sexta-feira, setembro 17, 2010

Sesshin Especial no Templo Busshinji



Treinamento de Monges em 2010

DATA: dia 8 a 12 de novembro em 2010 (cinco dias)
Local : Templo Busshinji - R.São Joaquim 285 - Liberdade SãoPaulo - Tel 11-3208-4515

Inscrição até dia 31 de Outubro

A quem se destina: Somente aos devidamente ordenados ou com objetivo de ordenação.

Preço: R$ 300,00 (inclui as atividades, refeições e pouso no local).

Objetivo: Aprender o comportamento e atividades num mosteiro, como cerimônias e afins.

Trazer os objetos: um jogo completo de vestimenta de monges (Dai-ê, Hakuê, Zatsuê,tabi, bessu. Kessá, zagu. chukin), Samuê preto , Oryoki, chinelos de borracha.

Aulas: Cerimônia abertura dos olhos da imagem, Daihannya, Cerimônia Memorial, Memorial para os monges e outros, Sejiki, Cerimônia Tradicional (18 Reverências).

Pouso: trazer travesseiro (se quiser), lençol (se quiser) - estes materiais não são fornecidos pelo templo.

Telefone: o uso é vetado, inclusive os celulares. Os casos excepcionais, a comunicação deve passar pelo telefone do templo.

Objetos de uso: trazer lápis, caneta e caderno.

Para se inscrever envie os dados a seguir para contato@sotozen.org.br

Nome :

Templo ou Dojo:

Tel:

Obs: Se tem problemas de saúde ou não consegue ingerir deteminados alimentos, descreva abaixo:



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terça-feira, julho 20, 2010

Ela

Foto: Bruno Mitih

Ela não tem linguagem nem discurso
mas criou línguas e corações
por onde sente
e fala

Goethe

sexta-feira, julho 02, 2010

Para observar a natureza



Procure um lugar seguro
onde não passem carros ou
animais de grande porte,
um lugar que não seja
próximo a formigueiros
ou vespeiros ou tocas de
outros animais

Isto a tua sensibilidade irá
dizer: dispa-se de sua mente
particular e procure um lugar
neste mundo vivo onde
outros seres em seu cotidiano
não se sintam ameaçados.

Utilize todos os seus recursos:
tato, visão, audição, olfato, paladar
mente e não-mente. Isto é assim
mas não há medo, abandone a insegurança
e encontre o lugar, pode durar apenas
alguns segundos, mas também horas ou dias

Deite-se ali mesmo, barriga para cima
sobre a terra, relva, pedra ou madeira,
areia, leito de rio ou galho de árvore.
Encontre uma posição estável e segura.

Olhe para o céu (dê preferência ao início
da manhã ou do meio da tarde em diante)
Agora não pense em nada, observe
sossegadamente a impermanência,
nasça a cada momento, para cada detalhe,
cada novo aroma, nova luz, nova cor,
incessantemente.

Observe o que vai de dentro de você
até a ponta de um ramo que balança com a brisa.
Permaneça imóvel, totalmente,
aparecerão coceiras e também aves no céu,
abra mão de se coçar, suporte.

Outros seres também experimentarão seu corpo,
irão toca-lo, cheira-lo, subir e andar
sobre ele, vagamente tateando com as
antenas ou desconfiados e ligeiros.

Observando a natureza, não espante os outros
seres, não os mate, observe.
Respire livremente apenas com o ponto equidistante
entre o genital e o umbigo - o centro.

Continue observando profundamente a
impermanência, perceba que sem reagir
a natureza se encarrega de si mesma,
ela é auto-perceptiva.

Isto assim é não fixar a mente nem
no céu nem na terra, nem nos galhos
das árvores, nem neste corpo.
Há agora uma perfeita gentileza entre
tudo e seu corpo ali deitado.

Perder-se assim é encontrar a natureza
sem dentro nem fora, estar no centro
do cosmos, escapar do sul e do norte,
do leste e do oeste.

Alguém, assim olhando de fora
talvez possa achar que é a morte
Olha que ponto de vista, outro ângulo
parece que já não há mais separação.

Se a morte não causar mais repulsa
Então a poesia estará intacta onde respira
e somente aquele que age poderá decidir
se isto é ou não poesia.

quarta-feira, junho 23, 2010

Tso-ch’an i

Tso-ch’an i
de Ch’ang-lu Tsung-tse

A origem do Tso-ch’an i não é inteiramente clara. Comumente pensa-se que esse texto foi composto como uma seção do Ch’an-yuan ch’ing-juei, um código monástico do Ch’an compilado por Tsung-tse em 1103. O conteúdo do texto, no entanto, sugere que – assim como Fukanzazengi – ele foi originalmente escrito como um tratado independente e que a intenção era menos ser um conjunto de regras para a sala de meditação e mais um manual básico e popular sobre a meditação Ch’an, para noviços e leigos.

Uma vez que esse código era amplamente aceito como uma versão expandida das regras monásticas do Ch’an estabelecidas por Po-chang Huai-hai (720-814), Dogen deve ter sido atraído pelo manual parcialmente devido à crença de que ele conservava algo dos ensinamentos sobre meditação desse grande mestre T’ang. De fato ele menciona isso em seu “Senjutsu yurai”, mas atribuiu a Tsung-tse a falha em transmitir precisamente os entinamentos de Po-chang:

“No Ch’an-yuan ch’ing-kuei há um Tso-ch’an i. Apesar de ele seguir as intenções originais de Po-chang [ko i], foram adicionadas muitas novas cláusulas pelo Mestre I [Tsung-tse]. Por essa razão, está repleto de erros e incompreensões.”


Dogen deixa clara a base religiosa de sua insatisfação com o Tso-ch’an i em sua crítica a Tsug-tse: “Ele nada sabe do entendimento além das palavras (gongai shi ryoran); quem pode falhar em entender isso?”.

É indubitável que nem Dogen nem Tsung-tse tiveram algum registro dos ensinamentos de Po-chang. Apesar da fama de Po-chang como fundador do sistema monástico independente do Ch’an e das repetidas referências na literatura a Po-chang, há poucas evidências de que esse monge tenha realmente produzido um conjunto de escritos sobre regras e muito menos que eles tenham sobrevivido até o tempo de Tsung-tse.

Diante disso, pode-se assumir que o manual de Tsung-tse é o mais antigo trabalho desse tipo na tradição do Ch’an.

(BIELEFELDT, Carl. Dogen´s Manual of Zen Meditation. Berkeley: University of California Press, 1988)
___________________________________________________________________

O Bodhisattva que estuda prajna deve, primeiro, fazer surgir o pensamento de grande compaixão, fazer os votos completos e então cuidadosamente cultivar o samadhi. Fazendo o voto de salvar os seres sencientes, ele nunca busca libertação apenas para si mesmo.

Então, deixe de lado todas as atribulações e interrompa todos os assuntos. Faça corpo e mente um, sem divisão entre ação e descanso. Regule a alimentação e a bebida, de forma a não comer e beber nem muito nem pouco; ajuste o sono de maneira a não se privar nem ser indulgente.

Quando você sentar em meditação, estenda um tapete grosso num local sossegado. Afrouxe seu manto e cinto e assuma uma feição apropriada. Então sente na postura de lótus completo. Primeiro coloque seu pé direito sobre a coxa esquerda; depois coloque seu pé esquerdo sobre a coxa direita. Ou você pode sentar na postura de meio-lótus: apenas descanse seu pé esquerdo em seu pé direito.

Em seguida, coloque sua mão direita sobre seu pé esquerdo e sua mão esquerda sobre a palma da mão direita. Junte as pontas dos polegares. Vagarosamente erga seu tronco e o alongue para a frente. Balance para a esquerda e para a direita e então alinhe seu corpo e sente ereto. Não penda para a esquerda ou direita, para a frente ou para trás.

