sexta-feira, junho 29, 2007
Ajuda Social
Aos membros da sangha local, continuem doando leite em pó para a Cruz Verde. Se puderem roupas usadas para o Hospital do Servidor Público de São Paulo. Muitos pacientes do Servidor, pessoas de parcos recursos, alguns moradores de rua, não impedidos de receber baixa porque não dispôem mais das roupas. Por favor, ajudem-nos nesta campanha.
Também passamos a receber a doação de preservativos, que encaminharemos para as moças da rua Augusta. O problema da saúde pública também é um assunto que nos aflige.
Enquanto praticantes da verdade, não precisamos levantar nenhuma bandeira política. Façamos um pouco daquilo que aprendemos de Buda, dos patriarcas e de nossos mestres e professores.
quinta-feira, junho 28, 2007
Viver, praticar...
Faz silêncio lá fora.Pássaros cantam.Cantam lá fora e aqui dentro, no zendô.Somos treinados no zen a ouvir os sons sem indagar -que pássaro canta?sem julgar -é bom, é ruim, sem cogitar -que lindo!Monge Genshõ, nosso professor, nos falou sobre esse tema num sesshin.O tema do pássaro, desde então, tornou-se para mim uma ponte que me auxilia a transpor as armadilhas da mente.Como fazemos?Apenas ouvimos e acompanhamos os sons.Ao seguirmos o som do pássaro cantando, nos tornamos, ainda que por instantes, o próprio pássaro.Cantando com o pássaro somos o pássaro, e isto é tudo; nos desprendemos dos ruídos que vêm da rua.Nos livramos dos corredores apertados de nossas mentes, que insistem em indagar, cogitar, julgar e pensar.Se nos perdemos do som, se nos apartamos do pássaro, recomeçamos outra vez.Uns vivem e praticam mais intensamente, outros menos.Não importa.Nós mesmos de um dia para outro, somos diferentes.Avaliar ou comparar são preocupações que nos ocupam inutilmente.Apenas devemos sentar em zazen e nos esforçar em não perder tempo.Praticar com disciplina e regularidade, sem pretensões.Praticar com uma mente que peregrina sem pretensões no zafu e na vida.E a este ponto sempre retornar, em treinamento contínuo.Nosso único compromisso, como nos ensina Jisho san, é com a verdade.Se não praticamos com esse espírito, mentimos para nós mesmos.Que proveito haveria, se não fosse isso?nenhum, por certo.Se praticamos com espírito comprometido com a verdade, nossa prática é sincera e dela brotam naturalmente energias e forças restauradoras.Nossas vidas tornam-se mais simples.Quase sem sentir, vamos penetrando mais fundo e rasgando as camadas dos véus que encobrem as nossas mentes, nossas mãos, nossas palavras, nossos gestos.A vida começa a se revelar...
quarta-feira, junho 27, 2007
Praticando a renúncia
Se o zazen não for o centro de nossa atuação nesta vida curta, para quê, afinal, vivemos. Se não entendemos o sentido da vida. Fazendo zazen fazemos todo o resto como pintura, dança, teatro, ginástica, leitura e produção de textos. Como podemos andar numa carroça isento de eixo e rodas. É mesmo que alguém que faz de tudo mas não sai do lugar, porque não existe o entendimento. O entendimento chega a partir do momento que o eu percebe o próprio "eu" mas não consegue agarrá-lo. Enquanto a renúncia não fizer parte de nossa vida, continuamos iludidos e brincamos de praticar budismo, de sentar-se em zazen. Sem renúncia, não se pratica budismo. E dentre as nossas possíveis renúncias, qual é a que podemos realizar neste momento? Renunciar a acumular coisas é mais fácil do que a renúncia ao nosso orgulho, nosso egoísmo, nossa ignorância. Inclusive, vivemos apegados à própria ignorância. Neste momento, existo somente em função da existência de minha ignorância. Seria cômico se não fosse trágico. Temos medo de renunciar às coisas mais banais de nossa existência como a idéias preconcebidas, a idéias condicionadas, a representações abstratas. Tudo isso são fantasmas, sem consistência. Mas não renunciamos. Nem renunciamos à nossa cara feia de palhaço, pintado com cinismo e sarcasmo. E assim, queremos ter uma cara. Uma cara que não queremos abandonar.
