sábado, abril 28, 2007

O budista de livro

Nada mais inóspito do que aquele pseudo budista que se considera o tal após ler livros de budismo. Nada mais vergonhoso e falso. Da mesma forma, que não se torna mágico lendo livros de mágica, piloto de carros lendo livros de Fórmula 1, marxista lendo livros de Marx e nem humorista com a leitura das piadas de papagaio. É preciso prática em todos os exemplos citados. No budismo não é diferente.
Por isso, substituir a prática pela leitura é uma ofensa ao próprio budismo. Alguns nem ao menos sentam-se em zazen, mas como já leram algo, dizem que são entendidos no assunto. Ledo engano. Houve época em que os primeiros interessados no budismo deliciavam-se com a leitura de D.T. Suzuki em obras primorosas como "Introdução ao zen budismo", pela Cultrix. Ao lado deste, década de 60, 70, os outros autores eram o místico Thomas Merton, Allan Watts, depois Phillip Kapleau. Mas superada a leitura, enquanto uns seguiram lendo outros, outros desistiram e outros ainda partiram para a prática do zen. Por isso, não pode ser considerado um praticante aquele que limita-se às leituras dirigidas ou não, esquecendo-se em sentar-se ou ainda diminuindo a sua importância. A estes, podemos considerar um estudioso livresco do zen.
A respeito, o fundador da Soto Zen, Eihei Dogen combateu drasticamente todo intelectualismo existente no Monte Hiei em detrimento à prática. Algumas escolas, não zen, dispensam a prática e enaltecem a devoção, o ritual, os exercícios tântricos. Mas isto não se aplica ao zen. Neste, estudar o zen é dispor-se a sentar-se em zazen. Uma vez por semana, duas, três vezes se possível. Sentar-se em zazen é melhor do que ler todo o Shobogenzo e decorar todos os sutras de Lótus e os Prajnas juntos.
Os que dizem praticar o zen mas não se sentam, seria mais sincero mudar de escola. Afinal, todos são livres em dedicar-se em algum tipo de treinamento: experiência ou teoria, iluminação ou delusão, corpo ou espírito, dia ou morte... Na verdade, toda esta divisão é fruto de nossa produnfa ilusão, pois nada se encontra separado. Para se entender isso, basta sentar-se em zazen. Quem pensa demais, não tem tempo para a prática. Mas quando atuamos conforme o não pensamento, a ação começa a existir. É a ação no tempo do "aqui e agora", é a ação no espaço do "aqui e agora".

Nem melhores, nem piores

Um mito acabou se formando no ocidente a respeito do budismo, por falta de informações, ou porque um discurso edulcorado a respeito dele construiu uma imagem errada. Nas falas e livros escritos pelo Dalai Lama, a compaixão é tema presente muito mais do que a Iluminação e dos malefícios produzidos pela existência do ego. Por outro lado, ainda hoje confunde-se o Zen com a atitude alienada de grande paz interior, isento de raiva e ignorância. Este mito chegou ao ponto de colocar os praticantes do budismo na margem irreal do decurso da história. Seriam portanto, seres acima do padrão de normalidade, vivendo em outras ondas celebrais, retirado nas montanhas e fazendas alternativas. Mas tudo isso não passa de um tremendo engodo, uma grande balela.
Claro que o praticante do budismo leva em consideração valores como o da compaixão, da sabedoria, do desapego, da renúncia. Não se trata de palavras que enfeitam os discursos dos budistas televisivos e da midia impressa. Nada disso. Estamos tratando de condições reais de existência, no qual a compaixão deve ser inventada a cada instante através da experiência. Não existe uma compaixão distanciada da experiência. Se alguém disser que existe, tal colocação é falsa. O mesmo se refere à sabedoria, ao desapego e a renúncia. Assim, aquilo que se chama prática budista é justamente este comportamento de vigilância constante dos próprios ânimos, da atenção permanente. É necessário esforço para que isso realmente ocorra.
Mesmo com tal atitude, nenhum budista ou seu praticante pode ser considerado melhor do que um outro, que professa atitude e comportamentos diferentes. É pior um praticante de budismo pensar desta forma do que um outro pensar assim. Se um outro pensar assim, existe um motivo: desconhecimento. Mas se um budista pensar que ele é especial, então a prática se deteriora e aquele se torna o mais deludido dos homens.
Como parte da cultura universal, o budista é um ser normal, igual a tantos outros, com os mesmo sentimentos. Como vive na sociedade, acaba reproduzindo em seus lares e locais de treinamento o mesmo comportamento dela. Não poderia ser diferente. Nada existe de especial num praticante budista. O diferencial é que ele assume o compromisso de identificar a raiva assim que esta se manifesta e saber de sua inconsistência. O budista treina a mente nestas situações. Alguns treinam mais, outros menos. Não quer dizer, que o budista conseguiu acabar com a própria raiva, a própria ignorância, a própria ira. Não. Por saber de sua existência, ele esforça-se em diminuir a sua manifestação.
A representação do budismo é a da flor de lótus surgindo no meio de um pântano. A sociedade é este pântano, com todas as suas paixões, vícios e preconceitos, mas temos a capacidade de surgir nela como flor maravilhosa.

