quinta-feira, julho 30, 2009

Agende-se

Veja as datas dos próximos Sesshins (retiro zen) no Templo Busshinji

Sesshin da Primavera
16, 17, 18, 19 nov 2009
Colaboração: R$ 150,00


Sesshin da Iluminação
13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20 dez 2009
Colaboração: R$ 200,00


Inscrições no local ou por telefone.

O retiro será coordenado pela equipe de monges do Templo Busshinji, tendo como responsável o Mestre Saikawa Roshi.

O Templo Busshinji fica na Rua São Joaquim, 285. Bairro da Liberdade, São Paulo - SP. Tels: (0xx11) 3208-4345/4515



Saikawa Roshi e discípulos no Sesshin de Inverno 2009

terça-feira, julho 28, 2009



Mundo, tão pequeno mundo...


Aquele que não é livre, enxerga um mundo restrito, acredita num mundo medíocre, utiliza uma linguagem que quer confirmar a não-liberdade e faz isso a todo tempo porquê precisa provar para si mesmo a existência deste mundo fictício que cria para si. Transforma suas relações com objetos e outras pessoas neste sistema fechado, quer convencer os outros de suas idéias, fica muito chateado se tiram seu chão e, sobretudo, fica embasbacado e sem ação quando vê um outro, livre, e sofre, sofre muito quando percebe sob seu nariz a liberdade "caótica" subjacente à própria existência.

Aquele que vive o sentimento de culpa, alimenta o sentimento de culpa como se fosse um peixe num aquário, precisa confirmar este sentimento de quando em quando para que ele não desapareça, ele pede confirmação para os outros, e inclui os outros nele, e acredita que obtém um certo alívio quando percebe que outros também têm essa mesma coisa, chegam a ficar felizes até, de uma alegria fosca e volátil feita de cumplicidade triste. Levam a vida assim, no dia de ontem.

Aquele que é negativo vê um mundo azul, azul chumbo. Tudo traz no fundo a semente do mal ou da tragédia engendrada, tudo é colocado numa moldura de horror, e todo cuidado é pouco. Seu mundo esta a beira do colapso a todo o tempo e se os outros não vêem o mesmo, então talvez todas as suas crenças, e sua vida por conseqüência, possam estar envenenadas ou com mal-agouro, encosto. Ele inclui os outros em seu mundo sombrio, não raro ele se torna a vítima.

A vítima precisa do algoz, então transforma o mundo à sua volta na causa dos seus problemas. E qualquer coisa pode ser a causa, o amigo, o inimigo, o tempo frio demais, a falta de tempo, a caixa de fósforos úmida, o pólen, qualquer coisa serve para alimentar e justificar sua existência tão sofrida. A vítima precisa de outros para existir assim tão frágil e desprotegida, vivendo em seu mundinho estreito.

Aquele que é estressado agita e enerva o que está a sua volta sempre que possível, assim seu frágil mundo ganha algum sentido e ele respira aliviado, ainda que mais estressado, mas isso não importa, importa dar sentido ao seu estado de nervos.

Aquele que é simpático traz um belo e convincente sorriso no rosto, adora sorrir para os outros, acredita levar a alegria a todo lugar. Fica preocupado porque o mundo já não sorri tanto ou porque alguém não correspondeu ao seu sorriso. Não entende porque há tanta gente mal-humorada no mundo. Muitas vezes não se importa se o mundo não corresponde sua expectativa, mas gostaria que as pessoas fossem mais felizes, como ele.

Aquele que é bom, está sempre fazendo o melhor possível, procura sempre fazer o bem para os outros, alguns, até em detrimento de si mesmo. Assim ele espera o reconhecimento de sua bondade através dos atos bons dos outros também. Fica inconsolável quando alguém corresponde sua bondade com indiferença, malícia ou maldade. Gostaria de ser reconhecido e adorado por todos por suas boas ações. Assim ele precisa de outros atores comprometidos na sua nobre causa para existir com alegria neste mundo.

O humilde abaixa a cabeça nas situações adequadas para que continue a ser humilde no momento oportuno, assim ele reconhece sua posição limitada diante das circunstâncias. Ele vê "os de cima" em cima e se vê embaixo, porque "os de baixo" estão abaixo. A humildade é a sua bandeira, sua guerra é manter as coisas separadas, os suntuosos e arrogantes confirmam sua posição no tabuleiro e assim ele, humildemente, sabe o seu lugar.

O trabalhador acorda cedinho para a labuta, todos os dias (domingo não), e sabe: "Deus ajuda quem cedo madruga." Oferece assim convicto as melhores horas do seu dia ao trabalho, não importa muito qual, desde que o dia se consuma e no final haja a féria. Desvaloriza aqueles que não acordam tão cedo ou não trabalham tanto assim. Sente-se forte contrapondo sua posição com a dos que trabalham menos e, sempre que a vida se torna um peso, lembra que é um trabalhador exemplar, que quase não tem tempo para outras coisas na vida além do trabalho, e mesmo assim não fez nada de mal, pelo contrário, e isto o alivia, ainda que não remova o tal peso. Dessa maneira o trabalhador molda o seu mundo e ocupa o seu lugar.