Não podemos falar apenas da renúncia do Bagavat, mas a nossa própria. Ao realizá-la, abrimos caminho para a extinção do sofrimento. Alguns querem continuar sofrendo para manter o apego. Assim, um absurdo do ponto de vista da prática, mas é o que acontece. Sem fazer zazen, não se pode entender o que significam estas palavras...
terça-feira, junho 26, 2007
Soto em português
Talvez já conheçam, eu não conhecia esta versão do site oficial da Sotozen em português. Acesse: http://global.sotozen-net.or.jp/por/
Barba, cabelo e massagem
sábado, junho 23, 2007
Esqueçamo-nos do despertar
Esqueçamo-nos, porém, do despertar. Por mais ubíquo, transcultural, interreligioso, possível que seja este despertar, esqueçamo-nos dele, completamente. Nem sequer esquecemos: simplesmente sentemos em shikantaza sem segredos, ilimitado.
Talvez nos levantemos, e carregaremos ou não a esperança do despertar.
Que cara usarei agora
Dentro deste raciocínio, alguém diz "sou desta forma e não daquele". É o mesmo que "somente uso esta máscara", por que melhor se ajusta às minhas necessidades de auto-preservação. A máscara serve de escudo diante das ameaças enfrentadas no embate social. Por medo, continuamente uso uma máscara ou a troca conforme a situação. Um ator pode ser tudo, ouvi dizer o diretor Antunes Filho. Todas as máscaras são possíveis. Mas acreditar que a máscara é o próprio rosto gera confusões. Não se trata disso.
Meu último zazen
Enquanto ele fazia zazen percebi que ficaram esperando a esposa, a mãe e filhos na área de espera.
Após dizer tudo aquilo, o que eu poderia dizer mais? Só refleti a respeito. Ao final, ele se despediu de mim com os olhos de profundo agradecimento. "Eu voltarei aqui para novamente fazer zazen com você, caso sobreviver. Mas se não vier, talvez possamos nos encontrar um dia no outro lado?" brincou com a própria situação. Pedi que ele registrasse o seu nome no nosso livro de comparecimento. Desconheço o seu nome, de alguém que conheci por dez minutos e me revelou o valor da vida. Claro, ele não voltou. Não liguei ao hospital para saber do acontecimento.
Tudo aquilo se passou como um flash de cinema, ou realmente foi verdade? Quem sabe, devemos praticar como fosse o último momento de nossas vidas. Se praticamos assim, podemos, inclusive perdoar as nossas desavenças. Admitir ter desavenças, em si, é sinal de falta de prática. Sem querer, acabamos magoando alguns mais sensíveis, outros menos sábios, e assim o sentimento de comiseração acaba corroendo o próprio magoado e o causador. Possamos então arrependermos de nossas atitudes de agressão, ainda que não tenha sido causado intencionalmente. Acima de tudo, que a nossa prática seja verdadeira: nada para esconder. Se esta tentativa obter sucesso, então estaremos no caminho certo.
