamos a identificar os outros conosco e nós com os outros. Então não há fronteiras entre nós mesmos e os outros. O oceano não rejeita nenhuma água; isso é cooperação. É devido a isso que a água se junta e forma um oceano.

sábado, agosto 25, 2007

Shuhsogi: 23

23. Praticar ações benéficas significa sempre buscar boas maneiras de beneficiar todos os seres, sejam nobres ou humildes. Os que ajudam uma tartaruga aprisionada ou um pássaro ferido simplesmente praticam ações benéficas, sem esperar reconhecimento ou agradecimento. O tolo crê que seus próprios interesses serão prejudicados se ele primeiramente beneficiar os outros. Isso não é assim. Ações benéficas se estendem sempre, universalmente, para si mesmo e para os outros.

sexta-feira, agosto 24, 2007

Shushogi: 22

22. Usar palavras amáveis significa pensar com carinho nos outros seres vivos e, ao encontrá-los, oferecer-lhes palavras gentis. Falar com um sentimento de afeto pelos seres vivos como se fossem todos nossos filhos é o que se entende por usar palavras amáveis. Devemos louvar o virtuoso e ter compaixão dos que não possuem virtude. As palavras amáveis são fundamentais para abrandar um inimigo e trazer harmonia entre amigos. Ouvir um discurso gentil de alguém ilumina o rosto e agrada o coração. Além disso, as palavras amáveis sempre deixam uma profunda impressão. Devemos compreender que as palavras amáveis são capazes de mudar os céus.

quinta-feira, agosto 23, 2007

Shushogi: 21

21. Há quatro tipos de sabedoria que beneficiam os seres vivos: doações, palavras amáveis, ações que beneficiam e cooperação. Essas são as práticas do voto do bodhisatva. Realizar doações significa não cobiçar. A princípio, apesar de nada ser realmente propriedade de alguém, isso não nos impede de praticar a doação. Não despreze nem mesmo uma pequena oferenda; sua dádiva certamente dará frutos. Portanto, devemos doar até mesmo uma linha ou um verso do Dharma, semeando o bem para estas e outras vidas. Nós devemos doar qualquer tesouro, mesmo que uma moeda ou uma simples folha de grama, criando boas raízes para este e outros mundos. O Dharma é um tesouro e o tesouro é o Dharma. Sem esperar agradecimento ou recompensas dos outros, nós simplesmente compartilhamos nosso esforço com todos. Fornecer um barco ou construir pontes são também uma doação perfeita. Ganhar a vida e produzir algo são, fundamentalmente, nada mais que doar.

quarta-feira, agosto 22, 2007

Shushogi: 20

20. Após despertar para a mente da iluminação, ainda que perambulemos pelas seis existências e pelas quatro formas de nascimento, as circunstâncias desses ciclos são elas mesmas a oportunidade para a prática do voto de beneficiar todos os seres. Assim, apesar de até agora nós termos desperdiçado inutilmente nosso tempo, devemos urgentemente fazer esse voto antes que a vida presente se passe. Ainda que obtenhamos grandes méritos, suficientes para que nos tornemos Buda, nós os devolveremos, dedicando-os a todos seres vivos, para que possam se tornar Buda e alcançar o caminho. Há alguns que praticam por incontáveis kalpas, salvando seres vivos sem se tornarem budas; eles sacrificam sua própria iluminação para salvar e beneficiar todos os seres.

Shushogi: 19

19. Ainda que de aparência humilde, aquele que tem essa intenção já é o mestre de todos os seres vivos. Mesmo uma menina de sete anos pode ser mestre da assembléia das quatro classes e mãe compassiva de todos os seres, pois homens e mulheres são iguais. Este é o princípio mais elevado do ensinamento de Buda.

terça-feira, agosto 21, 2007

Shushogi: 18

IV. Fazendo o voto de beneficiar todos os seres

18. Despertar para a mente da iluminação é realizar o voto de salvar todos os seres antes de salvar a si próprio. Leigo ou monge, ser celestial ou humano, sofrendo ou em paz, devemos rapidamente desenvolver a intenção de salvar os outros antes de salvar a nós mesmos.

segunda-feira, agosto 20, 2007

Verso de Transmissão

A água é limpa até suas profundezas;
Brilha sem precisar ser polida.

Keisan Jõkin

sexta-feira, agosto 17, 2007

Shushogi: 17

17. É por esse campo que transitam os budas, não dedicando seu pensamento às diversas aparências, e, praticando longamente assim, as aparências não se manifestam em seus diversos pensamentos. Neste momento, a terra, a grama e as árvores, as cercas e as paredes, os tijolos e as pedras, tudo que se encontra nas dez direções realiza o caminho da iluminação. Assim, todos os seres que se beneficiam do vento e da água dessa forma são misteriosamente ajudados pela inconcebível força transformadora de Buda, iluminando-se. Esse é o mérito da não intenção, esse é o mérito da não força. Isso é o despertar da mente da iluminação.

"Seu Antenor"

Conhecemos Seu Antenor em um hospital da cidade.Dividia o quarto com um amigo e praticante de nossa Sangha, também hospitalizado.
Seu Antenor é uma pessoa comum.Aposentado, aos oitenta anos, tem problemas pulmonares e também cardíacos.Marcas prováveis de sua atividade profissional.Foi estivador.Quatrocentos reais de aposentadoria, é o que recebe para viver.Valor insuficiente, sequer para custear os seus medicamentos.
As dificuldades enfrentadas na vida, passadas e atuais, são minimizadas pela atenção e cuidados dispendidos por seus familiares - esposa, filhos, filhas, noras e netos, visitas diárias no hospital.
Seu Antenor ao relembrar o tempo que passou, reconstrói a sua vida sem ressentimento.O mar é a lembrança recorrente.Do mar sairam as sacas pesadas que transportou no lombo.Um mar com águas cristalinas ainda não contaminadas, onde botos nadavam na orla da praia.Observado com apreço por seus familiares, refaz em breves relatos a história de sua vida.
Este senhor de origem humilde e modos educados, testemunha e nos ensina com sua história pessoal que mesmo a dura realidade da vida permite acolher sentimentos de amor, alegria e gratidão.
Se estamos habilitados a viver moldados por estes sentimentos, percebemos e aceitamos as limitações e restrições frequentes à vida, e acabamos por compreender, assim como Seu Antenor, que a vida é o que fazemos dela.

Caminhada cancelada

A caminhada marcada para o próximo 19 ago foi cancelada. Será remarcada em data mais para frente.

quinta-feira, agosto 16, 2007

Shushogi: 16

16. Aqueles que recebem os preceitos realizam a insuperável, completa e perfeita iluminação experimentada por todos os budas dos três tempos, o indestrutível e diamantino ensinamento de Buda. Há alguma pessoa que não queira buscar esse objetivo? O Honrado mostrou claramente a todos seres vivos que, quando eles recebem seus preceitos, unem-se à ordem de Buda, igualmente realizando a iluminação e tornando-se seus filhos.

Errantes do Samadhi (12 ago)

Crônica do dia
Cheguei na estação Alto do Ipiranga faltando dez minutos para as nove horas, até a hora combinada para partida apenas uma abelha pousou na minha mão por uns dois minutos, depois voou, mais ninguém apareceu. Conversei rapidamente com um velho preto com roupas e boina com estampas africanas. Parti, sabendo que sete ou oito horas depois chegaria naquele mesmo lugar, porém pelo outro lado da rua. O sol tímido parecia uma lua branca por trás das densas nuvens de inverno. Virei uma esquina e me deparei com um aglomerado de evangélicos na saída do culto da manhã. No próximo quarteirão uma moça em trajes sensuais abria o portão de casa com um capacete preto na mão e um sorriso malicioso, falava aos berros com alguém dentro da casa. Ruas e mais ruas desertas. Já próximo do Parque da Independência, um senhor baixo de camisa azul e pele avermelhada, me abordou pedindo uma contribuição para a passagem do ônibus, ele tinha setenta centavos, dei-lhe um e sessenta, mas depois olhei para ele: "O senhor ainda paga passagem?", ele respondeu: "Você é branquinho assim vai ver, quando tiver quarenta, dirão que tem cinqüenta, quando tiver sessenta, dirão setenta". Pode ser. Ele agradeceu muito rapidamente e sai andando mais rápido ainda, fui atrás, pois ia na mesma direção. Quando ia passando por ele, ele me perguntou se eu ia a pé, disse que sim, ele fez menção de me devolver o dinheiro, mas eu esclareci que ia a pé de propósito. Fiz o primeiro lanche num banco do parque. Enquanto comia uma banana e uma metade de pão com mel, fiquei observando uma senhora que passeava seu cão e tentava se aproximar de uma cadela vira-lata que a seguira. Mais acima uma aula de taichi, o professor, com traços ocidentais, associava sons aos seus movimentos. Vinte minutos depois eu atravessava um viaduto sobre uma linha de trem. Um viaduto para carros com apenas uma calçada estreita para pedestres. Sempre que passo em viadutos assim redobro a atenção, é um lugar sem ponto de fuga em possível caso de assalto. Passaram por mim três homens e logo depois veio um mendigo muito sujo e molambento, com um saco plástico cheio de comida misturada. A calçada mal tem espaço para uma pessoa, fiquei pensando, se aquele mendigo resolve parar na minha frente, se ele quiser me oferecer comida por exemplo, o que eu faço? Ele vinha conversando com um "fantasma", acho que foi isso que me salvou do meu medo, o fantasma dele. Quando passou por mim abriu bastante espaço e sorrindo manteve o rosto na direção contrária a mim falando e ouvindo qualquer coisa. Lembrei que, se o pássaro que canta e a noite estrelada não estão separados de mim, aquele mendigo de certa forma também era eu. Logo depois, já descendo do outro lado do viaduto, vi lá embaixo através da cerca do viaduto uma mini-favela, uma invasão do tamanho de uma pequena praça. Casas feitas de pedaços de papelão e madeira fina. Escadas tortas que levavam a um futuro segundo andar. Esgoto a céu aberto. Pessoas em diversas atividades como um banho de caneca ou um bate papo sentado no meio fio encardido. Uma placa com dizeres tão bens escritos em fundo colorido destoava daquela paisagem. Mais curiosa era a forma como eles souberam lidar com as árvores que já existiam na praça, construindo os cômodos de suas casas à sua volta, então, dentro de uma sala pode haver o tronco e o princípio dos galhos de um jacarandá mimoso. Qunize minutos depois, após subir uma longa avenida passo num Mc Donalds apenas para me servir de suas instalações sanitárias, o que agradeço na saída. Estou na Mooca, bairro típico de colonização italiana, antigo bairro operário, com moradias em pequenos blocos de apartamentos rodeados de área verde, um lugar muito agradável. Alguém tocava a nona sinfonia de Beethoven numa gaita por trás de um portão. O sol agora esquentava um pouco, fazendo desenhos desfocados nas calçadas e nos muros. Parei para comprar uma bebida, ao sair do supermercado, vi uma moça assim de uns dezessete anos vendendo alguma coisa numa cesta, pensei, ela vai me oferecer e aconteceu. Ela precisava pagar a conta de luz, por isso estava vendendo velas e miniaturas de cadeira com um carrinho de plástico. Me propus a comprar uma miniatura, não tinha troco, ela insistiu, não tinha vendido nada ainda naquele dia "Por favor!". Entrei no mercado para trocar a nota de dez que eu tinha, lá de dentro vi que ela me esperava, era bonita com um cabelo bem tratado, uma roupa simples verde musgo. Reparei que ela tinha uns cacoetes que a fazia abrir a boca em pequenos espasmos e mais tarde reparei em algumas feridas ao redor da boca. Pensei, "Quem será essa pessoa?" Finalmente conseguimos trocar o dinheiro com um cara que assistia, da calçada, a uma missa protestante num enorme salão. Disse-me ela que quem fazia os objetos que ela vendia era o pai. Um pouco mais adiante como o primeiro sanduíche de carne assada com maionese que havia levado. Estou agora num segundo viaduto, atravessando outra ferrovia. Entro no bairro de Belém exatamente ao meio-dia, os sinos de uma antiga catedral confirmam o horário em doze badaladas que me assustaram a princípio. Ao lado da catedral dezenas de homens, uns velhos, outros não, jogavam dominó. Este bairro tem casas e estrutura urbana bastante decadentes, quase tudo é cinza-enegrecido. Nas ruas identifica-se um sotaque nordestino. Pego a rua catumbi e logo depois a rua cachoeira. Vejo algumas famílias passeando. Quatro amigos sentados na entrada de uma loja fechada comem um frango assado nas mãos. Um opala preto fosco que a princípio julguei estar abandonado, tem alguém em seu interior tentando insistentemente ligar o motor. Uma obra da prefeitura com um buraco mal-cheiroso. Mais à frente, ruas "medievais", ruas bastante estreitas, algo que nunca tinha visto em São Paulo. Estou no bairro Pari. Descendo uma ladeira um poodle branco sujo e sem coleira mal se dá o trabalho de me olhar, apenas me fareja em movimentos rítmicos de nariz. Mais abaixo uma criança boliviana chuta lixo. Um pouco depois dois homens também de origem boliviana passam num papo amistoso, cada um em sua bicicleta e em cada bicicleta uma barraca de feira desmontada e presa na transversal, quase não cabendo naquelas vielas. Logo depois descubro que iam para a feira onde eu passava naquele momento. Feira de imigrantes bolivianos recém-chegados, com barracas de artesanato típico, barracas-barbearia com quadros pendurados com dezenas de fotos de diferentes cortes de cabelo e barba. Noutra barraca: "Saltenhas mágicas de Don Marcos" dizia um cartaz. Atravessei as movimentadíssimas avenidas do Estado e Tiradentes. Na saída de uma faculdade, alunos comentavam preocupados as questões de uma prova acabada de fazer. Estou agora no bairro Bom Retiro, bairro tradicional de judeus que recentemente passaram a dividir com imigrantes da Coréia, o que posso constatar facilmente pelos restaurantes desse país e pelas pessoas que passam por mim, com feições orientais diferente dos chineses e japoneses. Próximo à gráfica do jornal Folha de São Paulo tomo em dois goles um delicioso suco de laranja com mamão. Já percorri metade da caminhada que me propus, estou cansado, as pernas doem um pouco, é uma hora da tarde, ainda faltam quatro horas até o final. "Será que mudo o percurso e vou direto para casa?", "Será que pego um ônibus?". Resolvo continuar, até porquê agora quem não quer parar são as minhas pernas. Subindo a avenida Angélica, em Higienópolis, passam por mim duas Ferraris, uma preta e uma vermelha, mais acima os dois carros param num posto de gasolina, pai e filho, lembro que hoje é dia dos pais. Cruzo a avenida Consolação, na avenida Paulista saco algum dinheiro num caixa rápido, compro uma cerveja sem álcool e como meu segundo sanduíche de carne assada, este sem maionese, sentado numa praça próximo ao parque Trianon. Uma menina de uns dez anos tira fotos com o pai, lembro mais uma vez que hoje é dia dos pais. Sigo meu rumo descendo o bairro de edifícios residenciais altos, Jardim Paulistano. Passo pela entrada do parque Ibirapuera e cruzo a Vila Mariana em ruas quase desertas. Já são quatro horas da tarde. Tomo um mate gelado no shopping Sta. Cruz e sigo o último trecho da viagem, descendo uma rua enorme que me levaria após alguns minutos ao meu ponto de partida. Neste caminho, uma senhora, uma vovó de uns 80 anos de idade me aborda. Pele branca e enrugada com manchas aqui e ali e olhos verdes. Com um ar muito sofrido, diz que nunca pediu nada na rua mas que agora tinha que fazê-lo. Iria se operar de alguma coisa que não me lembro o nome, me mostrou uns calombos nos ante-braços e disse que também estava sofrendo de depressão e precisa comprar uns remédios. Apenas um dos remédios custava trinta e cinco reais! Disse que em frente à igreja onde vendia bonecas de pano, as pessoas ficavam rindo dela. Comprei uma boneca e fui acabando mais esta caminhada, chegando como eu previra pelo outro lado da rua. Cheio de alegria, às quatro e cinqüenta e nove entrei na estação de metrô Alto do Ipiranga novamente. Numa trajetória circular, tracei a roda do dharma sobre a cidade de São Paulo.