Nos portais da prática

O que realmente leva uma pessoa a ser um praticante do budismo? Não posso afirmar de maneira generalizada, com uma resposta definitiva, como "só o budismo salva" se nem ao mesmo conseguir definir direito no que consiste a salvação. Neste caso, se o budismo se tornar uma religião salvítica, comum a tantas outras, que depende unicamente de um agente exterior, negará os motivos de lhe deu origem. Quando o monge indiano Bodhidharma encontrava-se no interior de uma caverna, nas cercanias do Mosteiro Shaolin, teria sido importunado pelo neófito anacoreta Eka. Então, Bodhidharma dissuadiu-o a retirar-se. "Vá embora daqui" - desencorajou-o. Entretanto, Bodhidharma continuou insistindo "quero que me ensine". Mas o outro, energicamente aconselhou-o a procurar outros caminhos. Não o budismo. Diante da insistência, Bodhidharma explicou que para treinar budismo era necessário muita disposição, pois do contrário aquilo se tornaria um sofrimento a mais. E disposição tinha Eka ao ponto de, a afim de demonstrá-la, desembainhou sua adaga e decepou o braço esquerdo. Sem nada mais dizer, Eka foi aceito e se tornou no segundo patriarca chinês da linhagem zen budista.
Este modelo foi adotado pelos mosteiros zen de todo o oriente: da China, da Coréia e do Japão. Ainda é assim que acontece quando um noviço pede para adentrar os portões de um mosteiro. "O que você quer aqui?" - grita ameaçadoramente o monge que guarda o portal. Como toda resposta não é suficientemente firme, o noviço fica esperando. Muitas vezes neva e o noviço usa apenas o manto de monge, um sombrero e sandálias de palha. Se quiser desistir, pode se retirar que ninguém irá impedí-lo. Depois que o noviço convence o porteiro a sua disposição em treinar, fica enclausurado por uma semana no quarto isolado - o tangaryo. Neste interím, alguns pedem para ir embora.
Acredito que este princípio deve nortear os diversos centros de prática zen pelo mundo todo. No locam em que treino, ainda é assim. Muitos são os novatos. É quando o monge instrutor dirigindo-se a eles explica: "o budismo não serve para obter poderes sobrenaturais, não cura doenças, não torna ninguém mais rico". Em outra palavras, o budismo não serve para nada. "Mas se ainda assim, desejarem ingressar neste caminho usem a mesma cor negra do manto dos monges e iniciem-se nesta prática" - aconselha ele. Assisti certa vez, um monge dizer que aqueles que desejavam obter vantagens ao praticar o budismo que se retirassem daquela sala. Maneira bastante insólita em se tratando da cultura brasileira. Muito dura. Não obstante, a dureza é importante na medida que mostra a sinceridade da prática, que dispensa franjas e serpentinas. Os que se sentiram ofendidos, maltratados, não voltaram mais. Mas outros, justamente por terem ouvido tais palavras ficaram e desenvolveram uma prática intensiva.
Para que isto ocorra, é necessário sabiamente entender do que se trata o budismo. Não é um budismo de convencimento através de argumentos persuasivos, como acontece com as pregações. Nunca a palavra será o suficiente para dizer a verdade. Nunca a palavra poderá substituir a experiência. E nem a fé é tão importante quanto a experiência
Neste processo de negação, de início, o praticante iniciante deve ir lapidando o seu próprio ego, reconhecendo nele a raiz do sofrimento e de toda ignorância. Não importa quem seja o iniciante: advogado, engenheiro, arquiteto, filósofo, cozinheira ou quem quer que seja. Todos são iguais, sem distinção. Quer dizer, nada sabem. Com este espírito, o de nada saber, iniciam a prática. Iniciam como fosse a primeira vez, com a inocência no coração e o sorriso nos lábios. Quem se apresentar de maneira diferente, como a de ensinar ao invés de aprender, de mandar ao invés de obedecer, de falar ao invés de calar, de levantar-se ao invés de sentar-se, não serve para a prática. Se praticar, será o praticante falso. E praticantes falsos devem existir aos montes espalhados nas esferas do Dharma. Estão iludidos... E justamente estes, que deveriam ser cortados logo no início.

