domingo, agosto 30, 2009

Imperdível



Em cartaz, último filme do cineasta dinamarquês, Enfant Terrible do cinema atual, Lars Von Trier. Um filme altamente simbólico, lida diretamente no campo do inconsciente revelando mitos como Eros e Thanatos, sexo e morte, bem e mal. Também uma Obra de Arte cinematográfica. O Filme contém cenas de sexo e violência fortes, não é aconselhável para pessoas muito sensíveis.

- Fala-se em lidar com o inconsciente e seus signos nos sonhos. Mas, não seria o inconsciente individual o mesmo que o chamado inconsciente coletivo? Como no budismo, onde não há porquê falar em carma individual. Não seria possível lidar diretamente, de forma individual, com este inconsciente (carmas)? No dia-a-dia, e de olhos bem abertos? Não é isto o que acaba acontecendo a quem pratica o Zen?

Assim percebe-se a sociedade humana hiper-simbólica e voltada para dentro, rodando em torno de si mesma, de seus próprios mitos. Assustada com a natureza, sua própria natureza.

sexta-feira, agosto 28, 2009

CASO 3-1
BODHIDHARMA / TAISO EKA


Bodhidharma, um pouco antes de sua morte reuniu seus discípulos e disse:
- Minha hora está chegando, gostaria que vocês expressassem o que aprenderam.
O discípulo Dofuku disse:
- Gostaria de expressar que não me tornei apegado às palavras, mas ao mesmo tempo não as ignoro. Eu pratico o estado de verdade.
O Mestre disse:
- Você pegou minha pele.
A monja Soji disse:
- O que compreendi se assemelha ao Mestre Ananda que olhou para o país do Buda Ashiku uma vez, mas nunca mais olhou para ele.
O Mestre disse:
- Você pegou minha carne.
Doiko disse:
- Os quatro elementos (terra, água, fogo e vento) são originalmente como se não fossem nada (isto é, vazio), e os cinco agregados (matéria, sensação, percepção, ação consciência) não têm existência real. Portanto meu ponto de vista não tem uma entidade fixa.
O Mestre disse:
- Você pegou meus ossos.
Finalmente, Mestre Taiso Eka parou em sua frente, fez uma prostração e permaneceu em seu lugar.
O Mestre disse:
- Você pegou minha medula.
Então o Mestre transmitiu o Dharma e deu os mantos ritualísticos à seus discípulos.

quarta-feira, agosto 26, 2009

Sesshin em Enkoji


Ocorrerá mais um retiro (Sesshin), do dia 5 (sexta-feira) ao dia 7 (segunda-feira) de Setembro de 2009, no templo Enkoji, em Itapecerica da Serra.

A programação envolve sessões de zazen, palestras, trabalhos manuais, refeições vegetarianas, exercícios ao ar livre e outras atividades, numa programação mais leve, voltada para as pessoas que não estão acostumadas à prática, porém envolvente e dinâmica.

Inscrições até 29 de agosto.

Mais informações pelo telefone (11) 4667-5345 ou pelo endereço: temploenkoji@gmail.com

domingo, agosto 23, 2009

O Zen e o Banho Natural




Em primeiro lugar, o que é um banho natural? O banho natural é aquele que acompanha as estações do ano e que está em total sincronia com o tempo atual, o tempo no momento em que o tomamos. Explico melhor. O banho natural é mais conhecido como banho frio, e que não é frio apenas, como veremos, ou seja, Banho Natural é quando desligamos a resistência do chuveiro, simplesmente. Esta é uma prática Zen, por vários motivos, veja só a seguir.