quarta-feira, agosto 15, 2007

Encontros necessários

Terça-feira à noite, o templo vazio, só um monge praticando, sozinho. No momento do kinhin, o porteiro abre cuidadosamente a porta do salão e chama-lhe: “Há um homem na portaria, ele veio de longe, não conhece muito bem a cidade, não sabia dos horários apropriados, você pode recebê-lo?” Há dias certos para que iniciantes recebam as intruções para o zazen, o que é feito na sala de chá, mas, como não há ninguém nessa noite, o monge concorda em receber o homem. O porteiro desce, abre o portão do templo e o homem entra. Em voz baixa saúda o monge e, meio sem jeito, pergunta se é preciso tirar os sapatos. Assim que os descalça e põe os chinelos, entra na Sala de Buda. O monge indica-lhe um zafu ao lado do seu e começa a explicar os procedimentos para o zazen. O homem, um pouco confuso, o interrompe: “Desculpe-me, mas não entendo o que você diz. É que esta é a primeira vez que venho a uma igreja messiânica”. Supreso, o monge lhe esclarece que estavam num templo budista, a igreja messiânica era no quarteirão de cima. O homem se dá conta de que havia “entrado na igreja errada”. Após alguns segundos de hesitação, o homem pergunta: “Mas vocês também fazem cerimônias para os antepassados? É que eu queria fazer uma para os meus.” O monge lhe diz que sim. O homem se alegra, pergunta os detalhes, anota o telefone da secretaria e sai aliviado e contente. O monge volta para o zafu.

O homem aprendeu que não há igreja errada.

E o monge aprendeu que, antes de mais nada, é preciso perguntar: "O que você deseja"?


Shushogi: 15

15. Em seguida, devemos receber os três preceitos puros: não praticar más ações, praticar boas ações e beneficiar todos os seres vivos. Então devemos receber as dez graves proibições: não tirar a vida de nenhum ser vivo, não tomar o que não lhe pertence, não ter conduta sexual imprópria, não mentir, não se intoxicar, não falar sobre a falhas alheias, não louvar os outros, não ser mesquinho com suas posses e com os ensinamentos de Buda, não permitir a raiva, não maldizer os três tesouros. Todos os budas recebem e observam os três refúgios, os três preceitos puros e as dez graves proibições.

da crítica

As palavras são fugazes e se prestam à diversas interpretações. Devemos praticar a não-palavra através do zazen. Mas nos comunicamos com elas e por isso devemos ter muito cuidado ao usá-las. Aqueles que praticam o zazen já há algum tempo, podem abstrair certas coisas porquê um pouco da observação direta já vislumbram, mas uma pessoa que ainda não pratica, ou não praticou o suficiente, poderá enteder de forma mais literal e daí se enganar. Os textos do Dogen são talvez herméticos mas não se cristalizam, são libertadores, digo pelo pouco que conheço. No mais, as dúvidas e críticas retiram o azinhavre do textos. Outra coisa são os poemas, como o que Wajun publicou (abaixo), perduram no tempo como jóias cintilantes.

terça-feira, agosto 14, 2007

Samantabhadra-Sutra.


O oceano de todos os obstáculos kármicos

eleva-se unicamente das ilusões.

Se você quer arrepender-se,

sente-se na postura correta e concentre-se na verdadeira realidade.

Todos os delitos são como a geada e o orvalho.

O sol da sabedoria permite-lhes evaporarem-se.

Sobre Shushogi

Shuhogi, como explicou Jisho Sensei, foi concebido, originalmente, para ser lido por praticantes leigos. Nele há uma condensação de idéias de Dogen Zenji expostas em Shobogenzo, obra de mais de 90 fascículos e que é de difícil leitura para o público em geral, não familiarizado com o pensamento de Dogen e com sua maneira de escrever. É dividido em 31 partes, sugerindo uma leitura diária e, principalmente, familiar. Pode, por exemplo, ser recitado nas cerimônias memoriais ou mesmo diante do altar familiar de nossos antepassados. Quando praticamos zazen, praticamos por eles, também.