Mantenha seu quadril, costas, pescoço e cabeça alinhados, fazendo da sua postura uma stupa. Mas não tensione muito seu corpo para cima, pois isso faz sua respiração tornar-se forçada e agitada. Suas orelhas devem estar alinhadas com os ombros e o nariz com o umbigo. Pressione sua língua contra a frente do palato e feche os lábios e dentes. Os olhos devem permanecer um pouco abertos, para prevenir a sonolência. Se você atingir samadhi [com os olhos abertos], ele será o mais poderoso. Em tempos antigos, houve monges eminentes na prática de meditação que sempre sentaram com os olhos abertos. Mais recentemente, o mestre Ch’an Fa-yun Yung-t’ung criticou aquele que sentam em meditação com os olhos fechados, comparando [a prática deles] com a caverna fantasma da Montanha Negra. Seguramente isso tem um profundo significado, conhecido por aqueles que dominaram a prática da meditação.

Uma vez que tenha harmonizado sua postura e regulado a respiração, você deve relaxar seu abdome. Não pense em absolutamente nenhum bem ou mal. Sempre que um pensamento ocorrer, tome consciência dele; assim que você se conscientizar dele, ele desaparecerá. Se você permenecer por um longo período com os objetos esquecidos, você naturalmente se tornará unificado. Esta é a arte essencial do tso-ch’an. Falando claramente, tso-ch’an é o portal do dharma da libertação e alegria. Se há muitas pessoas que se tornam doentes [por causa desta prática], isso é porque elas não tomam os cuidados apropriados.

Se você pega o ponto desta prática, os quatro elementos [do corpo] se tornarão leves e livres, o espírito será fresco e afiado, pensamentos serão corretos e claros; o sabor do dharma sustentará o espírito e você será calmo, puro e alegre. Aquele que já alcançou o esclarecimento [da verdade] pode ser comparado ao dragão encontrando a água ou ao tigre indo às montanhas. E mesmo aquele que ainda não tenha alcançado isso, deixando o vento atiçar as chamas, não terá que fazer grande esforço. Apenas concorde com isso, você não se decepcionará. Todavia, à medida que o caminho avança para o alto, demônios surgem e experiências agradáveis e desagradáveis se manifestam. No entanto, se você mantém o pensamento correto presente, nenhum deles pode obstruí-lo. O Surangama-sutra, o Chih-kuan de T’ien-t’ai e o Hsi-cheng i de Kuei-feng dão explicações detalhadas dessas ocorrências demoníacas e aqueles que se prepararem antecipadamente para o inesperado devem estar familiarizados com isso.

Quando você sair do samadhi, mova-se vagarosamente e erga-se calmamente; não seja precipitado nem rude. Depois que deixar o samadhi, sempre empregue maneiras apropriadas de proteger e manter o poder do samadhi, tão cuidadosamente como se estivesse protegendo uma criança. Assim o poder do seu samadhi facilmente se desenvolverá. Esse ensinamento sobre a meditação é nosso negócio mais urgente. Se você não praticar meditação e entrar em dhyana, quando ela se manifestar você estará perdido. Portanto, para procurar a pérola, devemos acalmar as ondas; se perturbarmos a água, será mais difícil fazê-lo. Quando a água da meditação está límpida, a pérola da mente aparece por si mesma. Portanto, o Sutra da Perfeita Iluminação diz: “a desimpedida e imaculada sabedoria sempre surge em dependência da meditação”. O Sutra do Botão de Lótus diz: “Em um local calmo, ele pratica o controle da mente, habitando a imobilidade como o Monte Sumeru”.

Assim, transcender o profano e ultrapassar o sagrado estão sempre na dependência das condições de dhyana; há sempre as condições para dhyana; dispersar [este corpo] enquanto sentado e deixar fluir [esta vida] quando em pé são necessariamente dependentes do poder do samadhi.

Mesmo que alguém dedique sua vida toda à prática, pode não haver tempo suficiente; como poderia então alguém que procrastina superar o karma? Por isso, um ancestral disse: “Sem o poder do samadhi você humildemente se prostará às portas da morte”. Fechando seus olhos você terminará sua vida em vão, e, exatamente como você é, será arrastado [no samsara].

Amigos no Ch’an, debrucem-se sobre este texto várias vezes. Beneficiando os outros assim como a nós mesmos, que juntos atinjamos a completa iluminação.

segunda-feira, junho 21, 2010

Ksitigarbha


Neste próximo sábado, dia 26, acontecerá a Cerimônia de introdução da nova imagem do Bodhisattva Jizô no Templo Busshinji, veja detalhes aqui. Todos estão convidados a participar, tragam os amigos e a família com as crianças.

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O Buda Shakyamuni nos apresenta o Bodhisattva Ksitigarbha, cuja sabedoria e força espiritual são incomensuráveis. Este Grande Ser auxilia em momentos difíceis e insta a despertar do sono da ignorância para iniciar um caminho conducente ao auto-respeito e livre de erros. É protetor das crianças e dos viajantes.

A compaixão deste Bodhisattva é ilimitada, realizando o maior dos Votos: o de suportar os sofrimentos deste mundo e postergar sua própria Iluminação até que o último ser vivente a houver alcançado. Seu nome Ti significa "Terra" e Tsan significa "Tudo que é depositado sobre ela", ou seja, que da mesma forma que a "Terra" o Bodhisattva "aceita e suporta" tudo. Pu Sa significa Bodhisattva. No Japão ele é conhecido com o nome de Jizo. A tradição nos apresenta sua imagem portando em sua mão direita uma espécie de báculo que termina em uma sineta, semelhante ao usado antigamente na China pelos viajantes para espantar os animais dos caminhos, e que simbolicamente é utilizado para romper as portas do inferno e do sofrimento. Por outro lado, sua mão esquerda sustém uma pérola brilhante cuja luz é capaz de iluminar toda a existência, apartando-a da dor. Constantemente dá testemunho de que toda existência pode chegar ao estado búdico, dado que possui tal essência (a búdica), liberando-se do mundo fenomênico.

Fonte: site Sala de Estudos Buddhistas Zhongdao

sexta-feira, junho 18, 2010

Foto: Hiroshi Sugimoto

"Que maravilhoso, que maravilhoso, eu, todos os seres vivos, animados e inanimados, e toda a terra, simultaneamente iluminados." Buda Shakiamuni

segunda-feira, junho 14, 2010



Quando participar de um retiro Zen

Se tivermos a verdadeira noção, a noção de que um sesshin (retiro) não começa nem termina ali naqueles dias, naquele espaço. E que praticar o zen durante o sesshin é aprofundar-se naquilo que não tem fundo. Que o tamanho da verdadeira liberdade não sabe extremos nem possui extremidades. E que o que não tem fundo não tem profundeza e por isso emerge, melhor, está emerso, nunca se escondeu.

Quando concebemos isso...

Pense estar além de si mesmo. O que é isso? Se não sabe, se nem pode pensar, por que não deveria ir até lá? Não há nada que um outro possa lhe dizer, que um texto como esse possa descrever. Realmente está lá, quer dizer, está aqui, além do fim do mundo, além do fim do nosso mundo particular floresce o que nem se pode imaginar agora. Sesshins são como luas: faça o primeiro, o segundo, o terceiro e então abandone as contas, você sabe quantas luas em suas fases você já viu em toda a vida? Você sabe, é sempre a mesma lua que, para nós, só existe porquê há o sol. Quando há apenas estrelas no céu ainda assim não quer dizer que não há lua. Um sesshin se liga ao outro intrinsecamente. Num sesshin os Budas estão radiantes, e isto extravasa. Não pense que o sesshin é um estado de exceção, não faça um sesshin como se fizesse algo exótico, que está fora de você. Num sesshin, fora e dentro naturalmente mudam de posições. Brasil e Japão, o que importa? Confia, você está na floresta de sândalo com leões, sim, mas você também é um leãozinho, como o medo poderia te importunar? Há quem reclame de uma vida de monotonia, mas sem medo não há o que limite, só há o expandir.