quinta-feira, abril 26, 2007

Seja amável consigo mesmo

"Tosan Ryokai alcançou a iluminação várias vezes. Certa vez quando estava cruzando um rio, ele se viu refletido na água e compôs um verso: Não tente descobrir quem você é. Se tentar descobrir quem você é, o que compreender, estará bem distante de você.Você só terá uma imagem de si mesmo.Na verdade, você está no rio.Pode-se dizer que aquilo é apenas uma sombra ou um reflexo de si mesmo, mas se você olhar cuidadosamente com um sentimento afetuoso aquele é você. "

Shunryu Suzuki - Nem Sempre é Assim: Praticando o Verdadeiro Espírito Zen.

terça-feira, abril 24, 2007

"Considera que a flor mais delicada, mais depressa fenece e perde o perfume: guarda-te, portanto, de querer caminhar pelo espírito de sabor, porque não serás constante; mas escolhe para ti um espírito forte, não apegado a coisa alguma, e encontrarás doçura e paz em abundância; porque a fruta mais saborosa e duradoura colhe-se em terra fria e seca."

São João da Cruz - Obras Completas

sábado, abril 21, 2007

Perplexidades

a parte mais efêmera
de mim
é esta consciência de que existo

e todo o existir consiste nisto

é estranho!
e mais estranho
ainda
me é sabê-lo
e saber
que esta consciência dura menos
que um fio de cabelo

e mais estranho ainda
que sabê-lo
é que
enquanto dura me é dado
o infinito universo constelado
de quatrilhões e quatrilhões de estrelas
sendo que umas poucas delas
posso vê-las
fulgindo no presente do passado

(Ferreira Gullar)

sexta-feira, abril 20, 2007

Uma foto de casa


Desta vez, olhando para o interior do nosso sistema solar. Esta foto foi tirada pela sonda Voyager 1, a primeira sonda humana a sair do limite do sistema solar, a 6.4 bilhões de quilômetros da Terra - muito além do ex-planeta Plutão. No lado direito, um pouco abaixo do centro, suspensa num raio de luz - efeito ótico nas lentes fotográficas - está a Terra, um "pálido ponto azul".

"Pálido Ponto Azul" é o nome de um livro do astrônomo Carl Sagan, famoso pela série de TV "Cosmos".