Como todo texto, pode ser lido sob inúmeros vieses: teológico, literário, histórico, marxista etc. Pode ser cotejado com outros textos budistas ou mesmo comparado ao pensamento das diversas tradições.

Para o praticante, deve servir fundamentalmente de inspiração para a prática. O praticante sincero, que renunciou à compreensão limitada do intelecto e lançou-se nos domínios do não nascimento, não perde de vista o caráter aprisionador das palavras. Um exemplo pode ser dado a partir de Fukanzazengi.

Neste texto, apresentam-se as instruções para a prática de zazen. Um estudioso pode lê-lo por toda a sua vida. Há alguns pontos de difícil compreensão: o que significa, por exemplo, “pensar além do pensar e do não-pensar”? Quais a similaridades entre o Shikantaza ensinado por Dogen e o Vipassana? Então se recorre a outros textos, Zanmai-Ozanmai, Zazenshin e assim por diante. Pode-se bem passar uma vida nessa atividade. Ou pode-se praticar o zazen, sobre um cobertor enrolado, no quarto, virado para a parede, assim que as crianças dormirem.

Voltando ao Shushogi, o mesmo se aplica. Sua leitura deve ser tão fugaz como as gotas de orvalho na manhã, para usar um símile apreciado por Dogen. Assim que as palavras são lidas, elas já não mais existem, quem as leu igualmente, o papel também, assim como a tinta, os olhos e a mente. Livre, o praticante põe o livro de lado e senta-se no samadhi diante da parede.

Aquele que pratica o zazen buscando a iluminação, certamente fracassará. Assim como aquele que lê buscando a compreensão.

Em Fukanzazengi Dogen é enfático: não há diferenciação entre prática e iluminação. Este ponto é fundamental.

Qual é, então, o objetivo de ler esse texto? E qual é o objetivo de praticar zazen?

Shushogi: 14

10. O mérito de tomar refúgio em Buda, no Dharma e na Sangha inevitavelmente surgirá quando houver uma comunicação espiritual entre o praticante e o caminho. Quando há uma comunicação espiritual entre o praticante e o caminho, todos os seres, sejam eles celestiais, humanos, infernais, demônios famintos ou animais, também tomam refúgio. Aqueles que tomam refúgio, vida após vida, tempo após tempo, existência após existência, lugar após lugar, estarão sempre avançando e seguramente acumulando méritos, atingindo a completa e perfeita iluminação. Devemos perceber que o mérito dos três refúgios é o mais honrado, o mais elevado e o mais profundo que se pode conceber.

segunda-feira, agosto 13, 2007

Criticando o Shushogi

12º. Alguns desafortunados e isentos de virtude são incapazes de ouvir a pronúncia dos Três Tesouros, mais ainda de tomar abrigo neles. Quando cometem erros, ficam temerosos e acabam buscando conforto nos espíritos que habitam as montanhas, nos fantasmas errantes e nos ensinamentos duvidosos. Desconhecem que agindo desta forma, não podem se livrar da rede dos sofrimentos. Se assim for, com urgência tomemos abrigo nos Três Tesouros, capaz não apenas de aliviar-nos do sofrimento mas principalmente possibilitar a realização da Iluminação.


Esta é a tradução comentada do parágrafo 12 de Shushogi. A respeito, tenho a dizer que Shushogi é uma compilação simplificada de partes de Shobogenzo. Teria sido divulgado para os leigos japoneses, usado atualmente nas cerimônias memoriais. Na minha tradução não se usa o termo santuários não budistas, referindo-se às manifestações de uma religiosidade primitiva conhecido por xintoísmo. Ao ser lido sem conhecer o contexto em que foi publicado, talvez pareça estranho a menção de práticas supersticiosas no Japão. Tais práticas estariam enraizadas na cultura autóctene. Não que se tenha que negar estas práticas. O que se coloca é justamente a natureza de uma religião que almeja a Iluminação. O budismo como o entendemos enfatiza a prática somada a uma disciplina, que possa conduzir à renúncia e assim diminuir os efeitos do sofrimento. Não estamos capacitados a referirmo-nos às outras tradições religiosas, sejam monoteístas e politeístas, nos quais não insere-se o budismo. Mas o budismo ensina a compaixão, não como mero estado emocional carregado de fé, mas como um ato de sabedoria. No caso, haveremos de conviver com as múltiplas manifestações culturais e religiosas, algumas delas fundamentalistas. Nesta situação, não por tolerância, muito mais por compaixão. Nem mesmo este ato torna os budistas melhores do que os outros. Achar que os budistas estão acima de qualquer outra religião, cultura, etnia, e por isso alimentar a vaidade da pureza de seus atos me parece irreal. Por outro lado, apegar-se à linguagem unicamente é desconsiderar a realização da prática concreta nos campos históricos da ambigüidade criados pela ilusão de Maya. É preferível praticar ao invés de patinar nos deslizes da própria ignorância. Nada substitui a prática. Nada substitui o zazen. Afinal, foi assim que fez o príncipe Sidharta!

