terça-feira, abril 06, 2010

Leis

São três tipos de leis. Leis místicas, existencias.

1. As leis do Dharma: são as leis da natureza, do universo. Que regem as ventanias e a intensidade das brisas. A forma molecular dos cristais e dos rochedos, o carbono e o hidrogênio que constituem a nós e às estrelas do firmamento. Somos um só corpo, o corpo da humanidade, o corpo do dharma. Aqui não há sequer pensamento de "fugir", "escapar", "não aceitar", "modificar" ou "não participar" da lei, qualquer pensamento deste tipo é delusivo, imaturo e perigoso. Perigoso para o corpo da humanidade, perigoso para as outras pessoas e para si. Neste caso a palavra lei pode não ser das mais agradáveis para todos os ouvidos, mas, aqui, pode ser substituída por sabedoria.

Como poderia haver algo mais verdadeiro do que a nossa própria constituição à semelhança do universo?

2. As leis da sociedade e da família: são as leis do coletivo, dos homens e mulheres. As leis necessárias para que possa haver um corpo social em harmonia (mínima pelo menos) para a coexistência. Estas leis evidentemente são muitas vezes arbitrárias, circunstancias e conservadoras. Causadora de constantes conflitos porque são verdades para uns e não necessariamente para outros. Movem-se no ritmo dos desejos de alguns poucos e de um coletivo confuso e não esclarecido, a ser conduzido. Pode-se dizer: de um coletivo formado por pessoas que não querem e acreditam não terem tempo, nessa vida, para abandonar a delusão. E é assim, as coisas estão no seu devido lugar, pretender revolucionar a sociedade é criar novas leis destas, não resolverá. No entanto é preciso sim, que haja leis do tipo 2, precisamos conviver, somos seres sociais, um só corpo, segundo a primeira lei. Estas leis devem, em sua grande maioria serem abandonadas, o quanto antes. Mas, importante: as leis são abandonadas dentro de nós mesmos, não deveríamos querer convencer os outros arbitrariamente, não há abandornar por outro, e não há necessidade de estourar bombas e revolucionar o mundo, ou outra forma qualquer ostensiva e agressiva. Lembre-se, somos um só corpo, se eu mudo, o mundo já não é o mesmo.

Estas leis são os deveres sociais, como se já nascêssemos em dívida, isto é falso, precisa ser observado. Estes "tem que" da sociedade podem ser abandonados em benefício da própria sociedade.

3. As leis pessoais: aquelas que criamos para nós mesmos e que portanto não têm existência intrínseca. Que incorporamos sem saber (ou não), pela educação, cultura, carências, insegurança e experiências boas e más no passado. Todo eu particular (ego), centro das leis pessoais, carece ser mantido e autoafirmado, a todo momento, porque está fadado a se despedaçar no próprio movimento do dharma (a roda da lei). Esta é a maneira que desenvolvemos para viver num mundo incompreensível, misterioso e contraditório. Este tipo de lei deve e pode ser abandonada, completamente, agora mesmo. E ao fazermos isto, consequentemente surge radiante a sabedoria, nossa verdadeira natureza. Aberta ao mistério, porque participa dele, aberta à contradição, que já não há.

O ego pode criar uma grande resistência à percepção do dharma, e neste momento ele talvez esteja cheio de argumentos e justificativas para reafirmar sua existência. Mas não há porquê se preocupar, como seres manifestados precisamos dele, do ego, claro. Veja, o ego é só um nome para uma construção mental. Neste caso, o único ego que precisamos é aquele que nos ajuda a manter ele próprio vazio a todo instante, isto é, sem nenhuma experiência boa ou má cristalizada. Sem segurar o que quer que seja, sem acreditar que possui algo. Este eu, que assim vai além do ego, não precisa acreditar, não precisa crer, ele sabe, sabe porque observa este movimento de autoconstrução circunstancial constante mas não prega um prego, não enterra no solo uma viga sequer, ele apenas observa este fluxo sem paradeiro. Como os primeiros da nossa espécie, a sabedoria é nômade, ela não precisa construir casas porque ela já está em casa.

Neste tipo de lei pessoal, a ser abandonada, o pior seria querer que outros forçosamente acreditassem nelas também. Seria um pequeno terror, desejar que outros incorporem as leis que desastrosamente inventamos para nós. Seja por vias sutis ou diretas. Por outro lado, ao nos libertarmos, libertamos também o outro.

- A dimensão psicológica prende-se aos aspectos das leis 2 e 3 e portanto deve ser abandonada. Abandonar não significa que a parte psicológica da mente, digamos assim, irá desaparecer, significa que esta não será mais dominante e será encarada apenas como mais um aspecto da existência.

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