domingo, novembro 02, 2008

Zazen no cemitério

sentado no cemitério
sem dividir vida e morte
a cerejeira dá sombra
o cipreste aponta o céu
por um só caminho
passam vivos e mortos
este monge permanece firme em seu propósito
praticando o não-saber
os visitantes comentam: este viveu muito, aquele pouco
o mestre sussurra no ouvido do aluno:
muito ou pouco, nem o céu pode medir
famílias trazem flores, baldes e vassouras
é dia de faxina nas sepulturas
os que podem pagam para alguém limpar o mármore
os que não podem esfregam eles mesmos o cimento, suando sob o sol
quando estamos sonhando, não há nada fora do sonho
quando se desperta, não há nada que já não estivesse desperto
não se guarda um pedaço de sonho, nem se retém o momento do despertar
de um lado do muro a criança corre, a mãe ralha, o pai se cala, a avó descansa
de outro lado, pedintes e inválidos sob a sombra do muro
os fantasmas transitam de um lado para o outro
um gato entra e sai sem passar pelo portão
ainda criança este monge sonhava
entender vida-e-morte
não há ninguém para entender
sobre uma lápide o gato lambe a pata

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