terça-feira, dezembro 08, 2009



Altar

Nosso altar é um tamborete sob a pitangueira,
de três pernas tortas e um tampo de tronco de árvore.
Oferecemos mamão, banana e melão, entre outras frutas,
como nos templos. Seres alados vêm buscar, é certo.

De dia, com asas de plumas, à noite com asas de couro negro.
É certo, eles vêm. Uns com a luz clara do dia, outros na sombra.
Também é certo, vêm e nem pensam, não se fazem de rogados,
sua cerimônia é a atenção ao perigo, ao que não se poder ver.
Cuidam dos sons e das sombras diante do alimento.

Todos esperam o silêncio para se aproximar do altar,
os que vêm de dia deixam tudo ficar imóvel,
os da noite, abrem o profundo da escuridão aqui mesmo no quintal e se servem.
Uns cantam bem alto o mamão oferecido, outros cuidam para ficarem sós.

Todos, sem saber, agradecem, sempre, isto é certo,
agradecem ao que trouxe aquelas frutas alí para o tamborete
Agradecem sendo o que são, só isso, não se esforçam
(é verdade que um dia deixaram cair uma flor do céu)

Depois... depois vêm seres alados de seis patas, vêm outros rastejantes, vêm os que não se vê e tudo some, alí mesmo.

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