quinta-feira, novembro 05, 2009

Nunca passei por aqui


Quando via um passarinho no caminho,
parava e esperava, só para ver seu vôo
fosse Sabiá, Bem-te-vi, Sanhaço, Rolinha, Periquito,
ou outro sem nome.

Costumava mudar de calçada sempre que via um pela frente
ciscando sementes, catando gravetos, assim
permanecia tudo em seu lugar

Nas noites difíceis, quando já não sentia nada, nada mesmo,
tocava o chão de pedra, ou de cimento, com a barriga
e o calor do sol ainda aquecia, era assim que me acalmava.

Mas nunca desconfiei da morte, nem me era dado pensar nela
tinha fé na ponta das minhas garras, na maciez do salto,
nas orelhas exatas e naquele grande bigode espigado.

Da morte, é melhor não falar, ou pensar.
A morte, é melhor viver, experimentar por si.
Não que se queira morrer, dessa morte definitiva,
pelo contrário, e é só por isso que estou aqui,
falando de passarinhos e de raios de sol.


Foto: Seigen Mitih

3 comentários:

  1. Seigen-san!
    Fez-me refletir bastante - lenha para um inverno todo...
    Estava devendo o link do blog, então aí está.

    http://atalhoalternativo.blogspot.com/

    A postagem mais recente é sobre um bichano também.
    Gashô!!

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  2. Em tempo, peço a licença para citar algo que li hoje, e lembrei da sincronicidade das postagens:

    "Gato que brincas na rua
    Como se fosse na cama,
    Invejo a sorte que é tua
    Porque nem sorte se chama.

    Bom servo das leis fatais
    Que regem pedras e gentes,
    Que tens instintos gerais
    E sentes só o que sentes.

    És feliz porque és assim,
    Todo o nada que és é teu.
    Eu vejo-me e estou sem mim,
    Conheço-me e não sou eu.

    Fernando Pessoa, 1-1931 "

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