domingo, março 09, 2008

Libertação dos gakis


No universo simbólico budista há a presença de dez estágios de entendimento. Tratemos, no entanto, dos “seis mundos inferiores” formados pelas vias de expiação, apego e ausência de luz nas seguintes categorias: inferno, animais, gaki, shura, homens e devas. O homem também está num estágio de apego não apenas à matéria, mas igualmente às idéias. As idéias dizem respeito ao espírito. Acima dos homens estão os devas, ainda apegados, mas possuidores de qualidades que os tornam melhores que os humanos. Entretanto, sofrem por causa da vaidade e falta de compaixão.

No entanto são os que se encontram abaixo da condição humana, os que mais sofrem. Um shura é um guerreiro incansável, extremamente apegado às suas convicções, metas e realizações. Pode ser visto como um ser humano, com diferença de se manter acorrentado às paixões de sua própria auto-realização, sem medir conseqüência de seus atos. Sofre em demasia diante das derrotas, pois visa apenas a vitória.

Abaixo deste estão os gakis. É representando como alguém de debilidade física, troncudo, meio corcunda, feio, faminto e com sede. Perambulam de um lado para outro, como fantasmas, pedindo alimento e água. Ainda que consigam alimento e água, o que os tornam barrigudos, não conseguem saciar fome e sede.

Estas categorias podem se referir ao próprio homem, em estados emocionais de queda, desde os apegos de ordem espiritual às de total dependência orgânica. No caso, o gaki somente se realiza, ainda que momentaneamente, comendo e bebendo. Claro que ele é extremamente apegado, beirando às condições sub-humanas de sobrevivência. Por isso, a salvação de um gaki estaria na mudança da sua mentalidade, mas enquanto isso não acontece precisa sanar suas necessidades imediatas. Dar de comer e beber a um gaki é um ato de compaixão, portanto totalmente isento de recompensa.


Um gaki consegue alimentar-se somente pela mão alheia, pois com as próprias mãos não obtém resultado. Por causa de seu aspecto horripilante, ninguém se aproxima dele. Ao contrário, foge. Ou ainda, não se importa com o sofrimento alheio.

Justamente no mundo em que vivemos, as condições apresentadas facilitam o aparecimento de gakis. Podemos dizer de outra forma: da miséria. E a miséria é a própria contradição da existência do acúmulo da riqueza. O gaki é uma representação sobrenatural de algo muito próximo de nossas vidas.

Alimentando os gakis


Durante a realização da Cerimônia de Equinócio costuma-se montar uma mesa com fartura na entrada do templo. Ocasião em que acontece o Sejiki - doação de alimentos. Canta-se na ocasião o Portal da Ambrosia (Kanromon), em que o monge oficiante liberta e chama os gakis para o banquete, abre em seguida as suas bocas e depois deposita um pouco de alimento. Feliz, os gakis reconhecem o ato de compaixão e, em retribuição, dançam demonstrando alegria e, em seguida, retornam ao seu mundo.

Desta vez, a representação dos gakis, durante o canto do Portal da Ambrosia aconteceu na Cerimônia de Equinócio de Outono (Aki Higan), dia 9 de março, domingo, no Templo Busshinji. Oportunidade única, pois serviu de transmissão pedagógica do que realmente dizia o Portal da Ambrosia: doação de alimentos.

Costuma-se nesta ocasião, no Equinócio, ir ao encontro dos antepassados ao atravessar “a outra margem”. Os alimentos são oferendas aos nossos antepassados, mas também a todos os outros que necessitam, entre eles os marginalizados e desprezados gakis. Seres tristes, corroídos pelo sofrimento, são devidamente alimentados pela ação boa dos homens de bem.


Uma cerimônia é um ato simbólico que representa as nossas profundas intenções no plano real. O contrário disto vira apenas espetáculo. Por isso, ao participar de uma cerimônia é assumir compromissos. Em referência, ajudar a todos sem distinção.

Um comentário:

  1. Anônimo5:27 PM

    Um shura é um GUERREIRO INCANSÁVEL, extremamente apegado às suas convicções, metas e realizações. Pode ser visto como um ser humano, com diferença de se manter acorrentado às paixões de sua própria auto-realização, sem medir conseqüência de seus atos. Sofre em demasia diante das derrotas, pois VISA APENAS A VITÓRIA!

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