Aqui


Imagem de infravermelho do telescópio da Nasa mostra região em que está se formando uma estrela na constelação de Monoceros, que fica a cerca de 5 mil anos-luz da Terra.

quinta-feira, abril 19, 2007

História sem importância

Quando ainda era verão e os torós de dezembro lavavam a cidade, um homem pulou o muro da casa da esquina e abrigou-se na varanda dos fundos. A modesta casa já estava fechada há meses, pois seus moradores, velhinhos, passavam uma temporada com os filhos, no interior. Terminada a chuvarada, o homem permaneceu ali. Acomodou seus trecos num saco de pano no canto, estendeu um cobertor no chão e passou a habitar aquele pedaço da casa. Usava apenas o chão, o telhado do alpendre e a água do tanque.
Dos prédios de apartamento vizinhos, os moradores observavam sua discreta figura. Dia após dia, acompanhavam seus movimentos, o entra e sai sutil, pela fresta do portão, a pouca roupa lavada no tanque e o despertar cedinho, junto com o sol. Mas no domingo, como acordam mais tarde, já encontravam o alpendre vazio. Foi com essa rotina que todos se acostumaram.
Assim se passou a virada do ano. Entre foguetes e comilanças, um ou outro ia à varanda e constatava a discreta presença no quintal escuro da casa. Também se foram janeiro e fevereiro. No aguaceiro de março, nas tardes em que o céu desabava, ele já estava recolhido e passava longas horas observando a chuva cair no mato que crescia no quintal. Nesses dias, enquanto as imagens dos congestionamentos passavam na tv e as luzes dos apartamentos se acendiam mais cedo, lá do alto dos prédios os moradores ficavam aliviados ao ver a luzinha fraca da brasa de seu cigarro: ele havia se abrigado a tempo!
Abril trouxe um azul diferente no céu e um vento fresco, às vezes frio. Talvez por isso, talvez por motivos que não se podem descobrir, numa manhã de sábado o homem acordou, foi até o fundo do quintal, apanhou uma barra de ferro e começou a forçar a janela dos fundos.
Quase imediatamente a rua ficou repleta de carros de polícia, com luzes girando, guardas armados e a vizinhança toda agitada nas calçadas. Alguém dos prédios havia dado o alarme.
O homem foi recolhido, enfiado num camburão e levado embora.
Os moradores ainda se agitaram por algum tempo na rua, contando suas versões, impressões e imaginações.
De repente aquele azul profundo de abril no céu, um ventinho frio, e todos se calaram.
Voltaram para suas casas e apartamentos mudos, a cabeça baixa, saudosos como se tivessem perdido um vizinho.

No Shodoka está escrito assim:

Uma única natureza
contém todas as naturezas;
uma única existência
contém totalmente todas as existências.
Uma única Lua
se reflete em todas as águas;
todos os reflexos
da Lua na água
provêm de uma única Lua.