Observar o caminho atentamente cria um caminho novo sem precedentes, pois a criatividade torna-se a luz de sua retina onde quer que olhe, onde quer. Antes, a criatividade estava fora, agora não. E até o novo, o conceito de novo perde o sentido - tudo está aí como sempre foi, sem cessar, sem repetir-se, não vê? Se ainda há tempo para perder eu não sei, se há justificativas, uma a uma desvanecem em contato com a mente clara. É que o tempo de abandonar o peso e esclarecer o caminho nunca esteve tão próximo. Nunca!

domingo, junho 13, 2010

Cerimônia da Lua Cheia


Neste último sábado celebramos no Templo Busshinji a reafirmação dos preceitos budistas, aqueles que trazemos para o nosso dia-a-dia quando ingressamos no caminho.

sábado, junho 12, 2010



Soanka
Canção da Cabana coberta de relva

Sekito Kisen

Construí uma cabana de relva onde não há nada valioso.
Após me alimentar, eu relaxo e tiro uma soneca.
Quando ela ficou pronta, novas ervas brotaram.
Agora nela se mora coberto por trepadeiras.
A pessoa na cabana vive aqui calmamente,
Sem se prender ao dentro, ao fora ou ao entre.
Nos lugares em que as pessoas do mundo vivem, ela não vive.
Os domínios que as pessoas do mundo amam, ela não ama.
Apesar de a cabana ser pequena, ela contém o mundo todo.
Em três metros quadrados, um velho homem ilumina formas e sua natureza.

Um bodhisattva do Grande Veículo confia sem dúvida.
As pessoas medíocres ou rasteiras não podem evitar divagar:
Essa cabana vai ou não se estragar?
Estragável ou não, o mestre original está presente,
sem se deter no sul ou norte, leste ou oeste.
Firmemente fundado na estabilidade, não pode ser superado.
Abaixo dos verdes pinheiros, uma janela luminosa –
Palácios de jade ou torres de rubi não podem ser comparados com isso.

Apenas sentar com a cabeça coberta, todas a coisas descansam.
Assim, esse monge da montanha definitivamente não entende.
Vivendo aqui ele não mais se esforça para se libertar.
Quem orgulhosamente providenciaria assentos, tentando seduzir convidados?
Vire ao contrário a luz para que brilhe no interior, então apenas retorne.

A vasta e inconcebível fonte não pode ser fitada nem evitada.
Encontre os mestres ancestrais, familiarize-se com suas instruções,
Junte relva para construir uma cabana, e não desista.
Deixe ir centenas de anos e relaxe completamente.
Abra suas mãos e caminhe, inocente.
Milhares de palavras, miríades de interpretações.
São apenas para libertar você das obstruções.
Se você desejar conhecer a pessoa imortal da cabana,
Não se separe desse saco de pele aqui e agora.

sexta-feira, junho 11, 2010

Prática

Respeitosamente dirijo-me a vocês,
o nascimento e a morte são assuntos importantes
portanto, atinjam a iluminação nesta vida
assim peço, não desperdicem tempo


Texto entoado pelo Jikidô*, dirigido aos praticantes zen no interior do zendô, ao final de um dia de prática ou última sessão noturna de zazen.

Então pode-se perguntar: Atingir a iluminação em que vida? Esta desde o momento em que nascemos até a morte, ou nesta vida de "apenas sentar" em lótus?

*Responsável pelo zendô

quinta-feira, junho 10, 2010

Zen

No centro da natureza
No meio da floresta densa
Nenhum dharma foi pronunciado
Nunca houve Budas
Nenhuma aranha teceu
a rede de Bhrama

sexta-feira, junho 04, 2010

Poesia

Devo falar agora de mim,
isso seria um passo
na direção do silêncio...
Samuel Beckett


Meu pai sempre entendeu
Que eu era torto
Mas sempre me aprumou.
Passei anos me procurando por lugares nenhuns,
Até que não me achei - e fui salvo.
À vezes caminhava como se fosse um bulbo.
Manoel de Barros

domingo, maio 30, 2010

Ilha de Lótus

Quando se é visto pelo olho-do-dharma
os olhos mesmo abertos, se despetalam
Quando se vê pelo olho-do-dharma
os olhos da face caem como meras testemunhas

Cada movimento é tão único
cada ação tão prenhe de si mesma
que o momento pára em contínuo
e todo o inominado é chamado - do início, ao fim

Os pés movem-se no ritmo das montanhas
e as mãos dançam a precisão das correntezas.
A barriga contém todo o oval estrelado e
os ouvidos sabem onde não estão, a todo instante.

Ainda sem saber, sem querer! vai deslizar...
como névoa de passarinhos peregrinos
por corredores inventados em pés descalços -
agora, fora dos labirintos de minotauros

Vai desejar vagar assim
de não perder jamais este veículo
e vai perder - é suposto não possuir
e não vai perder...

Abandonado pelas estrelas precisas da mente vazia,
irá regressar longe do ponto de partida,
exatamente na mesma ilha de lótus
e ver o que não pensa nas manchas de um muro decadente

E com ele desabar. No lugar dos olhos pétalas vermelhas, e ver:
o desfiar luminoso da trama dos desejos, no um e em todos
na penumbra do dojô. O forte permeando o frágil,
o frágil clarificando a dimensão do vazio.

Dizem que é sorte ter nascido humano
mas quão difícil é ser, dos pés à cabeça.
Dizem que a vida é uma benção, sagrada,
mas quão perigosa, quão espessa.

Fecha os olhos e põe os pés sobre o arame do picadeiro
Confia no nascimento-morte, nascimento-morte
Desde a bomba do peito ao centro da terra
uma sincronia absoluta, uma oferenda, um caminho.

sexta-feira, maio 28, 2010

Certas Coisas

Composição: Lulu Santos / Nelson Motta

Não existiria som
Se não houvesse o silêncio
Não haveria luz
Se não fosse a escuridão
A vida é mesmo assim,
Dia e noite, não e sim...
Cada voz que canta o amor não diz
Tudo o que quer dizer,
Tudo o que cala fala
Mais alto ao coração.
Silenciosamente eu te falo com paixão...
Eu te amo calado,
Como quem ouve uma sinfonia
De silêncios e de luz.
Nós somos medo e desejo,
Somos feitos de silêncio e som,
Tem certas coisas que eu não sei dizer...

quinta-feira, maio 27, 2010

Sesshin na Paraíba



SESSHIN de Maio / 2010 - Sesshin do Trabalhador
DATA: 30/05/2010, último Domingo de Maio

Centro Zen de Campina Grande
Rua Tavares Cavalcanti, 182 Centro Campina Grande PB
Participe desses momentos de
SILÊNCIO e INTERIORIZAÇÃO.

NÃO DEIXE DE SE INSCREVER COM ANTECEDÊNCIA; VAGAS LIMITADAS.E não deixe de doar R$ 10,00 (DEZ REAIS) para cobrir as despesas do desjejum, ATÉ 26 / 05 / 2010 , Quarta-feira. Esta DOAÇÃO NÃO É PARA O CENTRO Zen e sim para Luciana Reikô comprar pães e pagar o Okaio, devendo ser entregue, diretamente, à Luciana Reikô e o quanto antes melhor.