Podemos falar de budismo, desde que se considere a prática. Sem ela, um budismo de leituras paralelas não torna o leitor praticante. Se temos que falar de budismo, podemos começar com as nossas ações realizadas: ajudou alguém? visitou algum asilo? alguma creche?; verificou que a sua raiva é produto de sua própria mente iludida?; que sua vaidade é uma droga?; que toda droga cria mais ilusão e sofrimento? Se estes atos não forem considerados, um budismo apenas de palavras é imoral.


Mente dividida

Existe um espaço que separa a margem das idéias com a da realidade histórica. Ainda que a mente consiga aceitar alguns postulados, como certos, acaba não se realizando no plano do concreto. Podemos chamar a esta dicotomia de ilusão. Seja no campo da moral, da religião e dos comportamentos este abismo torna-se um marco da dissonância. Deve existir algo de errado? Ou seja, os princípios não se coadunam com a ambigüidade da vida social e política. Nem sempre aquilo que é bom, condiz com a nossa corrupção de um meio em que o mal se instalou, tornando na única realidade plausível. São nestas condições que o homem moderno se encontra perdido, de um lado a conduta correta, de outro a doença que mina qualquer postulado verdadeiro. E nesse caso, preferimos em nossa quietude aceitar o correto como parte de nossas ansiedades mais profundas e verdadeiras, mas débeis demais para ser vivenciado.
Tratando-se das experiências do sagrado, de muito a distância entre as partes tornou-se censo comum. Mergulhado num universo fantástico no qual desfilam os símbolos, estes continuam símbolos nos discursos apologéticos, sem contaminar-se com a poeira das vaidades do mundo da cultura e da produção histórica. Como fossem coisas diferentes. Enfim, o maniqueísmo racional das polaridades eqüidistantes acabou permeando a nossa forma de atuar no mundo.
Não se trata, no entanto, apenas das religiões adâmicas e messiânicas este condicionamento. Outras tradições religiosas, inclusive, erram ao cometer o mesmo deslize. E nem o budismo zen pode escapar desta situação. Comprova este fato o comportamento de muitos praticantes, que diferenciam a vida comum da vida em ação meditativa durante o zazen. Surge neste momento, o perigo. Se não se consegue estender a prática da meditação sem objetivos, com a prática do cotidiano, então a ilusão não pode ser maior. Deixa transparecer a impressão de que o zazen é um paliativo diante da violência emocional durante a lida.
Neste caso, talvez haja falta de prática mais intensa, pois a mente em atenção cede lugar para a mente condicionada. Alguém chegou a me dizer de que a vida comum não acolhe a prática budista da Iluminação. Para quem se esforça a ensinar esta prática, esta afirmação não poderia ser mais desanimadora. Venceu a mente condicionada. Para esta mente, a aceitação das regras do jogo social, da maneira como apresentada, é fator determinante da vida. Se assim for, nada valerá a prática budista. A prática budista é justamente para quebrar tal condicionamento, a fim de sairmos das malhas da ilusão. Esta mente condicionada justifica que o mundo do trabalho impõe determinadas atitudes como responder a altura, quando agredido, fazer o jogo político, levar vantagens, buscar recompensas e lucros. Assim fica difícil a vivencia da sabedoria e compaixão ensinada pelo budismo. Na verdade, a prática budista deve se realizar nas condições mais efêmeras, contraditórias e deselegantes de nossa vida. Não que este mundo em que vivemos seja a realidade, pelo contrário, a ilusão criada por Mara. Trata-se de mundo de samsara, inconsistente em sua natureza, um sonho dentro de um outro sonho. Ainda assim, pela sua chama de sensualidade e atração, o som do flautista de Hamelin, somos conduzidos como ratos para se atirar nas correntezas do rio. Em todo momento, recusamos a Iluminação, o caminho da compaixão, em detrimento ao ciclo de sofrimentos produzidos pelo nosso próprio karma. O karma da ignorância.
Penso que aqueles que escolheram a prática budista como norteador de suas vidas, como candidatos potenciais à Iluminação. Mais do que palavras de alento, estes praticantes necessitam da experiência da Iluminação no próprio samsara. Quando puderem sentir o mundo como único, sem diferenciações, nem divisões, então a sabedoria estará mais próxima. Até mesmo os iludidos, os deludidos, conseguirão triunfar, desde que a mente se torne única com o mundo, este mundo único.
A experiência com o sagrado no contexto do budismo zen é o reconhecimento do mundo da ilusão como terreno fértil para o plantio e semeadura da Iluminação. Não existe fuga para o budismo, nem para fora dele. Não existe fuga deste mundo em que vivemos. Quanto mais tentamos fugir dele, mais nos encontramos nas entranhas da existência delusão/iluminação.