O ser radical da prática

Numa recente divulgação do número de budistas existentes no Brasil, segundo levantamento de Frank Usarki, do Departamento de Ciências da Religião, PUCSP, houve um decréscimo. Não sabemos que critério ele usou para esta afirmação. No entanto, não podemos dizer que esteja totalmente incorreta. Diferente de outras tradições religiosas, como as cristãs e suas vertentes modernas, dificilmente poderia se mensurar este dado de maneira científica. Se por um lado, o fenômeno evangélico, por exemplo, poderia ser medido pela quantidade de freqüentadores de seus templos e convertidos, o mesmo não se daria no caso de budismo. Será que existe algo como conversão em budismo?
Se uma pesquisa for realizada durante a visita do Dalai Lama ao país, possivelmente muitos diriam ser budistas sem ao menos ter freqüentado algumas destas escolas. Pelo fato de ter lido um livro do Dalai Lama, de Shunryu Suzuki ou Taisen Deshimaru, entusiasmados pela deleite proporcionado, diriam sem pestanejar: "sou budista". Esta afirmação é bastante ambígua: não diz nada. Podemos pensar, neste caso, que ser budista é um dos passatempos acolhidos de maneira simpática, ao lado da comida macrobiótica, das aulas de yoga, do treino de kendô, da massagem shiatsu, do movimento pelo verde, da alienação social e política, da preguiça intelectual e tantos outros adjetivos.
Talvez existe no Brasil muito mais simpatizantes do budismo do que realmente praticantes deste Caminho. Para os que não comprometidos nesta maneira de viver, como a mesma firmeza que dizem "sou budista", podem afirmar o contrário, "não sou". Assim, há budistas de múltiplas cores: os lights, os descomprometidos, os seguidores da moda, o budista ecológico, o budista abstrato, o budista idealizado, o budista acima das paixões do mundo, o budista ecumênico (que freqüenta todas), o budista vaidoso, o individualista...
Quando uso o termo radical, refere-se a maneira pensada por Paulo Freyre. Ser radical é estar presente nas raízes. E nada é mais radical do que o Buda Shakyamuni. A radicalidade como eu concebo é a da verdade, acima de tudo. Nada tem a ver com o fundamentalismo religioso. Tem a ver com a maneira como se pratica o Caminho. Ao invés de preocupar-se com a vaidade alheia, torne a própria vaidade menor. Ao invés de falar do ego dos outros, trate de destruir o próprio ego. Fale menos e sente-se mais em zazen. Se algum rancor ainda estiver presente em minha mente, acuse menos o outro por se sentir daquela forma. Enfim, exercite-se radicalmente em destruir da mente as ervas daninhas da ignorância, do apego, da raiva. Estes são conhecidos por três venenos.
Esta radicalidade ao ser levada para o nosso cotidiano, quer dizer que devemos manter a mente atenta todo o tempo. Ainda que a mente desligue-se, por alguns instantes, o propósito é mantê-la alerta. Se a prática budista requer que a mente fique alerta, isso deve acontecer todo o instante, e não só durante a prática no templo. A realidade além dos portões do templo deve ser respeitada, afinal é nela que vivemos. Como representa o próprio budismo, ao fazer uma analogia com a flor de lótus, que nasce no pântano. Somos esta flor de lótus que mergulhada no pântano, resiste em surgir. Pois bem, o campo da prática se realiza radicalmente no cotidiano ao lado de amigos e inimigos, de simpáticos e antipáticos, de bonitos e feios, de sábios e loucos. Mas enquanto a minha mente discriminar através de uma seleção egoísta, visando tirar vantagens, colocando-nos como juízes das contradições de vida, posso dizer sem engano a minha prática não passa de uma brincadeira. Não se trata de uma prática radical.
Deixo claro também que o ser radical não se confunde com fanático. O fanático é alguém totalmente iludido, sem iniciativas, nenhum entendimento, nem dissernimento. Lembramos que Buda em sua maior radicalidade pregou a renúncia. Estamos preparados para isso? Será que podemos renunciar ao nosso orgulho, quando alguém ofende-nos moralmente? Ou será a reação uma atitude humana? Em defesa de nossa honra, podemos agredir alguém?
A radicalidade da prática é quando questões, de nossa própria vida, são novamente avaliadas não do ponto de vista da moral, da justica, dos valores humanos, mas da prática budista. Quando outras categorias sobrepõem o entendimento a partir da prática budista, então toda prática desenvolvida até então se torna nula. Para quê serviu a prática? Ou não teria sido uma prática radical? Uma prática que pudesse ir além do pensamento racional, além da dualidade, além de toda ilusão e dos conceitos? Se isso não ocorreu, tal prática não se realizou simplesmente.
Se levarmos em consideração a quantidade de praticantes radicais do budismo, possivelmente é pequena. Não vale a pena contabilizar. Para os que envergam o manto de Buda, deverá usá-lo todo o tempo, nas mais diversas circunstâncias. Se isso não vier a acontecer, a prática é pseudoprática, um faz de conta. Faz de conta que eu pratico e outros fingem me olhar que eu esteja praticando. Se forma-se um simulacro, um engano...

domingo, abril 15, 2007

"Olhar, admirar
folhas verdes, folhas nascendo
entre a luz solar."

Matsuo Bashô - Sendas de Oku.

sexta-feira, abril 13, 2007


Este é o zendô da Sangha de Florianópolis realizando atividades para crianças. Segundo Sodô - de pé com uma bandeja nas mãos - as crianças realizaram 10 min. de zazen. Participaram de uma cerimônia onde ofereceram incenso e tocaram o mukugyo e o inkin. Assistiram uma palestra com o monge Genshô onde fizeram perguntas. Fizeram uma caminhada no parque e um almoço com oriok (foto). Segundo Sodô: "O interessante é que não tiveram nenhuma instrução antes, fizeram maravilhosamente bem. Melhor que muitos praticantes adultos."