Esses são eu.

....

Poderia ainda descrever dez mil parágrafos como estes falando do vaidoso, do louco, do desajustado, do habilidoso, do genioso, do general, do médico, do goleiro, do amador, do caridoso, genial, humorista, idiota, servente, presidente, executivo, vendedor, lixeiro, amoroso, extrovertido, forte, fraco, compenetrado, disperso, etc, etc, etc... Cada qual com o seu mundo, cada qual defendendo seu pequeno lote cercado, sua pequena parcela, seu pequeno quinhão de vida. Que criaram para ele, que ele acredita, cria e mantém. Vivendo na água turva e viciada do aquário, com a água que há tempos retiraram do fluxo incessante de um grande rio sem começo nem fim. Vão viver assim, acreditando num início e num fim que só se enxerga nos limites do aquário. Todos têm em comum a concepção epidérmica extremamente dualista que se define delineando bordas a todo instante entre o seu e os deles, entre o si e o outro. Todos criam e sustentam uma linguagem que mantém seu mundo intacto como uma rocha ou um castelo de cartas. Essa linguagem precisa da confirmação de outros, senão desaparece, perde o sentido. Essa linguagem, que se expressa na fala, nos gestos e nas ações, precisa ver-se refletida nos outros para perpetrar. Então criam associações para se confirmarem mutuamente, aí ganham muito mais força. E fazem algo muito, muito perigoso. Que é incluir os outros em pequenos jogos de ego, ínfimos jogos de malícia e mesquinhez que servem ainda para dar força e aparente coerência aos seus pequenos mundinhos de águas seletas. E aqueles que entram nos jogos de outros, ainda acreditam estarem fazendo os seus próprios jogos e aí não se sabe mais quem começou, não se sabe onde vai terminar, "onde acaba este sofrimento". Fazem isso de boa vontade, quase sempre, fazem porque é assim que acreditam na vida, de outra forma não sabem, não sabem viver. De outra forma encarariam um vazio tremendo, um vazio pavoroso, um vazio de trincar o dentes e ouvir os urros das bestas mais medonhas, de ouvir ecos de gerações e gerações atormentadas por todos os tipos de misérias, como as suas.

Aquele que participa destes mundos, que percebe estes mundos por todos os sentidos do corpo e da mente, aquele que freqüenta estes mundos sem discriminar, sem escolher, sem pegar e sem se apegar é chamado de Bodhisattva, ou "apto ao despertar". Aquele que encara o vazio com tranqüilidade, não vê mais a si, sabe que o vazio é um fluxo incessante sem si próprio, sem princípio, sem fim. Ele não tem medo, porque o mundo dos medos é apenas mais um e, diferente do fluxo incessante que é a existência, em total sincronia com o universo, o medo tem começo e tem fim, começa e termina neste exato momento.

Contudo, mesmo os que acreditam terem fixado seja o que for, seja qual mundo for nesta existência, estes ainda fazem parte do grande fluxo sem nome e sem mundos, que a tudo e a todos banha sem discriminação, sem escolher e sem se apegar. Que banha e conduz as marés e os oceanos verde-azulados, as aves migratórias, o céu inacreditável de tantas estrelas cintilantes, os ventos, os verões e invernos, as rãs, o cheiro de pedra molhada na beira do rio e o sol, entre tantos, tantos seres iluminados.

domingo, julho 19, 2009

União

Sempre que nos encontrarmos será a primeira vez
Temos assim um pacto de oportunidade mútua e imediata
Vejo você pela primeira vez e deixo que me veja pela primeira
vez também a cada reencontro - um pacto de liberdade

Reafirmo este ato de liberdade com todos os objetos
do cotidiano. Que a colher, o telefone, o computador,
a dor, a saudade e a mais pura alegria me vejam pela primeira vez
Você sabe, eles nos dão esta oportunidade.

Sempre que te encontrar será pela última vez
Que nosso encontro seja assim, a cada vez
E aquela história linear e fixa de cada um
e de todos nós tornar-se-á obsoleta, vaga

A vida fica viva, pulsante, presente, inteira.
E tudo isso não é preciso adquirir, nem entender
Isto já está bem aqui, faz parte da realidade em que
habitamos, como disse o Patriarca Zen Daikan Eno, isto é apenas:

Auto-usufruto da Natureza Original

Então sempre que nos encontrarmos será uma descoberta
Quando nos despedirmos se abrirá um novo mundo
Fiquemos assim, na borda da mudança eminente, sempre
façamos este pacto, caminhemos no vazio.




quinta-feira, julho 16, 2009

Comentário ao
Livro 1 - caso 3

Diferentemente do comentário inicial que cheguei a colocar aqui, o que Joshu chamou de "reconhecer a existência", não parece ser exatamente a iluminação, mas sim o estado que nos encontramos quando temos a certeza de que é preciso entrar no caminho da prática do dharma, assim tudo muda de figura, e chegamos a esta conclusão juntos na última reunião do grupo de estudos no Busshinji. Juntos percebemos que a resposta de Nansen é bastante prática, indicando o caminho do Unsui, ou seja, do monge noviço, que entra para um mosteiro (templo).