Shushogi: 13

13. Ao tomar refúgio nos três tesouros, nós devemos ter uma fé pura. Tanto durante como depois da vida do Tathagata, devemos juntar as palmas em gasshô, abaixar a cabeça e recitar: “Tomamos refúgio em Buda, tomamos refúgio no Dharma, tomamos refúgio na Sangha”. Tomamos refúgio em Buda porque é um grande mestre. Tomamos refúgio no Dharma porque é um bom remédio. Tomamos refúgio na Sangha porque são bons amigos. Somente quando tomamos refúgio nos três tesouros é que nos tornamos discípulos de Buda. Quaisquer preceitos que recebermos deverão vir após tomarmos esses três refúgios. Assim, para recebermos os preceitos, devemos antes tomar os três refúgios.

domingo, agosto 12, 2007

Shushogi: 12

12. Pessoas desafortunadas e de poucas virtudes são incapazes de ouvir o nome dos três tesouros, quanto mais de tomar refúgio neles. Não busque amparo, compelido pelo medo, inutilmente, em espíritos das montanhas ou fantasmas ou santuários não budistas. Esse tipo de ajuda não nos liberta do sofrimento. Tomemos rapidamente refúgio nos três tesouros, o Buda o Dharma e a Sangha, não apenas nos libertando do sofrimento como nos dirigindo à realização da iluminação.

sábado, agosto 11, 2007

Shushogi: 11

III. Recebendo os preceitos e a ordenação

11. Em seguida, devemos venerar profundamente os três tesouros: o Buda, o Dharma e a Sangha. Devemos fazer o voto de venerar os três tesouros igualmente em nossas vidas e corpos futuros. Essa respeitosa veneração ao Buda, ao Dharma e à Sangha é o ensinamento que os budas e os patriarcas da Índia e da China corretamente nos transmitiram.

Shunryu Suzuki Roshi

Assista a um pequeno vídeo de um teisho pronunciado pelo mestre Shunryu Suzuki em 1971 em São Francisco - site Zen Center de São Francisco.

sexta-feira, agosto 10, 2007

Shushogi: 10

10. “De todo nosso mau carma do passado, nascido do apego, raiva e ignorância, manifestado por nosso corpo, fala e mente, nos arrependemos.” Se nos arrependermos dessa forma, certamente receberemos a ajuda invisível dos budas e ancestrais. Mantendo isso em mente e agindo da maneira correta, devemos nos arrepender sinceramente diante de Buda. O poder desse arrependimento cortará pelas raízes o mau carma.

quinta-feira, agosto 09, 2007

Shushogi: 9

9. A essência do arrependimento é expressa desta forma: “Apesar de termos acumulado muitos maus carmas no passado, produzindo causas e condições que obstruem nossa prática do caminho, que os budas e os patriarcas que alcançaram a Iluminação sejam compassivos, nos libertando da retribuição cármica, removendo os obstáculos à prática do caminho e dividindo conosco sua compaixão, pois é por meio dela que seus méritos e ensinamentos preenchem todo o universo”. Buda e os patriarcas já foram como nós; no futuro, seremos como eles.

Errantes do samadhi (convite)




Neste domingo próximo, dia 12, estamos organizando uma caminhada pela cidade de São Paulo. Andaremos apenas por andar, em silêncio. Serão quase 30 km, em mais ou menos 7 horas de caminhada. Vamos nos encontrar na saída da nova estação de metrô Alto do Ipiranga às 9h da manhã. Saída 9h15.

Deve-se levar alimentação para todo o percurso, bebidas podemos adquirir pelo caminho. Serão 3 paradas de 10 a 15 minutos para descansar e se alimentar. Para vestir: roupas leves, porém é bom levar casaco e até guarda-chuva.

Roteiro: Alto do Ipiranga, Água Rasa, Mooca, Belém, Pari, Bom Retiro, Santa Cecília, Consolação, Jardim Paulista, Parque Ibirapuera, Vila Mariana, Alto do Ipiranga.

Lembro que quem não puder fazer todo o percurso, poderá fazer apenas uma parte.

Até lá!

quarta-feira, agosto 08, 2007

Shushogi: 8

8. Portanto, devemos nos arrepender, com toda sinceridade, diante de Buda. O poder do mérito que resulta de arrepender-se dessa forma diante de Buda nos salva e nos purifica. Esse mérito encoraja o livre crescimento da fé e do pleno esforço. Quando a fé surge, ela transforma a nós e a todos, e seus benefícios se estendem a todos os seres, animados e inanimados.

terça-feira, agosto 07, 2007

O espelho do zendô

O espelho do zendô não reflete nossa imagem, na verdade não reflete o que consideramos nosso verdadeiro eu, não reflete nosso ego. Um espelho vazio assim assusta, um espelho onde não nos vemos mas vemos todo o resto assusta, assusta até fantasma. Corremos o risco de achar que não gostam de nós ou não nos consideram, ou "eles são alienados", ou "eles não estão nem aí se venho ou não"... Tudo isso pode me fazer desistir. O espelho do zendô é opaco e fosco como a parede que olhamos durante o zazen, somos nós que, individualmente temos que tratar de polir, até nos tornarmos espelhos da verdade, como diz Saikawa Roshi.

Zendô: Local de prática do zazen, "meditação" sentada.