Aquela "criança enorme" ali à direita é o Joshin, que ajudou durante a refeição. Sobre este momento Sodô disse: "Não foi necessário explicar muito, pois eles olhavam tudo com muita atenção e procuravam imitá-lo (eles o adoram...assim como nós)."

quinta-feira, abril 12, 2007

Sob árvores ou por sobre rochas elevadas

"Quando o Buda estava vivo, ele apenas discursava sobre o Darma. Ele nunca ensinou sutras, ou deu mantras especiais, ou ensinou sobre recitar o seu nome. As pessoas ouviam suas falas e então retornavam às suas casas para meditar. Elas podiam sentar em meditação sob árvores ou por sobre rochas elevadas. A coisa mais importante que caracterizava a sua prática era que simplesmente elas olhavam internamente, muito profundamente dentro, para encontrar a sua verdadeira natureza. Foi assim que os primeiros alunos do Buda realizaram seu ensinamento, preservaram-no e o passaram para nós. Foi assim que eles realizaram sua própria natureza e verdade. Foi assim que eles realizaram o caminho correto e a vida correta. Além disso, o caminho da meditação foi o caminho que o próprio Buda trilhou até alcançar a iluminação. Logo, se quiser praticar o budismo, então você nunca deveria se apegar a qualquer discurso ou palavras. Não se apegue a nenhuma técnica. Esta é a primeira conduta dentro dos ensinamentos do Buda."

Mestre Zen Seung Sahn em A Bússola do Zen. p. 285.

quarta-feira, abril 11, 2007

Crer na essência do mestre

Os sutras relatam: "Não sou perfeito, nem completo.Não é possível ser perfeito.O discípulo deve acreditar na essência do mestre, naquilo que o mestre procura."

Taisen Deschimaru

quinta-feira, abril 05, 2007

Quando tornar a vir a Primavera

Quando tornar a vir a primavera
Talvez já não me encontre no mundo.
Gostava agora de poder julgar que a Primavera é gente
Para poder supor que ela choraria,
Vendo que perdera o seu único amigo.
Mas a primavera nem sequer é uma cousa:
É uma maneira de dizer,
Nem mesmo as flores tornam, ou as folhas verdes.
Há novas flores, novas folhas verdes.
Há outros dias suaves.
Nada torna, nada se repete, porque tudo é real.

Alberto Caeiro - Fernando Pessoa.Obras Completas.

terça-feira, abril 03, 2007

Hanamatsuri em Curitiba

No último sábado, dia 31, comemorou-se em Curitiba o Hana Matsuri, a Festa das Flores, que celebra o nascimento de Buda Shakiamuni.

Conta a lenda que no momento do nascimento de Sidharta uma chuva de pétalas se derramou no Jardim de Lumbini, onde o pequeno veio à luz.

Num lindo dia de sol a Praça do Japão estava enfeitada de fitas coloridas. Nos pequenos lagos, flores de lótus confeccionadas pelos participantes da festa boiavam na água.

Ao meio dia a praça já estava cheia, com as barraquinhas de comida recebendo um grande público.

A música se espalhava pelos gramados, onde uma divertida e fantasiada juventude dançava, reproduzindo coreografias. Garotos e garotas trajando roupas de personagens de desenhos animados, lutadores de artes marciais e todo tipo de alegoria animavam a festa com suas brincadeiras.
Aqui e ali viam-se famílias inteiras passeando pela praça e aproveitando o sol no gramado.

Às 13:30 iniciou-se o cortejo, em que o elefante branco desfilou ao redor da praça, levando em seu dorso o altar com a imagem de Buda menino, decorada com inúmeras flores coloridas.

Essa tradição remonta à lenda que narra o nascimento de Buda Shakiamuni. Sua mãe, antes de seu nascimento, sonhou com um elefante branco, sinal de que o menino que estava para chegar era um ser iluminado.