ROUPAS: folgadas, tipo moletom, escuras; CALÇADOS: trazer sandálias de arrasto, tipo havaiana.

quarta-feira, maio 26, 2010

Próximos sesshins
região sudeste

Em Belo Horizonte:

Dia 13 de junho de 2010
Das 06:00 às 20:00
Valor: R$65,00 (incluído lanche e almoço)
Inscrição até o dia 10/06* (pessoalmente ou depósito)
* imprescindível para encomendar o almoço

Endereço: Rua Mármore, 386, Santa Tereza
Informações 3075-6430/9948-7949
Monge Ryo Kei - Napoleão

PROGRAMAÇÃO
06:00 Chegada
Explicações sobre Sesshin
06:30 Zazen (meditação sentada)
07:00 Kinhin (meditação andando)
07:10 Zazen e Teisho (aula)
07:40 Preparar desjejum
08:30 Desjejum
09:10 Samu (trabalho)
10:30 Banho
11:00 Zazen
11:30 Kinhin
11:40 Zazen e Teisho (aula)
12:10 Almoço
13:10 Descanso
14:10 Zazen
14:40 Kinhin
14:50 Zazen e Teisho (aula)
15:20 Samu
16:20 Lanche
17:50 Zazen
17:20 Kinhin
17:30 Zazen e Teisho (aula)
18:00 Tempo livre
19:00 Zazen Teisho (aula)
19:40 Encerramento

O CAMINHO DA PRÁTICA ZEN
ATENÇÃO, SILÊNCIO E PRESENÇA - Texto do Último Sesshin
O retiro zen – sesshin, cria as condições básicas para que a pessoa volte ao que é fundamental: a presença e a atenção ao que está fazendo ou vivendo. Esta atividade sutil e simples nos coloca de frente à avalanche de pensamentos que interfere na realidade imediata. Na nossa prática é fundamental o uso da capacidade de estar atento para que possamos perceber o andamento da vida como ela é. A prática zen não se direciona a produzir nenhuma espécie de santo ou estados especiais de consciência, e está mais para você perceber o café que está tomando e o lugar onde está andando.

Requisitos: não há.

A condição humana com todas as suas demandas existenciais, independente de qual seja, já é o caminho. Em resumo, na prática, se estou sentado estou sentando; se estou caminhando, estou caminhando; se estou comendo, estou comendo. Essas situações vivenciadas no seu mais puro fluxo já é o que se chama estado de iluminação.


Em Florianópolis:

segunda-feira, maio 24, 2010

O que é um Sesshin?

"Desde a época do Buda Shakyamuni, os sesshins são o coração do Zen. Se trata de um período de extrema dedicação à prática intensiva do Zen. Sesshin significa entrar em contato com o verdadeiro "eu", tornar-se íntimo consigo mesmo, com o corpo e com a mente, abandonar o egoismo e harmonizar-se com os outros. A ação de todos os Budas é real não só através do Zazen, mas também em todo movimento, em cada uma das ações da vida cotidiana. Durante um sesshin, cuja a duração vai de um a vário dias, cada ação é contínua ao zazen, não há interrupção. Esta prática orienta todas as atividades, das quais é fonte. Consiste em concentrar-se em cada ação com intensidade e viver plenamente o presente. Ao participar do sesshin, a prática do Zen pode então permear a vida cotidiana. Ao concentrar-se em cada instante, nossa vida forma uma linha harmoniosa. O Zen é o ensinamento da eternidade, não é outra coisa senão a sucessão dos instantes."
Texto publicado no blog Mas que Palabras

segunda-feira, maio 17, 2010

Retito Zen budista

Clique na imagem para ampliar

O Sesshin de Inverno de 2010, terá início às 9h00 do dia 05 de julho, segunda-feira. Nos demais dias, as atividades terão início às 6h00 se estendendo até as 19h30.

Os interessados em participar deverão entrar em contato com a secretaria do Templo Busshinji.

Comunidade Budista Soto Zenshu da América do Sul
Templo Busshinji


Rua São Joaquim, 285 - Liberdade - São Paulo CEP 01508-001
Tel.(11) 3208-4515/3208-4345
Fax.(11) 3208-0418

quinta-feira, maio 13, 2010

A incrível onda X


O amanhã já aconteceu. Foi emitida no ar a
superluz que desafia a teoria da relatividade


Por José Tadeu Arantes
Ilustrações Dawidson França


A velocidade da luz já foi ultrapassada. Essa fantástica possibilidade, prevista há pouco mais de um ano por GLOBO CIÊNCIA nº 74, tornou-se enfim real. O fato ocorreu num experimento realizado pelos cientistas Peeter Saari e Kaido Reivelt, do Instituto de Física de Tartu, na Estônia. Leia o texto na íntegra

domingo, maio 09, 2010

Babaganuche

O Babaganuche é uma receita árabe bastante simples e saborosa, com sabor pronunciado, excelente para tira-gostos, lanches ou mesmo para acompanhar um almoço ou jantar. Segue a receita.

Ingredientes:

• 1 berinjela grande
• 1 dente de alho
• +/- 5 colheres de sopa de azeite de oliva
• +/- 1 colher de café de sal
• Algumas folhas de hortelâ

Modo de preparo:

Espete um garfo na ponta da berinjela e coloque-a para tostar diretamente sobre a boca do fogão, deixe bastante tempo até que ela murche, mude de posição para assar outras partes se for o caso. Descasque a berinjela debaixo d'água, a casca está quente, dispense a casca (não tem problema se ficar um pouquinho de casca junto com a polpa). Corte bem a polpa com um garfo e uma faca e separe. Bata no liquidificador o alho com o azeite e o sal até formar uma pasta. Jogue esta pasta sobre a polpa da berinjela e misture bem. Decore com folhas de hortelâ fresca e está pronto para servir. Dá para 2 a 4 pessoas, dependendo da forma que for servido. Bom apetite!

É um ótimo alimento para equilibrar o colesterol.

Caso queira assistir um vídeo sobre a receita, acompanhe o chefe Samir Moisés no vídeo abaixo:


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sexta-feira, maio 07, 2010

Quando cala

O ponto - entre o umbigo e o sexo - o lugar
entre a morte e o nascimento - o caudal
do movimento em movimento...

onde não há ir, nem vir
...

Olhar a rosa de relance e saber toda sua circunferência
Ser a essência também do cravo amarelo - ser ausência

Expressar o que vê e sabe - do que os livros carecem
Não adiar, nem regurgitar - saber porque traz
Não evitar nem cegar este corpo-coração que só pode agora

Se não sabe exaspera? Perde o encontro?

...

E partir de onde pousam os aviões de silêncio
que os meninos lançam do alto dos edifícios

Adentrar a floresta e pisar com cuidado
como se faz nos cemitérios,
vertendo a voz que ouve beija-flores
e gotas de orvalho sobre o limo

Porque falar é ouvir na contra-mão
Falar é ouvir com os olhos e com o sangue
- todo tato que abraça carne e ossos -

Falar é calar.

quarta-feira, maio 05, 2010

Encontro dos diferentes

Assim ouvi esta história: Havia na antiga civilização Sung um mestre muito experiente que desejava se encontrar com um outro, à maneira do primeiro, de grande inteligência e avesso às intrigas e discussões levianas. Teria sido por intermédio de um emissário que o encontro foi programado. Seria no outono, quando as folhas começavam a tornar-se rubro. O primeiro mestre receberia o segundo em seus aposentos, numa ermida erguida num bosque.
Chegou o dia do encontro. O primeiro mestre estava sentado em sua almofada, diante de um fogareiro. Ele preparava chá de jasmim e alguns biscoitos de gergelim torrados. Assim que chegou, não precisou ser anunciado. Descalçou as sandálias e ingressou naquele ambiente. Retirou de um bolso uma porção de incenso em pó, feito de uma resina perfumada, e queimou diante da imagem de Buda. Em seguida, sentou-se diante do seu anfitrião. Tomou o chá e comeu o biscoito. Após uma hora ele se foi, de maneira discreta e silenciosa. Durante o encontro nenhuma palavra foi trocada, além de seus gestos comeditos e olhares de confiança e amizade.
A chaleira crepitava ao fogo, quando o primeiro mestre sentindo uma imensa alegria disse: "Ele é realmente um grande mestre, que se tornou em meu amigo". O outro, que cruzada as pedreiras, olhando para trás, disse: "Foi o melhor encontro que tive em minha vida".

Aghata Vinaya Sutta

Discurso das 5 maneiras de acabar com a raiva



Ouvi estas palavras do Buda quando ele estava certa vez no Mosteiro de Anathapindika, no Bosque de Jeta, perto da cidade de Shravasti.

Um dia o Venerável Shariputra dirigiu-se aos monges dizendo:

"Meus amigos, hoje quero compartilhar com vocês as cinco maneiras de acabar com a raiva. Por favor, ouçam com atenção e ponham em prática o que vou ensinar".

Os monges concordaram e ouviram atentamente. Então o Ve. Shariputra perguntou:

"Quais são as cinco maneiras de acabar com a raiva?"

"Esta é a primeira maneira de acabar com a raiva:

"Meus amigos, caso exista alguem cujas açoes corporais não são amáveis porém suas palavras são amáveis, se vcs vierem a sentir raiva dessa pessoa, sendo vcs sábios, saberão como meditar para acabar com a raiva".

"Meus amigos, digamos que existe um monge que pratica ascetismo e usa um manto feito de retalhos. Um dia, ao passar por um monte de lixo, cheio de excrementos, urina, catarro e muitas outras coisas sujas, avista no monte um pedaço de pano ainda intacto. Pega o pano com a mão esquerda e segura a outra extremidade com a mão direita para estendê-lo. Ele observa que o pedaço de pano não está rasgado, nem manchado pelos excrementos, urina,cuspe ou outras sujeiras. Então, dobrou-o e guardou-o a fim de levá-lo para casa, lavá-lo e costurá-lo no seu manto cheio de retalhos".

"Meus amigos se formos sábios, qdo as açoes corporais de uma pessoa não forem amáveis,mas suas palavras forem, não prestaremos atenção às suas açoes corporais indelicadas, ficaremos atentos somente às suas palavras amáveis. Este procedimento nos ajudará acabar com a raiva.
....

"Meus amigos, esta é a segunda maneira de acabar com a raiva:

"Se vcs ficarem com raiva de uma pessoa cujas palavras não são amáveis mas cujas ações corporais são bondosas, se forem sábios, saberão como meditar para acabar com a raiva"

"Meus amigos, digamos que não muito longe do vilarejo existe um lago profundo cuja superfície está coberta de algas e capim. Uma pessoa que está com muita sede e sentindo bastante calor se aproxima desse lago. tira a roupa, mergulha no lago e, com as mãos afasta as algas e o capim deleitando-se com o banho enquanto bebe a água fria do lago".

O mesmo acontece quando as palavras de uma pessoa não são amáveis mas suas ações corporais são bondosas. Não prestem atenção às palavras dessa pessoa. Estejam atentos somente às suas açoes corporais para conseguirem acabar com a raiva que estão sentindo. A pessoa sábia pratica dessa maneira.
........

"Meus amigos essa é a terceira maneira de acabar com a raiva:

"Se existir uma pessoa cujas palavras e ações corporais não são amáveis, mas que no coração tem um pouco de bondade, se sentirem raiva dessa pessoa mas forem sábios, vocês saberão como meditar para acabar com a raiva".

"Meus amigos, digamos que uma pessoa esteja indo para uma estrada. Ela é fraca, pobre, sente calor e sede e está cheia de tristezas. Ao chegar à estrada vê as pegadas de um búfalo contendo dentro dela um pouco de água da chuva estagnada. Ela pensa consigo mesma, "tem muito pouca água na pegada do búfalo.Se eu usar minha mão ou uma folha para apanhá-la vou fazer uma mistura lamacenta e impossível de beber. Portanto, vou me ajoelhar colocando meus braços e joelhos na terra, encostar meus lábios na água e sorvê-la diretamente. Logo em seguida ela fez exatamente isto.

Meus amigos, quando virem alguém cujas palavras e açoes corporais não são amáveis, mas em seu coração ainda existe um pouco de bondade, não prestem atenção às suas ações e palavras, mas ao pouco de bondade que está em seu coração de modo poderem acabar com a raiva. Aquele que é sábio pratica assim.
......

"Meus amigos, esta é a quarta maneira de se acabar com a raiva:

"Se houver uma pessoa cujas palavras e ações do corpo não são amáveis e em cujo coração não existe nada que se possa chamar de bondade, se ficarem com raiva dessa pessoa , mas sendo sábios, vocês saberão como meditar e acabar com a raiva.

"Meus amigos, suponhamos que alguém fica doente durante uma longa viagem. Ele está só, completamente exausto e não há um vilarejo por perto, sabendo que vai morrer antes de terminar a viagem. Se nesse momento chega uma pessoa que , diante da situação do homem, pega-o pela mão e leva-o para vilarejo mais próximo e ali cuida dele, trata sua doença e certifica-se que ele tem tudo que necessita, como roupa, remédio e alimento. Por causa dessa compaixão e bondade amorosa, a vida do homem está salva."

Assim sendo, meus amigos, quando virem alguem cujas palavras e ações do corpo não são amáveis e no coração dele nada tem que se possa chamar de bondade, deixe brotar esse pensamento:

Alguem cujas palavras e ações do corpo não são amáveis e no coração nada tem que se possa chamar de bondade, é alguém que está passando por um grande sofrimento. A não ser que encontre um amigo espiritual, não terá chance de se transformar e ir para o reino da felicidade.

Pensando assim, poderão abrir seus corações com amor e compaixão. Acabarão com a raiva e ajudarão essa criatura. Aquele que é sábio pratica assim".
......

"Meus amigos, esta é a quinta maneira de acabar com a raiva:

"Se houver alguém cujas palavras, ações corporais e a mente são amáveis, se ficarem com raiva dessa pessoa e forem sábios vocês saberão como meditar a fim de acabar com a raiva".

"Meus amigos suponhamos que não muito longe do vilarejo existe um lago muito bonito. A água é limpa e doce, o leito é tranquilo, as margens possuem uma exuberante relva e , ao redor de todo o lago, belas árvores oferecem sombra refrescante. Uma pessoa com sede, sofrendo com o calor e cujo corpo está coberto de suor, vem até o lago e tira a roupa, deixa-a na praia, mergulha na água e sente grande prazer e conforto ao beber e banhar-se na água límpida. Da mesma maneira, meus amigos, quando virem alguém cujas palavras e ações corporais são amáveis e cuja mente também é amável, prestem muita atenção a toda sua bondade de corpo, palavra e mente, não deixando que a raiva e a inveja os dominem. Se vocês não souberem viver com pessoa tão pura assim, não poderão ser considerados alguém que tem sabedoria".

"Meus caros amigos, compartilhei com vocês as cinco maneiras de acabar com a raiva". Quando os monges ouviram as palavras de Shariputra, ficaram felizes recebendo-as e pondo-as em prática."

Texto encontrado no Blog Paz cada passo

terça-feira, maio 04, 2010

Alice no País das Maravilhas

Alice daria uma ótima praticante do dharma

Respiro quando durmo é o mesmo que durmo quando respiro?

Quebrando a lógica comum Lewis Carroll abre uma brecha para outras possibilidades, uma nova percepção. Faz isso também "sabotando" a linguagem, criando "koans". Alice pode então penetrar em outro mundo, um buraco escuro e perigoso (é como vê a sociedade esta outra possibilidade, ilimitada). Dentro deste outro mundo os personagens perguntam a ela quem ela é, e duvidam de sua identidade. Até que Alice diz: "Estou tendo este sonho, faço as coisas acontecerem" e a partir daí a história muda de rumo e ela escapa de um destino condicionado, partindo para a grande China. Nos cinemas.

sexta-feira, abril 30, 2010

Aprendendo com o silêncio

Numa certa ocasião, assistia a uma sessão de mondo, lá no Mosteiro Pico dos Raios, em Ouro Preto, quando um monge foi questionado: “O que o teu mestre te ensinou?”. Manteve-se em dúvida por alguns momentos, pensando na melhor resposta. Eis que, do fundo ouvimos com estrondo. “Só ensinei o silêncio”, dizia energicamente o monge Tokuda Igarashi.
Aprender a silenciar é a maior das sabedorias. Quando estamos diante da imagem de Buda, ele diz sem proferir palavra alguma. Mas os deludidos querem argumentar e contra-argumentar, caindo nas malhas da ilusão. Quando um iludido comete uma provocação os outros respondem imediatamente, caindo também na ilusão. Quando um Buda se mantém em silêncio, todos os outros se tornam Buda e silenciam-se.
Mas estamos à mercê do apego, da raiva e da ignorância. São conhecidos por três venenos. Toda vez que as três raízes maléficas se juntam existe o confronto, pois o outro, provocado e provocador se tornam um na ilusão. Diante de uma pedra atirada, não se deve revidar, nem por legítima defesa. Se levar um chute não revida. Se levar uma cuspida, não revida. Assim agem todos os mahasattvas, os bodhisattvas, todos os arhats. Que possamos aprender com os erros cometidos mas cair novamente no erro é uma questão de bom senso.

quarta-feira, abril 28, 2010

sexta-feira, abril 23, 2010

SESSHIN NO TEMPLO TAIKAN-JI

MAIO DE 2010 - ORIENTAÇÃO: MONGE ENJÔ



LOCAL: Templo Taikan-ji – Pedra Bela – São Paulo.
DATA: dias 1 e 2 de maio de 2010, com chegada dia 1, às 8h30min. Os interessados poderão chegar no dia 30 de abril, à tarde. É necessário informar esta opção.
INFORMAÇÕES / INSCRIÇÕES: até 24 de abril, pelo e-mail. zencampinas@uol.com.br.
CONTRIBUIÇÃO: R$80,00/dia (inclui todas as refeições e hospedagem). A contribuição deve ser feita antecipadamente. Exclusivamente aos membros praticantes regulares da AZC que não puderem custear os valores acima, é oferecida a possibilidade de contribuir apenas com meia diária. A chegada na sexta-feira, dia 30, não importa em uma terceira diária.
ATENÇÃO: Os que têm restrições alimentares devem informá-las. É possível a participação somente em um dos dias acima. É necessário informar essa opção.
CARONA: Estamos organizando esquemas de carona. Os que desejarem participar, favor informar.
LEMBRETES: Usar roupas discretas, leves e folgadas, de preferência na cor preta para o zazen e confortáveis e discretas para o samu (trabalho comunitário) e trazer chinelos para uso pessoal, farolete, roupas de cama, cobertor e artigos de higiene pessoal. Poderão ser utilizados zafus próprios.
Que todos possam se beneficiar. Aguardamos sua participação e boa prática!

quarta-feira, abril 21, 2010

Essa vida

A rosa branca do quintal sempre morre.
Os pardais pousam por aqui há quantas gerações?
Formigas de perto são uma, um passo atrás e são um único cordão.

Então ouvi: Morra
Morra de morrer.
Morrer de não ficar
entre ciprestes e cicatrizes.

E soou assim:
Morra o significado
morra o "momento presente"
e morra o ausente
Morra o sujeito
e morra o crucificado

Morra o cognitivo
morra o epistemológico
e morra o transcendente
Morra o "ovo da serpente"
morra a metonímia e o legal
e morra o ideal

Morra o caro
e "o que não tem preço"
Morra a iluminação
e morra a compaixão
Morra a cura
Morra "eu sempre me esqueço"
e morra Buda
Morra o "medo que dá".

E mais:
Morra 108 vezes, diga:
"Morra" esse tanto:
Morramorramorramorra
morramorramorramorra
morramorramorramorra
morramorramor...

E reste um coração suspenso em tripas trêmulas,
a bater o tempo mudo que nasce quando tudo acaba.
Pois é morrendo que se vive este presente sem fim.

domingo, abril 18, 2010

Invariável

A imobilidade é uma ilusão —
costura teus olhos na primeira nuvem.
O silêncio é a verdade,
livra-te disso e daquilo.

segunda-feira, abril 12, 2010

De onde vem a música

Das Vantagens de Ser Bobo

Clarice Lispector

O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."

Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.

O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.

Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.

Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"

Bobo não reclama. Em compensação, como exclama!

Os bobos, com todas as suas palhaçadas, devem estar todos no céu. Se Cristo tivesse sido esperto não teria morrido na cruz.

O bobo é sempre tão simpático que há espertos que se fazem passar por bobos. Ser bobo é uma criatividade e, como toda criação, é difícil. Por isso é que os espertos não conseguem passar por bobos. Os espertos ganham dos outros. Em compensação os bobos ganham a vida. Bem-aventurados os bobos porque sabem sem que ninguém desconfie. Aliás não se importam que saibam que eles sabem.

Há lugares que facilitam mais as pessoas serem bobas (não confundir bobo com burro, com tolo, com fútil). Minas Gerais, por exemplo, facilita ser bobo. Ah, quantos perdem por não nascer em Minas!

Bobo é Chagall, que põe vaca no espaço, voando por cima das casas. É quase impossível evitar excesso de amor que o bobo provoca. É que só o bobo é capaz de excesso de amor. E só o amor faz o bobo.

terça-feira, abril 06, 2010

Leis

São três tipos de leis. Leis místicas, existencias.

1. As leis do Dharma: são as leis da natureza, do universo. Que regem as ventanias e a intensidade das brisas. A forma molecular dos cristais e dos rochedos, o carbono e o hidrogênio que constituem a nós e às estrelas do firmamento. Somos um só corpo, o corpo da humanidade, o corpo do dharma. Aqui não há sequer pensamento de "fugir", "escapar", "não aceitar", "modificar" ou "não participar" da lei, qualquer pensamento deste tipo é delusivo, imaturo e perigoso. Perigoso para o corpo da humanidade, perigoso para as outras pessoas e para si. Neste caso a palavra lei pode não ser das mais agradáveis para todos os ouvidos, mas, aqui, pode ser substituída por sabedoria.

Como poderia haver algo mais verdadeiro do que a nossa própria constituição à semelhança do universo?

2. As leis da sociedade e da família: são as leis do coletivo, dos homens e mulheres. As leis necessárias para que possa haver um corpo social em harmonia (mínima pelo menos) para a coexistência. Estas leis evidentemente são muitas vezes arbitrárias, circunstancias e conservadoras. Causadora de constantes conflitos porque são verdades para uns e não necessariamente para outros. Movem-se no ritmo dos desejos de alguns poucos e de um coletivo confuso e não esclarecido, a ser conduzido. Pode-se dizer: de um coletivo formado por pessoas que não querem e acreditam não terem tempo, nessa vida, para abandonar a delusão. E é assim, as coisas estão no seu devido lugar, pretender revolucionar a sociedade é criar novas leis destas, não resolverá. No entanto é preciso sim, que haja leis do tipo 2, precisamos conviver, somos seres sociais, um só corpo, segundo a primeira lei. Estas leis devem, em sua grande maioria serem abandonadas, o quanto antes. Mas, importante: as leis são abandonadas dentro de nós mesmos, não deveríamos querer convencer os outros arbitrariamente, não há abandornar por outro, e não há necessidade de estourar bombas e revolucionar o mundo, ou outra forma qualquer ostensiva e agressiva. Lembre-se, somos um só corpo, se eu mudo, o mundo já não é o mesmo.

Estas leis são os deveres sociais, como se já nascêssemos em dívida, isto é falso, precisa ser observado. Estes "tem que" da sociedade podem ser abandonados em benefício da própria sociedade.

3. As leis pessoais: aquelas que criamos para nós mesmos e que portanto não têm existência intrínseca. Que incorporamos sem saber (ou não), pela educação, cultura, carências, insegurança e experiências boas e más no passado. Todo eu particular (ego), centro das leis pessoais, carece ser mantido e autoafirmado, a todo momento, porque está fadado a se despedaçar no próprio movimento do dharma (a roda da lei). Esta é a maneira que desenvolvemos para viver num mundo incompreensível, misterioso e contraditório. Este tipo de lei deve e pode ser abandonada, completamente, agora mesmo. E ao fazermos isto, consequentemente surge radiante a sabedoria, nossa verdadeira natureza. Aberta ao mistério, porque participa dele, aberta à contradição, que já não há.

