quinta-feira, janeiro 22, 2009

O princípio



Esta plaquinha é muito comum nos banheiros masculinos, dentro dos boxes onde há o vazo sanitário. E por mais bizarro que pareça, é assim que começam as religiões. Hoje eu leio este aviso e penso: é claro, nem precisava colocar isso aí. Mas na minha adolescência, talvez não fosse assim tão claro, nada claro eu diria. Não que eu tivesse o hábito de depredar banheiros, mas também não ligava muito.

Na verdade, para quem isto é obvio? Muitos descontam suas pequenas misérias individuais nos bens de uso público, muitas mentes confusas em revolta, todas com suas razões pessoais, muitas vezes coisas da idade. Outros, mais velhos, talvez estejam muito ocupados com seus pensamentos particulares para tomarem tento com a situação em que se encontram, outros acham que sempre vai haver alguém para fazer as coisas por ele.

Sentimo-nos crianças ao ler estas palavras, crianças ouvindo o pai ou a mãe dando um pequeno sermão, de como se comportar bem quando se está sozinho. Este é um dos poucos lugares em que estamos realmente sozinhos. Algumas pessoas até mantém o banheiro limpo, mas agem por culpa ou porquê mesmo sozinhos sentem que alguém as está observando.

Mas voltando ao "óbvio". É claro que aquele banheiro não é só meu, claro que depois de mim alguém mais entrará, e este alguém serei eu mesmo, várias vezes ao longo do dia. Pois se somos todos Budas, também somos Budas no banheiro urinando e evacuando. E depois de nós outros Budas entrarão para fazer suas necessidades fisiológicas. Então está claro, utilizo o momento presente, o aqui e agora, que é o único tempo que disponho para agir, e deixo o ambiente harmônico para a próxima pessoa. Bem, esta obviedade toda precisa ser escrita por algum motivo, e aí nascem os novos testamentos, os torás, os vedas, tri-pitakas, alcorões e outros, cada um sob um ponto de vista, uns mais, outros menos abertos. Mas aí nascem as religiões, no interior de cada banheiro.

3 comentários:

  1. Acho que tudo muda quando você passa a ter a compreensão correta. Quando não se compreende os atos, agimos sem pensar nas consequencias, simplesmente imitando o resto da sociedade ou agindo por impulso. Quando passamos a compreender, sabemos que cada ato gera uma consequencia, e essa consequencia boa ou má alguma hora retornará para nós.
    Parabéns pelo texto. Abraço

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  2. Gustavo, é verdade. Mas a vida se dá ainda mais rápida, mais imediata e presente. O nosso ato negligente já é na verdade um carma condicionado, já estamos sendo o "retorno" do mundo.

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  3. Belíssimo texto, Seigen.

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