Um grande pega que tivemos foi a palavra "castrado", esta metáfora pode ser terrível para nós ocidentais, lembra animais ociosos e gordos e limitação radical - fulano se castra muito, cicrano é castrador e por aí vai. Mas o "búfalo castrado" de Nansen é o ser que propõe a si mesmo castrar seu touro interior, digamos assim, e isto significa submeter o ego selvagem a um treinamento, este sim será castrado para que apareça em seu lugar, radiante, o ser original. Sem os impulsos e desejos desenfreados do ego. A tal casa localizada na frente do portal do templo, segundo o Jisho nos contou por experiência própria, é um lugar onde os postulantes a monge, ou a entrar naquele mosteiro específico, ficam por uma semana inteira, sujeitos a um teste severo para serem admitidos ou não, aí precisam baixar a cabeça e submeter-se - um desafio para o touro selvagem. Por fim, a janela aberta para o despertar, uma visão simples e cotidiana na metáfora recorrente para iluminação, a lua.


Veja abaixo o koan ao qual se refere este comentário.

domingo, julho 12, 2009

Shinji Shobogenzo
Mestre Dogen
Livro 1 - Caso 3

Mestre Joshu Jushin do distrito de Jo perguntou ao Mestre Nansen: O que acontece para a pessoa que reconheceu a existência? Para onde ele vai?

Mestre Nansen disse: Ele vai viver numa casa de um templo localizada em frente do portal do templo e se transformará em um búfalo castrado.

Joshu Jushin disse: Mestre, muito obrigado pelos ensinamentos que recebi.

Mestre Nansen disse: A noite passada a meia noite a lua atravessou minha janela.

Comentário do
Mestre Dogen

(sobre o último koan publicado. Veja abaixo: Livro 1 - caso 2)

Este koan é idêntico à estória de Sakra Devanan Indra que perguntou ao Buda, “Como posso proteger quem quer praticar o Darma?” Buda respondeu perguntando, “Você pode ver o Darma que quer proteger? Onde ele está? O desejo de proteger o Darma é como o desejo de proteger o próprio espaço. Os praticantes budistas protegem o Darma e aos outros vivendo na verdade.”

A primeira questão do Mestre Obaku era abstrata. Ele queria saber a melhor maneira de enquadrar intelectualmente o conteúdo dos ensinamentos do seu mestre. A resposta de Hyakujo foi similar ao do Buda, porém mais direta. Mestre Hyakujo respondeu apresentando sua própria prática budista, continuando sentado em zazen.

Mestre Obaku compreendeu a intenção do comportamento do mestre. Ele então fez uma pergunta de uma maneira mais concreta. Como ele poderia transmitir os ensinamentos no futuro para aqueles com quem ele poderia não ter nenhum contato direto. Em resposta Mestre Hyakujo apenas disse que a compreensão de Obaku das ações de seu mestre, ao lado de sua preocupação com os futuros discípulos mostrou que ele era um homem que vivia na realidade.

Mestre Hyakujo ficou satisfeito por Obaku ter mudado de um nível de filosofia abstrata para um nível mais prático e realista de preocupação por seus discípulos e seus descendentes. Ele não tinha dúvida da habilidade do Mestre Obaku de resolver seus problemas.

sexta-feira, julho 10, 2009

Cortar em um


natthi ragasamo aggi natthi dosasamo gaho
natthi mohasamaj jalaj natthi tanhasama nadi

Não há fogo como a paixão (rāga), não há armadilha como a aversão (dosa);
não há rede como a delusão (moha), não há rio como a sede (taṇhā).

Conheça o blog do Seigaku, da sangha de Floripa.

quarta-feira, julho 08, 2009

Shinji Shobogenzo
Mestre Dogen
Livro 1 - Caso 2


Mestre Obaku Ki-un do Monte Obaku do distrito de Ko perguntou ao Mestre Hyakujo Ekai: Quando quiser dividir os ensinamentos que nos deu com os outros, como deverei ensiná-los?

Mestre Hyakujo Ekai apenas permaneceu sentado em seu zafu sem dizer nada.

Obaku Ki-un disse: Como posso ensinar os filhos e netos dos discípulos no futuro?

Mestre Hyakujo disse: O que você disse mostra que você é uma pessoa real.


Apresentado por Kakuho

terça-feira, julho 07, 2009

Estado de atenção

Sim, estou entre poucos.
Entre o "a pouco" e o "daqui a pouco".
Enfim, até o preconceito conta seus dias.