sexta-feira, junho 22, 2007
Barbearia Kimura
Jisho, realmente lhe chamei para criar uma maior proximidade por causa da lingua, já que haviam me dito que o dono da barbearia não falava bem português, o que iria atrapalhar minha negociação e servir como álibi ao contrário, digamos assim, para ele provavelmente não me dar muita atenção. Pensei, vou levar um amigo que fala japonês e que, de quebra é monge, claro que eu sabia que isso poderia ser um apelo também, mas o mais importante era a familiaridade no idioma. Levei também as fotos que havia tirado no último Rohatsu Sesshin numa tentativa de "provar" que minhas intenções eram sérias. Foi assim que me preparei para o momento em que a "mágica" poderia acontecer, e aconteceu. Depois de aprovada a minha permanência na loja para as fotos, eu queria voltar no dia seguinte, mas Jisho insistiu no "aqui agora", muito bom! Fiquei, das nove da manhã até as onze e meia, depois voltei a tarde, com uma bandejinha de doces comprada por perto - conselho de Jisho - e fiquei das quatro e quinze até as oito da noite. No fim do dia elas começaram a pergutar se eu não ia embora, "Você não está cansado?..." Respondi: "Vocês também não estão aqui (trabalhando)?" Fui ficando, aprendi que para se conseguir boas imagens temos que ser os primeiros a chegar e os últimos a sair. O último cliente saiu e a dona do estabelecimento olhou séria para mim, "Agora acabou!", eu ainda queria fotografá-la se arrumando para ir embora, não deu, fui embora exausto e feliz, com quase 600 fotos.
A foto acima foi feita às seis da tarde num momento de pausa, pode-se ver ao fundo uma funcionária de um boteco vizinho que foi na barbearia fazer um lanche com as amigas. A senhora de braços cruzados é a proprietária - está no Brasil há quarenta anos - espera por um próximo cliente. O senhor que toma chá e lê jornal não foi cortar o cabelo nem a barba, apenas entrou, sentou-se no sofá, serviu-se do jornal e foi servido de chá e docinhos. Meia hora depois levantou-se, se despidiu e foi embora.
O manto de Buda
Ontem mesmo, o amigo Seigen me pediu para ir com ele a uma barbearia no Bairro da Liberdade. Ele queria tirar algumas fotos do interior, mas tinha sido recebido rispidamente no dia anterior. Fui como um provável tradutor. Evidentemente, um pedido feito em japonês tem um efeito melhor do que em português. Pareceu-me que naquele universo étnico, a conversação em japonês cria mais intimidade, maior confiança. Falei então com a barbeira, que me disse que a patroa não aprovava a idéia de alguém tirar fotos do estabelecimento. Veio uma outra, que novamente usei os mesmos argumentos. Demonstrando sinceridade, disse que procurássemos uma outra sala de barbearia. Mas de alguma forma, a confiança também ganhava terreno. O Seigen vestido totalmente de negro, pois tinha feito zazen naquela manhã, e eu com minha roupa preta e sandálias havaianas no pé. Estávamos com rakusu no pescoço. Mas nada disso tinha sido intencional. Não demorou muito, chegou a patroa. Explicamos a nossa situação. Ela perguntou-nos se não era matéria paga, para alguma revista. "Não, não se trata disso", disse. Ainda desconfiada, andou de um lado para outro e arrematou: "Você é monge de que templo?" Então disse: "Sou da rua São Joaquim". Parece que isso a acalmou. "Penso que alguém acompanhado de um monge não tem nenhuma maldade". Isso queria dizer que Seigen tinha todo o salão para fotografar, inclusive as funcionárias e os fregueses. Antes ela também percebera que o Seigen tinha a cabeça raspada, além da roupa preta. "Você, qual a sua ligação com o templo", arrematou. "Faça zazen no templo", disse ele. Todo gelo tinha sido quebrado, não pela nossa simpatia ou talento. Nossas vestimentas é que transmistiam compaixão e verdade.
Numa outra situação, estávamos em Buenos Aires e na hora do almoço fomos até a uma vila em que existia restaurantes chineses. Escolhemos a casa mais cheia e sentamo-nos. Pedimos uma variedade: legumes, arroz, sopa, frutos do mar e chá jasmim. Ficamos por uma hora naquela casa. Ao final, pedimos a conta. Veio a patroa e falando um espanhol argentino com carregado sotoque disse "vocês não nos devem nada". Ficamos sem entender. Um dos monges tinha depositado sobre a mesa uma imagem do Buda, ganho minutos antes de um monge chinês. A dona apontou para a imagem e para nós mesmos e concluiu "não temos que receber de vocês". Agradecemos e com as mãos em gashô fizemos uma oração de transmissão dos méritos à dona da casa. Sei que não era por nós que ela fazia isso, mas pela compaixão de Buda.