O Banho Natural, segundo pesquisa rápida na internet: "promove o bem-estar 'exigindo' do organismo uma formidável reação. Isso acontece porque o choque de temperatura produz endorfinas, vaso constrição, ativa o metabolismo e o funcionamento de todos os órgãos. Privilegia o cérebro (e não só como veremos) deixa o corpo mais acordado e lúcido, pronto para a ação." * A endorfina é um neuro-hormônio que, quando liberado no organismo provoca a sensação de bem-estar tendo também a qualidade sedativa, é produzido pelo próprio organismo, pela hipófise. Segundo pesquisas seus principais efeitos são: melhoria da memória, bom-humor, resistência, aumento da disposição física e mental, melhoria do sistema imunológico, bloqueio de lesões em vasos sanguíneos e tem ainda efeito anti-envelhecimento, removendo os famosos radicais livres. Isso quer dizer que podemos curar a nós mesmos através de nós mesmos, com um simples estímulo. Como no Zazen, tudo o que precisamos já está aqui, desde sempre, requer apenas uma ação decidida na direção correta. Bem, no caso, o Banho Natural é bem mais "fácil", digamos, que o Zazen, quer dizer, basta abrir a torneira do chuveiro desligado e dar um pequeno passo em sua direção, só. Um pequeno gesto que para muitos parecerá ser o resultado de quilômetros de coragem e disposição, que eles imaginam jamais possuírem.

Veja, o banho morno ou quente tem suas propriedades também, são sobretudo relaxantes, tonificantes e ajudam a eliminar toxinas do organismo mas aqui entra uma característica do Banho Natural, ou Banho Zen, que é o sincronismo com a natureza. Quando a água não passa pela resistência elétrica do chuveiro, ela é aquecida ou resfriada pelo universo, aqui representado pelo nosso singular planeta, que se manifesta em marés, ventos, correntes e outras belas e fortes entidades do tipo, que por sua vez correspondem a uma ordem muito mais ampla. Se estamos no inverno a água fica mesmo gelada, parece queimar a pele às vezes, se a temperatura ambiente está mais amena a água fica apenas fria, se estamos no auge do verão, a água do chuveiro desligado pode ficar tépida. Tudo isso sentimos e constatamos com toda a extensão do nosso corpo, nervos, poros, pelos, pele, entre outras entidades vizinhas conectadas em rede, por onde passamos e tomamos existência e, consciência. Assim, o Banho Zen é harmonizar o corpo, que não exclui a mente, com todo o universo. Se está muito frio, como agora (10ºc), a água fica geladíssima, e aí parece uma contradição, "justo agora que está tão frio tomaremos uma banho gelado?" Pois é, estamos falando de sincronia, de harmonia e de, um pouco de coragem e atitude, pois sem isso não se caminha.

Quando a água está gelada num dia gélido, saímos do banho com o corpo aquecido, quer dizer, a temperatura do corpo fica ligeiramente inferior à do ar e por instantes não sentimos frio nenhum. Se esta ação se transforma em nosso cotidiano, aos poucos o corpo vai sentindo menos frio e menos necessidade de agasalhos, vai ficando mais resistente às doenças por estar mais próximo da natureza e do mundo como ele é. Se é um dia quente de verão, a água fria refresca, fazendo o mesmo efeito no corpo.

Os Haikais, forma de poesia Zen, usam apenas temas ligados às estações do ano, de forma sintética, descritiva e simples. O Banho Natural, possui a mesma poética, digamos, a poética do momento presente, porquê ao entrar debaixo da ducha natural não sobra espaço para nenhum tipo de pensamento, é quase impossível pensar em o que quer que seja, só existe aquele momento, aquele instante. Somos UM com todo o universo que se manifesta agora no giro do planeta em torno de si e em torno de uma estrela, e tudo isso está naquele banho.

Ao tomar o Banho Zen, é preciso lembrar de alguns detalhes importantes, é preciso deixar a água fria bater em todo o corpo mas, sobretudo, em três pontos cardeais, a saber: a cabeça, o baixo ventre (o centro do corpo, porção irrigadíssima que corresponde a um Chakra e ponto pelo qual se respira durante o zazen - fica a quatro dedos abaixo do umbigo) e, finalmente, toda a extensão da coluna vertebral que, como continuação do cérebro comunica com todo o corpo, esta mesma coluna que durante o zazen mantemos erguida e equilibrada.

Diferente do banho quente que relaxa e prepara o sono, o Banho Natural Desperta, acorda, nos torna alertas, e é disso que nós budistas somos feitos, dessa matéria que desperta incessantemente, esta é a nossa religião.

