quarta-feira, junho 25, 2008

Sim, não há fronteiras


Mestre Saikawa prepara-se para o zazen.

"Cada vez mais a vida numa cidade grande, como São Paulo, vem enfrentando as conseqüências de seu próprio crescimento. Há falta de transportes e, por ironia, aumenta o número de veículos domésticos nas vias públicas. Não somente isso, a poluição principalmente nos dias de inverno torna o ar denso e não apropriado para a inalação. Sem contar a quantidade de pessoas que trafegam pelas ruas, muitas delas em situação crítica: desemprego, sub-emprego, aposentados, marginalizados e policiais.

Rostos anônimos que desconhecem a amizade e qualquer tentativa de aproximação pode ser vista com desconfiança. Neste caldeirão social que ferve com todos os seus conflitos, sem que possa resolver os problemas, repartimos a geografia física. São Paulo é uma grande bolha espacial e psicológica. Pela manhã a correria nos pontos de ônibus, estações de metrô e pedestres calcando o chão ainda fresco de uma noite nem sempre calma. Após horas de labuta, antes que anoiteça o processo se repete: a multidão se forma. E assim, um dia se foi. São Paulo está condicionado a produzir sempre, independente das condições emocionais de seus habitantes.

Em cada rua trafegada, as marcas dos pés acabam deixando rastros invisíveis e impregnados de sentimentos. As vozes abafadas do centro continuam ecoando no silêncio da alma. São Paulo não cessa de respirar uma única vez. No avançar da noite, outros ocupantes vão se dispersando como saídos de seus ninhos protegidos pelos murais de concreto: seres fluidos usando roupas espaciais em constante metamorfose.

Qualquer tentativa de reverter esta situação nos parece duvidosa. Entretanto, aquiescermos diante das condições apresentadas seria irônico. Levando em consideração a quantidade energia desencontrada, devido a sua diversidade de interesses, classes e padrões culturais, o que converge é justamente a ocupação territorial. Todos somos paulistas apesar das diferenças. O que se pode fazer então? Criar condições para a criação de harmonia. E podemos falar em harmonia quanto existe justamente a diferença. Se a diferença existir enquanto diferença apenas, a harmonia não poderá se fazer presente. Mas a convivência na diferença, penetrando nos meandros de sua aparente contradição faz surgir a harmonia e conseqüentemente a compaixão.





Método
Acreditando que o mundo ocorre numa rede de interdependência, na qual uma ação ou não ação acaba repercutindo em todos os cantos, a atuação proposta é a meditação vazia (zazen) realizada no alto de um edifício na cidade de São Paulo. Ficar em postura meditativa com a mente alerta é capaz de produzir a harmonia desejada. De maneira objetiva não vai resolver os problemas da grande metrópole mas subjetivamente, através da sintonia entre as mentes, uma calma poderá surgir. Na verdade, a mente de todos os habitantes desta metrópole, 12 milhões, são uma mente única. Desencadear uma reação harmoniosa só é possível quando uma parte mínima desta mente provoque um choque em rede."
Texto: Jisho


Seigen, Saikawa Roshi, Jisho e Wajun no dia 20/06.

Um comentário: