Nagasena, o sábio budista, tentou explicar ao Rei Milinda a visão de que os indivíduos são um agregado de atributos, tais como intelecto, emoções, corpo, todos temporais e em constante mudança. Para tanto, serviu-se do exemplo da carruagem e disse:
"Ouça, ó grande rei, por acaso o timão é a 'carruagem'?"
"De fato não é, reverendo senhor."
"O eixo é a 'carruagem'?" - "De fato não é, reverendo senhor."
"Será que as rodas são a 'carruagem'?" - "De fato não, reverendo senhor."
"O corpo da carruagem é a 'carruagem'?" - "De fato não, reverendo senhor."
"O mastro da carruagem é a 'carruagem'?" - "De fato não, reverendo senhor."
"A canga é a 'carruagem'?" - "De fato não, reverendo senhor."
"As rédeas são a 'carruagem'?" - "De fato não, reverendo senhor."
"O chicote é a 'carruagem'?" - "De fato não, reverendo senhor."
"Bem, grande rei, a soma total do timão, eixo, rodas, corpor da carruagem, mastro, canga, rédeas e chicote constitui a 'carruagem'?" - "De fato não, reverendo senhor."
"Bem, grande rei, a 'carruagem' é algo além da soma total do timão, eixo, rodas, corpo da carruagem, mastro, canga, rédeas e chicote?" - "De fato não é, reverendo senhor."
"Grande rei, fiz todas as perguntas de que posso pensar, mas não consigo descobrir a 'carruagem'! "Aparentemente, a 'carruagem' não passa de um som."
(O rei explicou) "Por causa do timão e por causa do eixo, por causa das rodas e por causa do corpo da carruagem, e por causa do mastro, o epíteto, a designação, o título, o estilo, o nome 'carruagem' é usado correntemente."
Nagasena replicou que o mesmo é válido para o indivíduo. "Por causa dos vários órgãos do corpo, por causa da sensação, da percepção e da consciência, por causa de tudo isso, entra em uso o epíteto, a designação, o título, o nome - mas apenas o nome - 'Nagasena'. No sentido mais elevado da palavra, entretanto, não se pressupõe, a partir daí, que qualquer 'indivíduo' exista."
(Burlingame, 1922, pp. 202-204).
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