quarta-feira, abril 21, 2010

Essa vida

A rosa branca do quintal sempre morre.
Os pardais pousam por aqui há quantas gerações?
Formigas de perto são uma, um passo atrás e são um único cordão.

Então ouvi: Morra
Morra de morrer.
Morrer de não ficar
entre ciprestes e cicatrizes.

E soou assim:
Morra o significado
morra o "momento presente"
e morra o ausente
Morra o sujeito
e morra o crucificado

Morra o cognitivo
morra o epistemológico
e morra o transcendente
Morra o "ovo da serpente"
morra a metonímia e o legal
e morra o ideal

Morra o caro
e "o que não tem preço"
Morra a iluminação
e morra a compaixão
Morra a cura
Morra "eu sempre me esqueço"
e morra Buda
Morra o "medo que dá".

E mais:
Morra 108 vezes, diga:
"Morra" esse tanto:
Morramorramorramorra
morramorramorramorra
morramorramorramorra
morramorramor...

E reste um coração suspenso em tripas trêmulas,
a bater o tempo mudo que nasce quando tudo acaba.
Pois é morrendo que se vive este presente sem fim.

2 comentários:

  1. André Luis2:16 PM

    Quanto sentimento!

    Eis aqui a essência do Caminho, que nem sequer é Caminho.

    Muito lindo, obrigado!

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