* Pessoas com problemas cardíacos precisam se aconselhar com um médico.

sábado, agosto 22, 2009

CASO 2-74
ANANDA / MAHAKASYAPA



Certo dia Buda Gautama instruía o Mestre Ananda e disse:
- Daqui a pouco é hora da refeição. Você deve ir até a cidade e encher a tigela.
Mestre Ananda concordou com o Buda Gautama.
Buda Gautama disse:
- Quando estiver com a tigela você deve contar com o comportamento dos Sete Budas do passado.
Mestre Ananda perguntou:
- Qual é o comportamento dos Sete Budas do passado?
Buda Gautama gritou:
- Ananda!
Ananda respondeu:
- Sim?
Buda Gautama disse:
- Pegue a tigela imediatamente.

sexta-feira, agosto 21, 2009



"O que eu sou hoje (e a casa dos que me amarram treme através das minhas lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É eu estar sobrevivente a mim mesmo como um fósforo frio..."

Álvaro de Campos, ou, Fernando Pessoa

...

"Onde, agora? Quando, agora? Quem, agora?

Samuel Beckett

sexta-feira, agosto 14, 2009

CASO 2-70
ANANDA / BUDA
O Bom Cavalo

Certo dia um não budista falou para o Buda: não estou pedindo palavras, não estou pedindo por não palavras. Buda Gautama apenas continuou sentado. O não budista o elogiou dizendo: A grande benevolência e a grande compaixão do Buda Gautama abriram as nuvens da ignorância e me possibilitaram conhecer a verdade. Então se prostrou diante do Buda e saiu.

Em seguida Mestre Ananda perguntou ao Buda: Que tipo de verdade o não budista realizou quando te elogiou?

Buda Gautama disse: É como o bom cavalo que apenas ao ver a sombra do chicote já sai correndo.

Comentário ao Koan
CASO 2-69
ANANDA / MAHAKASYAPA

Mestre Ananda perguntou o que tinha sido transmitido pelo Buda Gautama que tivesse sido diferente do manto dourado do Buda. Mestre Mahakasyapa simplesmente chamou Ananda que deve ter respondido, “sim.” O chamado do Mestre Mahakasyapa e a resposta da Ananda fazem parte de uma conversa típica da vida diária dos seres humanos.

A intenção do Mestre Mahakasyapa foi de mostrar que aquilo que recebeu do Mestre Gautama foi exatamente o comportamento natural da vida do dia a dia. Para enfatizar isto mais profundamente, Mestre Mahakasyapa pediu ao Mestre Ananda que descesse a bandeira do mastro da frente do templo, talvez um trabalho que estivesse sendo esperado para ser feito.

...

Koan publicado em postagem logo abaixo.

quarta-feira, agosto 12, 2009

Zazen no hospital


Sala de meditação do Hospital do Servidor Público Municipal

Sessões de Zazen 2ªs, das 7:00 às 9:00,
e 3ªs das 7:00 às 10:00.

O hospital fica na estação Vergueiro do Metrô
e a sala de meditação é no 9º andar.

A prática é aberta ao público em geral.

sexta-feira, agosto 07, 2009

CASO 2-69
ANANDA / MAHAKASYAPA
Descendo a Bandeira



O Segundo Patriarca, Mestre Ananda, perguntou ao Mestre Mahakasyapa:
- Respeitoso irmão estudante, que tipo de coisas concretas você recebeu que seja diferente do manto de ouro de Gautama Buda?
Mestre Mahakasyapa chamou-o e disse:
- Ananda. - Ananda olhou para ele.
Mestre Mahakasyapa disse:
- Por favor, desça a bandeira do mastro da frente do templo.
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Koan

segunda-feira, agosto 03, 2009

Atenção-plena



Repara na quantidade de braços e faces. Veja os detalhes: as mãos, objetos, olhar, corpo. Assim viu o artista a compaixão (dentro da concepção budista). Como numa imagem congelada de cinema, o Avatar olha nas 10 direções e com milhares de braços ajuda a todos os seres.

Clique na imagem para ampliar

Como seria a ação de uma mente não-condicionada, ou muito menos condicionada? A que exatamente se prende (?) a atenção de um Bodhisattva? Como ele lida com os acontecimentos do dia-a-dia?

Lembre-se que isto é apenas uma representação, uma interpretação de algo que não possui forma, ou que está além da forma, mas que mesmo assim é extremamente acessível.