Por isso, o manto de Buda tem o peso infinito da compaixão. Em momento algum temos de abandoná-lo pelo seu peso, pois onde o manto tiver, o Buda estará. A experiência é mística. Quanto mais se pratica mais o uso do manto é necessário.
O peso do manto da prática
Por outro lado, poderia se dizer que o praticante deve atuar fora do templo. Esta assertiva é verdadeira, mas não serve para justificar o pouco zazen realizado. Penso que a prática deve estar associada ao zazen constante. Uma prática budista que abandona o zazen, me parece, totalmente irresponsável e deludida. Enquanto o zazen for visto como um adereço da vida, de importância menor, continuarei mergulhado no lodo da ilusão, com uma mente totalmente condicionada. Sinto que vestir o manto da prática é tão difícil, ao ponto que uma vez realizado o zazen tenho que me livrar dele o mais rápido possível. O manto de Buda é pesado, e poucos conseguem vestí-lo por mais tempo. Mas desconhecem os méritos contidos naquele manto, remendado e negro. A roupa da prática no templo deveria ser a vestimenta permanente do praticante. Quem sabe, um dia ela se torna parte de sua pele e não consegue mais arrancá-la.
Não é de hoje que se diz "me falta tempo" para desenvolver esta atividade. Mas para realizar algo é necessário abdicar-se de algumas tarefas em função de outras. É impossivel fazer tudo ao mesmo tempo, com o mesmo grau de importância. Posso me tornar um especialista em Shakespeare lendo toda a sua obra teatral na sala de leitura da Biblioteca Municipal. Para que isso aconteça, vou deixar de fazer outras coisas, porque a prioridade é a leitura da obra citada. O mesmo acontece com o zazen, com toda prática budista. Mas não agimos desta forma. Nossa mente não funciona assim, porque está condicionada. Está condicionada aos apelos do mundo com seus fetiches, loucuras e seduções. Pode-se viver desta forma, mas o sofrimento continuará existindo, bem como a ilusão e a desesperança. Um ser condicionado não é livre, pelo contrário. E neste condicionamento, faz do zazen uma somatória de outros afazeres do mundo sansârico. Talvez exista um medo grande de abandonar a ilusão, ou preferem a ilusão como condição humana do que a iluminação como condição do ser da sabedoria e compaixão.
Pratiquem zazen... Ingressem nas profundezas da mente e libertem-se das amarras da ignorância de conceitos, idéias e abstrações. Pratiquem budismo com seriedade!
sexta-feira, junho 15, 2007
Amor à Vida
Essa conversa avivou recordações deixadas por parentes e amigos que morreram.Não foram poucos.Muitos desses ao pressentirem a morte entregaram-se a toda sorte de soluções mágicas, sem nada conseguir, pois o tempo de vida já estava determinado.Mortos marcados pela dor e pelo sofrimento com ecos de desespero dentro de si.Essas vivências marcaram-me profundamente.Ainda posso senti-las muito perto de mim.
Pergunto-me como vivemos para morrer assim.O desespero não surge na última hora, ele é alimentado cotidianamente na vida, pois vivemos como se fóssemos eternos, como se pudéssemos reverter o envelhecimento e mesmo resistir à própria morte.Devotamos a vida a isso e no final da vida mortal como morremos?Morremos iludidos.Morremos como vivemos.