O ego pode criar uma grande resistência à percepção do dharma, e neste momento ele talvez esteja cheio de argumentos e justificativas para reafirmar sua existência. Mas não há porquê se preocupar, como seres manifestados precisamos dele, do ego, claro. Veja, o ego é só um nome para uma construção mental. Neste caso, o único ego que precisamos é aquele que nos ajuda a manter ele próprio vazio a todo instante, isto é, sem nenhuma experiência boa ou má cristalizada. Sem segurar o que quer que seja, sem acreditar que possui algo. Este eu, que assim vai além do ego, não precisa acreditar, não precisa crer, ele sabe, sabe porque observa este movimento de autoconstrução circunstancial constante mas não prega um prego, não enterra no solo uma viga sequer, ele apenas observa este fluxo sem paradeiro. Como os primeiros da nossa espécie, a sabedoria é nômade, ela não precisa construir casas porque ela já está em casa.

Neste tipo de lei pessoal, a ser abandonada, o pior seria querer que outros forçosamente acreditassem nelas também. Seria um pequeno terror, desejar que outros incorporem as leis que desastrosamente inventamos para nós. Seja por vias sutis ou diretas. Por outro lado, ao nos libertarmos, libertamos também o outro.

- A dimensão psicológica prende-se aos aspectos das leis 2 e 3 e portanto deve ser abandonada. Abandonar não significa que a parte psicológica da mente, digamos assim, irá desaparecer, significa que esta não será mais dominante e será encarada apenas como mais um aspecto da existência.

quarta-feira, março 24, 2010

Ação Correta




Dias atrás uma amiga falava de um amigo em comum, que havia estado na Índia de férias, e lá passou um tempo num ashram (local de prática espiritual), conviveu com "Avatares Iluminados", na presença de um deles teria chorado copiosamente, apenas pela presença. Noutro momento, teve a oportunidade de conhecer o principal mestre do local, que recebia grupos de pessoas para uma entrevista direta, e nesta entrevista perguntaram, entre outras coisas, o que acontecia depois da morte. O mestre então disse que as pessoas inicialmente rememoravam toda a sua vida passada e depois escolhiam para que "plano" ou "mundo" seguir. Interessante esta visão, pois no caso é a própria pessoa que escolhe, depois de tomar consciência do conjunto de sua vida até aquele momento. Diferente das chamadas grandes religiões, onde sempre há uma entidade julgando aquele que chega no céu e decidindo por ele para que tipo de paraíso ou inferno ele deverá seguir.

O Zen não se ocupa destas questões, o que acontece depois desta vida veremos quando lá chegarmos. Se estamos presentes em nossa vida diária, se a todo instante estamos atentos, temos condições de decidir o melhor para aquele momento, ou ainda: atentos, deixamos fluir e observamos o próprio dharma se fazer, e vamos juntos, entre causas e efeitos.

Mas lembrando a resposta do grande mestre do ashram indiano, podemos fazer uma relação direta com a prática zen. No zen não fazemos distinção entre vida e morte, não da maneira comum. Se estamos vivendo, então estamos vivos, óbvio, mas do ponto de vista do nascimento, estamos morrendo, a cada instante, então também estamos mortos - vivos e mortos simultaneamente, como na física quântica. Cada instante vivido e observado é profundo e é um nascimento e uma morte em si, esta é uma visão do desapego. Bem, se estamos profundamente atentos aqui e agora, estamos percebendo que estamos morrendo, vivendo intensamente. A prática do zen escancara as portas da percepção da mente e do corpo e naturalmente o auto-conhecimento é percorrido, então convivemos a todo instante com todos os "ingredientes" da nossa vida, nossas causas e condições, as observamos e as aceitamos. Este é o tal "filme da vida", a rememoração de todo o passado, ele está aqui, em termos de desapego e sabedoria. Desta forma o zen não quer saber o que acontece depois da morte, daquela morte do caixão e do enterro, observamos a morte desde agora, a cada respiração, e decidimos pela "Ação Correta", que se completa de forma circular e dinâmica na observação do "Caminho Óctuplo". Assim o Caminho Óctuplo ganha sua dimensão:

1. Visão Correta - Sabedoria
2. Pensamento Correto - Sabedoria
3. Fala Correta - Ética
4. Ação Correta - Ética
5. Meio de Vida Correto - Ética
6. Esforço Correto - Prática contemplativa
7. Atenção Correta - Prática contemplativa
8. Prática Contemplativa (zazen) Correta - Prática contemplativa

Não há ninguém que possa decidir por nós, para qual mundo ir ou permanecer depois da morte (agora!), já estamos praticando isso, já nos movemos no caminho, passo-a-passo.

Não há ninguém que possa praticar por nós.

Não sabemos permanecer.

Esquecemos teorias.

segunda-feira, março 22, 2010

Confiança no translúcido
das formas incessantes

Para onde quer que olhem
estes olhos da face, como se não o fossem
Iluminam, para onde quer.
Obscurece apenas a pequena mente, renitente

Mas sob o sol, folhas fazem sombras na calçada
Não é o sol as formas das folhas na sombra?
Como olhos sem pensar, envolvente.
Vasto, vasto, da cor do que não acaba.

O que poderia fazer para impedir o belo de aparecer? (Deveria?)
Em todo lugar, a todo instante... (Não o faça!)
Chamaria então tudo belo, sendo: o que nem feio nem bonito
E que por encanto é assim, por natureza, e ainda antes: movendo...

Nem homem
nem mulher
nem flor
nem ramo
nem céu
nem chuva
nem cor
nem forma

Fios de água
Gotas sem cor
Fluxo de reflexos ondulantes
tudo ainda então,
movendo...

terça-feira, março 16, 2010

As Cinco Lembranças

1. "Pertenço à natureza do envelhecimento; não há nenhum modo de escapar do envelhecimento."

2. “Pertenço à natureza das doenças; não há nenhum modo de escapar de sofrer alguma doença."

3. “Pertenço à natureza da morte; não há nenhum modo de escapar da morte."

4. “Tudo aquilo que me é querido e todos que amo pertencem à natureza da impermanência. Não há nenhum modo de evitar me separar deles algum dia."

5. "Minhas ações são meus únicos verdadeiros pertences. Eu não posso escapar àsconseqüências de minhas ações. Minhas ações são o solo sobre o qual eu piso."

segunda-feira, março 15, 2010

Abandona o momento exato

Não mais ouvir assim, não mais ver assim, não mais lembrar assim, não mais sentir assim... Quando alguém Observa o nascimento das formas da mente, o momento preciso disto, estará aberto à "Grande Morte".

A morte que ultrapassa a morte, que vai além da sua vida, de qualquer vida. Vida à qual se pode chamar Livre. Porquê a própria raiz do apego foi exposta e abandonada, sem demora.

A mais clara e desperta vida nasce onde morrem as formações mentais. A cada instante, sem demora. Este momento é o Shikantaza, a iluminação. É simples, a iluminação acontece quando se pratica a iluminação e, claro: não é apenas sentado (em zazen), mas também na mente comum da vida cotidiana, da mais insignificante vida. Então: não mais falar assim, não mais querer assim, não mais sorrir assim...

Esta é a expressão da confiança no Dharma dos Budas.

segunda-feira, março 08, 2010

Vencer o inimigo pela gentileza

Um pequeno retrato de um companheiro de sangha, Rodrigo Pedaleiro. Um documentário preciso sobre sua prática de Kung-fu, onde se percebe que esta não está separada de sua vida. Como deveria ser com tudo o que fazemos. Nos arriscamos muito observando de fora, sem nos envolvermos com as coisas, muitas vezes com um distanciamento calculado, em participações muito condicionais. A vida quer o seu mergulho, assim ela o espera, sem separação, sem julgamento, sem comparação.



sexta-feira, março 05, 2010



Contemplação da Lua

Acontece neste mês, dia 30, às 19hs, no Templo Busshinji, o encontro de haicaístas a fim de contemplar a lua, evento anual que comemora o aparecimento da primeira lua cheia de outono. No ensejo, nos primeiros 30 minutos, os participantes apreciam a lua e compõem haicais. Depois, reúnem-se e apreciam o trabalho dos outros, e escolhem o de sua preferência. Mais tarde, pode-se saber o haicai mais votado, bem como o autor que teve o melhor desempenho.

