quarta-feira, setembro 09, 2009

Nirvana


"As imagens refletidas num pequeno lago soprado pelo vento são entrecortadas, fragmentárias e continuamente oscilantes. Mas se o vento parasse de soprar e a superfície ficasse imóvel - Nirvana: "além, ou fora (nir-) do vento (vana)" - poderíamos ver não imagens entrecortadas, mas o reflexo perfeito de todo o céu, das árvores em volta e, nas profundezas calmas do próprio lago, seu belo fundo arenosos e os peixes. Poderíamos então ver que todas as imagens entrecortadas, que antes percebíamos fugazmente, eram na verdade apenas fragmentos dessas formas fixas reais, agora vistas de modo nítido e estável. E poderíamos ter à nossa disposição, em consequência, tanto a possibilidade de imobilizar a superfície do lago para apreciar a forma fundamental, quanto a de deixar o vento soprar e a água encrespar-se, pelo simples prazer do jogo (lila) das transformações. Já não se tem medo quando uma vem e a outra vai: nem mesmo quando a Forma Original desaparece. Pois Aquela que é tudo permanece para sempre: transcendente - além de tudo; porém também imanente - presente em tudo."

Joseph Campbell em As Máscaras de Deus - Mitologia Oriental

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