Adiante, seguiam as crianças, anunciando a novidade, devidamente vestidas e enfeitadas, para alegria e deleite dos orgulhosos papais e mamães. Em seguida, monges de várias tradições do budismo lançavam ao público pétalas de papel colorido, com votos de felicidade, harmonia, paz.

Quando a procissão terminou a volta em torno da praça, os monges subiram ao altar para a cerimônia religiosa de abertura dos festejos.

Representantes de divseras tradições ali se encontravam: Soto Zen, Jodoshu Nippakuji, Nyorenji HBS, Higashi Hongaju, Konkokyo e Dordje Ling, esta última pertencente à linhagem do budismo tibetano.

Representando a Soto Zen, participaram o Monge Kendo, responsável pelo Centro Zen de Curitiba, e o Monge Koun, ligado ao Templo Busshinji, de São Paulo.
A cada ano a organização do evento faz um rodízio entre as diversas atribuições da cerimônia. Na edição deste ano, o oficiante foi o Lama Ieshe, da tradição Dordje Ling.

Após se posicionarem no altar, um a um, cada monge se dirigiu ao altar, ofereceu insenso e banhou com chá adocicado a imagem de Buda menino.
Essa tradição remonta à lenda que conta que, assim que Sidharta nasceu, dragões surgiram no céu e fizeram chover néctar sobre toda a Terra.
Neste momento, especialmente emocionante, cada monge seguiu a forma de sua tradição, reverenciando e prostrando-se diante de Buda conforme sua linhagem.
Os monges da Soto Zen, após oferecerem insenso, realizaram o sanpai, as três prostrações diante de Buda.

Em seguida recitou-se o Tiçarana – as três jóias, em páli – e entoou-se em coro o Maka Hannya Haramita Shingyo.

Após a leitura do sutra, o monge oficiante dirigiu-se ao público, que acompanhava atentamente a cerimônia, saudando-o e convidando-o a celebrar essa data tão especial.

Em seguida o preletor, o Monge Kendo, falou aos presentes, narrando o momento do nascimento de Shakiamuni e esclarecendo aos ouvintes a importância de preservarmos a vida em todas as suas formas, como uma dádiva que recebemos e que devemos respeitar profundamente.
Seguiram-se à fala dos monges breves discursos das autoridades ali presentes.
Encerrada a cerimônia, a festa prosseguiu, alegre e animada, até a noite, momento em que uma linda lua redonda e branca surgiu no céu de Curitiba.
A todo instante pessoas abordavam os monges, tirando dúvidas sobre o budismo e buscando informações sobre a prática, locais e horários.

Ao vermos todas as pessoas reunidas ali, naquele momento e local, muitas sem saber ao menos do que se tratava a festa, outras bastante envolvidas com a data que se comemorava, entendemos o real significado do “coração de Buda”, que, sem forma, a todos envolve.

Comendo, bebendo, rindo, conversando, se divertindo, dançando, rezando, todos formam o corpo vivo de Buda, aquele corpo que é capaz de espalhar compaixão e sabedoria por todas as direções.



lua sobre a praça
o nascimento de Buda
a todos ilumina













segunda-feira, abril 02, 2007

Despertar

"A confusão condiciona a atividade,
que condiciona o pensamento,
que condiciona a personalidade corporificada,
que condiciona a experiência dos sentidos,
que condiciona o contato,
que condiciona o estado de ânimo,
que condiciona o desejo,
que condiciona o apego,
que condiciona a transformação,
que condiciona o nascimento,
que condiciona o envelhecimento e a morte."

O Buda


Talvez possamos fazer o caminho inverso:

A morte e o envelhecimento liberam o nascimento,
que libera a transformação,
que libera o apego,
que libera o desejo,
(assim em diante)

domingo, abril 01, 2007

Solidão


"É delicioso o entardecer,quando o corpo inteiro é um só sentido e aspira deleite através de cada poro.Com estranha liberdade, vou e volto pela Natureza, da qual sou parte integrante."
Walden ou A Vida nos Bosques - Henry D. Thoreau.