Shushogi: 7

II. O arrependimento e a extinção do mau carma

7. Os budas e os ancestrais, devido à sua ilimitada compaixão, abriram os portais do caminho para que todos os seres, humanos e celestiais, possam realizar a iluminação. Apesar de a retribuição cármica por más ações aparecer em um dos três períodos de tempo, o arrependimento diminui seus efeitos e elimina o mau carma, trazendo purificação.

segunda-feira, agosto 06, 2007

Shushogi: 6

6. Entenda que nessa existência você só tem uma vida, não duas ou três. Quão lamentável será se, futilmente, adotando falsos pontos de vista, você agir erradamente, pensando não estar fazendo o mal. Você não pode evitar a retribuição cármica de suas más ações mesmo que, erradamente, pense que, por desconhecer sua existência, não está sujeito a ela.

domingo, agosto 05, 2007

Shushogi: 5

5. As conseqüências do bem e do mal ocorrem em três períodos do tempo: retribuição experimentada na vida presente, retribuição experimentada na vida seguinte a esta e retribuição experimentada nas vidas subseqüentes. Este é primeiro ponto que deve ser estudado e esclarecido quando se pratica o caminho dos budas e dos patriarcas. Caso contrário, muitos de vocês cometerão erros e desenvolverão falsos pontos de vista. Não apenas isso, mas cairão em maus mundos, passando por longos períodos de sofrimento.

sábado, agosto 04, 2007

Shushogi: 4

4. Evite se associar a pessoas iludidas, ignorantes sobre a lei da causalidade e da retribuição cármica. Elas não estão conscientes dos três estágios do tempo e são incapazes de distinguir o bem do mal. Porém a lei da causalidade é ao mesmo tempo clara e impessoal; inevitavelmente aqueles que fazem o mal caem em reinos inferiores de existência e aqueles que fazem o bem ascendem a reinos superiores. Se não houvesse a causalidade, os budas não teriam aparecido neste mundo, nem Bodhidharma teria ido à China.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Shushogi: 3

3. Não podemos nos deixar levar pela impermanência, pois não sabemos quando ou onde esta nossa vida passageira terminará. Este corpo já está além de nosso controle; e a vida, à mercê do tempo, move-se sem parar ao menos um instante. Uma vez que o rosto corado da juventude desaparece, não podemos encontrar nem seus vestígios. Quando pensamos cuidadosamente sobre o tempo, percebemos que, uma vez passado, ele nunca retorna. Encarando repentinamente a perspectiva da morte, de nada vale a ajuda de reis, ministros de estado, parentes, servos, esposas, filhos ou riquezas. Nós devemos entrar no campo da morte sozinhos, acompanhados apenas de nosso bom ou mau carma.

quinta-feira, agosto 02, 2007

Shushogi: 2

2. É difícil nascer como ser humano e ainda mais difícil encontrar os ensinamentos de Buda.
Contudo, graças às virtudes acumuladas no passado, não apenas pudemos nascer como humanos como também pudemos encontrar os ensinamentos de Buda.

Dentro do campo do nascimento-morte, nossa vida atual é a melhor de todas; não desperdicemos futilmente nossos corpos, abandonando-os aos ventos da impermanência.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Shushogi: 1

O significado da prática-iluminação

I. Introdução geral

1. O completo esclarecimento do significado do nascimento e da morte é a questão mais importante para aqueles que percorrem o caminho de Buda.
Se há Buda no nascimento e na morte, então não há nascimento e morte.
Simplesmente compreenda que nascimento e morte são a iluminação em si mesmos, não havendo nascimento-morte a ser odiado, nem iluminação a ser desejada.
Assim, pela primeira vez, você estará livre do nascimento e da morte.
Compreender este problema é de suprema importância.

Shushogi

O Shushogi é constituído principalmente de citações diretas do Shobogenzo. Durante o Período Meiji, havia o costume de cada tradição Budista de promover as bases de sua fé, fazendo adaptações à época vigente. Na Escola Soto Zen, um comitê foi criado no qual participaram muitos monges e praticantes.

Um deles, um leigo chamado Ouchi Seiran (1845-1918), serviu como figura central ao preparar a obra publicada pelo comitê, chamada Tojo Zaike Shushogi. A Escola Soto Zen concluiu que esse material seria excelente para ensinar os leigos, e pediu a Takiya Takushu Zenji de Eiheiji e a Azegami Baisen Zenji de Sojiji que fizessem uma revisão do conteúdo desse trabalho. No dia 1º de Dezembro de 1890, a obra foi distribuída com o nome de Soto Kyokai Shushogi. Esse é o trabalho que conhecemos hoje como Shushogi.

As doutrinas da Escola Soto Zen formam um ensinamento que advoga o Buda-Darma corretamente transmitido de mente-a-mente desde Shakyamuni Buda através de sucessivas gerações de monges, shikantaza (apenas sentar) e “A Mente em si mesma é Buda.”

O Shushogi nos ensina como é possível conscientemente praticar esse ensinamento em nossa vida diária e como elevar nossa vida de fé.

(fonte: Sotozen-net)

O então superior do templo Busshinji, Miyoshi Roshi, freqüentemente enfatizava a importância da leitura desse sutra. Nos anos que aqui esteve, empenhou-se em recomendar que os praticantes o lessem e estudassem, solicitando que fossem feitas traduções para o português.