Evento que acontece anualmente no local, com o patrocínio do Templo Busshinji e do Grêmio Haicai Ipê. Aberto a todos, pede-se trazer papel e caneta. A única condição é que se componha haicai, cujo termo de estação (Kigo) seja justamente a lua cheia de outono.

Templo Busshinji: rua São Joaquim, 285, Liberdade - próximo à Estação de metrô São Joaquim.

terça-feira, março 02, 2010

O silêncio do fundo

"Percepção" na prática do dharma de buda é estar em unidade com o que se percebe, ser um com a percepção. Pode-se usar ainda a palavra "profundamente" para dar ênfase a este tipo de ação. "Observar" também pode ser usado com o mesmo efeito. Quando se observa da "forma budista", há uma coisa só, uma completa interação, qualquer separação ou dualidade não passa de um efeito particular restrito a um ponto de vista aleatório, relativo a algo ou alguém. Então "perceber" ou "observar" é a própria expressão da unidade. Quando o Buda Shakiamuni declara: Eu, a estrela da manhã, a grande terra e todos os seres somos iluminados, ou, somos um só, ele percebe (profundamente) a iluminação, o fluxo na unidade causal entre todas coisas onde não há exceção, a verdade sem máculas, então: "Eu": o centro do universo; a "estrela da manhã": uma luz na abóbada celeste vinda de um outro espaço-tempo; a "grande terra": onde flui a nossa vida, o nosso espaço-tempo; "todos os seres": tudo o que está manifestado, tudo o que se diferencia, desde um grão de poeira a um beija-flor e uma cordilheira; pertencemos dinamicamente a um só fluir, uma só causa.

Quando falamos sobre a iluminação enquanto não a OBSERVAMOS, estamos nos iludindo no caminho, tentamos entender o desconhecido projetando nossa criatividade deludida. Ainda estamos querendo adquirir algo, adquirir conhecimento, consumir, banalizar. Se pensamos que a iluminação depois de alcançada é fixada ou não, é adquirida para sempre, ou não, estamos projetando nossa necessidade de possuir (fixar) algo num mundo onde o possuir é uma ilusão circunstancial. Somos com o universo a própria iluminação, onde perder e ganhar é exatamente a mesma coisa, onde a ânsia da dualidade é nonsense.

O Zen aponta um caminho e é preciso deixar de olhar para a seta que aponta e observar, profundamente, o próprio Zen, entregar-se à esta observação, soltar as mãos das ramagens à beira do rio e afundar como um tronco impregnado pela água no silêncio movediço do fundo. Observe o silêncio. Observe o sol e as folhas das árvores, lá do fundo, completamente envolvido. Pratique o Zazen Shikantaza sem condições, não coloque obstáculos onde não há, aprofunde-se, vá além do que pensa de si mesmo, vá até a ponta da raiz durante os sesshins, descubra onde nascem os rios, radicalize!

terça-feira, fevereiro 23, 2010

Apego e confusão

Apego/desapego. Eis um conceito muito confuso porquê em grande parte das vezes entendido de forma superficial, observado com uma mente condicionada, fechada em si mesma. A questão é que palavras e logo conceitos são inerentes à nossa condição humana atual, porém, quem é que tem TEMPO de ir além das palavras? O budismo se utiliza também de palavras para expressar sua "pedagogia", mas palavras são vazias, são formas apenas, e nela depositamos o que queremos, e cada um deposita uma coisa diferente e acaba fixando uma forma (a "sua" forma de ver porquê acredita também numa identidade pessoal fixa), se apegando a esta forma, e aí começa todo o conflito e sofrimento.

Aprofundando-se na percepção da natureza intrínseca de todas as coisas, a verdade é muito simples, mas ela só é realmente observável direta e individualmente, ninguém pode ter um insight por outra pessoa. Esta natureza é simplesmente o fato de que tudo, absolutamente tudo neste universo está se movendo: movo meu corpo enquanto ando, dentro dele o suco gástrico se desloca e reage com diversos alimentos que se moveram até o estômago, são plantas que foram regadas, e se moveram em direção à luz, e que brotaram num solo preparado a partir de uma semente, dentro da semente há átomos semelhantes aos meus, que por sua vez estão continuamente se combinando e recombinando em novas estruturas, e dentro destes átomos os elétrons e neutros estão em constante movimento, tudo isso sobre uma placa tectônica da crosta terrestre que se move (onde estão meus pés), num planeta que gira sobre si mesmo e ao redor de uma estrela chamada sol, que está se resfriando e um dia vai morrer... Veja, nem o sol escapa do movimento, porquê nós humanos escaparíamos? Porquê nós teríamos a capacidade de fixar as coisas? Na verdade isto só acontece dentro da nossa mente deludida, e em nenhum outro lugar real deste universo, o universo não conhece "parar", não há objeto que não se mova incessantemente, então poderíamos até mesmo mudar a palavra "objeto" para "movimento", já que tudo está se transformando, se deslocando de um ponto no espaço-tempo para outro ponto no interior da eternidade.

Apego nada mais é do que pretender fixar as coisas, que é a mesma coisa de acreditar em algo fixo, isto é apego no sentido budista, nada mais. E aí estão dois erros comuníssimos: a crença e a fixação. O budismo não requer crença pois não acredita na imobilidade - isto é a tal da impermanência. Budismo são olhos que vão além dos olhos e observam plenamente, e isto acontece através da prática do zazen shikantaza.

Então eu posso ter um carro, uma casa, dinheiro, mulher, marido, filhos, um iate, um cancer, uma dor, uma tristeza. "Ter" aqui tem o sentido de "estar com" por um período determinado, apenas isso, observar isso profundamente a todo instante é desapego, estar preparado para deixar ir quando for o momento é desapego. Deixar vir, deixar ir é desapego. Observar nitidamente este fluxo é estar neste fluxo, é findar o apego, é ser livre, profundamente livre, mas, quem quer, de verdade, até a raiz do cabelo?

sexta-feira, fevereiro 19, 2010

Deus é nada

Documentário de Tânia Quaresma. Mostra um sesshin no mosteiro Pico de Raios em Ouro Preto com o mestre Tokuda em 1992. Há no final um teishö (palestra).

Mosteiro Zen Pico de Raios from Tokuda Igarashi on Vimeo.

Hoon Sesshin

a quem devemos agradecer
pelo bem e mal?

terça-feira, fevereiro 09, 2010

Sesshin

O sol nasce para todos e a ninguém cobra

Alguns pensam que querem se aproximar do fogo.
E quando pensam muito, pensam o que todos pensam
e pensando que pensam corretamente desistem

Outros se aproximam do fogo, mas só um pouco
- isto já é o suficiente, nada de avermelhar a pele
queimar então é que não, vão até onde chegam
seus óculos escuros e protetores solar, desta ou daquela marca

Outros sim, estão dispostos, se aproximam muito do fogo
e por horas o encaram, as faces vermelhas, os olhos em chamas
até chamuscam, estes ficam íntimos, nem se importam
com o calor, se expõem como são, sem proteções
mas quando chega o momento de se deixarem torrar em labaredas, são tomados pelo medo e se afastam, mantêm distância, mínima, mas mantém

Mas há os que se aproximam tanto, tanto, que seus pés
se acendem como lâmpadas e sua mente que também arde
se abre como uma flor no jardim dos budas, e tudo
fica indizivelmente claro. E desse jardim já não retornam
embora estejam aqui: sentando, comendo, varrendo e cantando.

E por último há aquele que encontra o centro do fogo
e lá permanece, e estando lá está aqui, destes só ouvi falar.

quinta-feira, janeiro 28, 2010

Sangye Gyatso

Nosso amigo e colega de prática do Bushinji, Hokkio, agora se chama Sangye Gyatso. Está vivendo na Índia e recentemente foi ordenado monge pela escola tibetana, seu mosteiro é o www.mindrolling.org Que ele encontre o portal sem portal neste novo caminho que escolheu!