Dogen Zenji disse; "Esclarecer vida e morte é a questão mais importante da vida...".O silêncio e a imobilidade do zazen nos orientam sobre isso.De alguma maneira antecipam a experiência do fim da vida mortal.A prática e a persistência no zazen, no seu ritual silencioso e imóvel, na intenção que brota do coração, repetido dia após dia nos ajuda a compreender o sentido da vida, nos conduz à paz e a um progressivo caminho espiritual . Se tivermos paz teremos alegria no coração.A alegria já é por si só um sentimento que expressa agradecimento e reverência à vida.Se vivermos assim, com sinceridade e alegria, na hora de nossa morte talvez possamos expressar o que pode haver de mais puro dentro de nós - a gratidão pela vida.
segunda-feira, junho 11, 2007
sábado, junho 09, 2007
Tetsuya Zazen
Atravessando a noite serenamente, concentrados, dedicados, todos se tornam límpida expressão do outono: a lua minguante, o frio da madrugada, o aroma do udon, o chá quente entre as mãos, a camaradagem silenciosa.
Libertemo-nos. Pratiquemos a não-forma. Façamos isso por nós mesmos, pelos outros, por aqueles que conhecem o Caminho, mas não o trilham, por aqueles que o desconhecem, pelos seres visíveis e invisíveis, pelos seres sutis ou grosseiros, nascidos ou por nascer. Façamos pelos inumeráveis seres da mente.
Buda sentou-se, Bodhidarma sentou-se, todos os mestres e patriarcas sentaram-se. Não devemos ser fúteis com a prática.
Keizan Zenji assin se pronuncia em Zazen Yojinki:
sexta-feira, junho 08, 2007
Tetsuya Zazen
Em relação a isso, para um praticante interessado a postura de vida também deve se transformar: a inocência. Sem a inocência, o praticante não vai muito longe. Praticar sem nada ganhar é revelar o verdadeiro rosto da Iluminação, o rosto original, o rosto da inocência. Isento de maquilagem, de cacoetes, o praticante deve ser a verdade. A inocência é a alegria da prática, sem ela a prática torna-se árdua. Existindo a inocência, menos haverá campo para o sofrimento. Sendo a inocência um dos elementos da prática, o ego se sentirá enfraquecido. Quanto mais fraco é o ego, nem mesmo haverá um praticante da prática. A prática, o praticante e o universo todo serão a mesma coisa, como sempre foram, mas separados num certo momento em que a ignorância da existência do ego surgiu. Acabar com esta ignorância é a própria Iluminação.
Um pouco mais...
Tenho pensado a respeito: "Por quê os praticantes não sentam-se mais". O que posso dizer é apenas "venha mais vezes fazer o zazen". Palavras totalmente inconsistentes, diante de uma quantidade enorme de outras motivações para não faze-lo: preciso trabalhar, preciso ganhar dinheiro, preciso malhar para emagrecer, enfim, não tenho tempo. É preciso, então, priorizar o tempo. Dogen disse: "não percam tempo, iluminem-se neste momento". Não obstante, continuamos em permanente estado de delusão. É como que o sonho fosse preferível à Iluminação. Como que a Iluminação fosse algo temido. Quer dizer, a prática é importante mas não de forma exagerada. Esta colocação é extremamente infeliz. Afinal, penso eu, a prática é um compromisso de quem escolheu este Caminho.
E se me considero ainda praticante, que eu possa ser mais compassivo com os outros e menos condescendente conosco mesmo. Que eu possa praticar sempre um pouco mais... Que a alegria da prática seja capaz de entender os que têm dificuldade em praticar. Que a prática de um coração totalmente vazio reverta em méritos para aqueles que não tiveram a chance de praticar, nem de se sentar em zazen. Sentamos e praticamos não pelo benefício próprio neste universo da interdependência. Sentamos enfim para diminuir o karma negativo de um mundo violento, injusto, de muita miséria, de palavras duras contrárias às ações benevolentes de nossa crença.
quarta-feira, junho 06, 2007
No Caminho das Flores
Uma imagem, em sonhos recorrentes, de uma velha senhora, em pé, nessa escadaria, chamando-me.Um pedido para levar flores, assim entendo.
Flores frescas recendem no seu túmulo, quase chego a senti-las.
A este sonho, outra imagem sobrepõe-se.A mão que chama, agora acena.As roupas vestidas pela velha senhora tornam-se claras, o avental florido.
Flores frescas brilham em seu túmulo.
No final da vida, quando a morte chega, as flores ainda recendem e brilham.
Sentir o caminho
Acredito que ao ingressarmos no caminho do despertar, buscamos e passamos a viver um sentimento radical semelhante, com a diferença que aqui nos propomos a perder algo que nos parece/é muito caro, de propósito, conscientemente, de outro modo, não estamos no caminho. E precisa ser assim, radical, com essa consciência da perda, como diz Jisho, à flor da pele a cada instante.
terça-feira, junho 05, 2007
O monge de olhos de taturana
Desta primeira experiência orgânica com o Zen, ficou a certeza que retornaria ainda àquela casa. Voltei outras vezes, nos anos seguintes. Nunca mais o vi. Quem encontrei nestas outras vezes foi um monge velho, magro, de rosto sugado, olhos profundos e negros e enormes sobrancelhas que mais lembravam duas taturanas. Chamavam-no de Tiba, ou simplesmente Tiba-san. Nos recebia com um leve sorriso no canto da boca e voz marcadamente pausada em seu português mal falado. Nos recebia nas noites de sábado com um "boa noite", desejando-nos boas vindas. Perguntava se era a primeira vez. Caso fosse a primeira vez, levava-nos até o zendo e explicava a maneira de se sentar, de andar, de juntar os punhos em sasshu. Os praticantes mais antigos ficavam sentados numa sala de espera. Pouco se falava, quase nada. E quando o monge Tiba ingressava na sala de espera, o silêncio era total. Um silêncio reconfortante, de confiança, para dar início ao zazen propriamente dito. Da primeira batida no han todos em silêncio dirigiam-se ao zendo e sentavam-se. Quase imperceptível eram os passos do monge Tiba, percorrendo a sala com o kyosaku nas mãos. Vez ou outra um "pahhhh".
Terminado o zazen, em silêncio todos deixavam seus postos e retornavam à sala de espera. O monge Tiba era o último a entrar. Seus olhos perscrutavam os praticantes, que se sentiam inibidos diante da grandeza daquele homem pequeno. Como ninguém se manifestava, ele dizia: "alguma pergunta?" Ninguém arriscava pergunta alguma. Eram raras as perguntas, se estas realmente existiam. Numa ocasião alguém se colocou e fez uma com tantos conceitos e adjetivos, que a resposta foi mais sintomática: um sorriso apenas. "Mais uma pergunta", encorajou Tiba. Nada. "Não existe pergunta, zazen acabou. Boa noite", encerrou o monge.
Neste tempo dirigia-me ao templo apenas para fazer zazen. O zazen em sí era o suficiente. A postura, em si, era o suficiente. Queria sentir o silêncio por algum momento, naquela casa simples e excessivamente pobre. De todas as experiências tidas - poucas - esta era a mais radical de todas. Cuja radicalidade se encontrava em ficar parado, olhando para as paredes brancas, sem nada ganhar, sem nada perder. Aquilo era ser radical. E aquelas sobrancelhas de taturana ficaram na memória, a referência de monge mergulhado no silêncio da noite. O monge Tiba era o próprio zazen, o próprio corpo de Bodhidharma, a própria mente de Buda. Tinha que conhecer mais a respeito deste universo... Como? Abandonando-se!
segunda-feira, junho 04, 2007
Zazen da lua minguante
Companheiros de Sangha,
Nesta próxima quarta-feira (dia 6) vamos praticar o Tetsuia Zazen, o zazen da lua minguante onde começaremos as "não-atividades" às 18:30 de quarta e vamos até às 6:30 da quinta (dia 7 feriado).
Levem uma contribuição para os nossos lanches dessas 12 horas.
Eu e Naun vamos fazer a ceia (servida às 3:00), um udon, que aprendemos com a Sawa San. No momento rodaremos o chapéu para as despesas.
IMPORTANTE: Levem também uma doação em forma de alimento, pode ser leite em pó.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.