domingo, maio 30, 2010

Ilha de Lótus

Quando se é visto pelo olho-do-dharma
os olhos mesmo abertos, se despetalam
Quando se vê pelo olho-do-dharma
os olhos da face caem como meras testemunhas

Cada movimento é tão único
cada ação tão prenhe de si mesma
que o momento pára em contínuo
e todo o inominado é chamado - do início, ao fim

Os pés movem-se no ritmo das montanhas
e as mãos dançam a precisão das correntezas.
A barriga contém todo o oval estrelado e
os ouvidos sabem onde não estão, a todo instante.

Ainda sem saber, sem querer! vai deslizar...
como névoa de passarinhos peregrinos
por corredores inventados em pés descalços -
agora, fora dos labirintos de minotauros

Vai desejar vagar assim
de não perder jamais este veículo
e vai perder - é suposto não possuir
e não vai perder...

Abandonado pelas estrelas precisas da mente vazia,
irá regressar longe do ponto de partida,
exatamente na mesma ilha de lótus
e ver o que não pensa nas manchas de um muro decadente

E com ele desabar. No lugar dos olhos pétalas vermelhas, e ver:
o desfiar luminoso da trama dos desejos, no um e em todos
na penumbra do dojô. O forte permeando o frágil,
o frágil clarificando a dimensão do vazio.

Dizem que é sorte ter nascido humano
mas quão difícil é ser, dos pés à cabeça.
Dizem que a vida é uma benção, sagrada,
mas quão perigosa, quão espessa.

Fecha os olhos e põe os pés sobre o arame do picadeiro
Confia no nascimento-morte, nascimento-morte
Desde a bomba do peito ao centro da terra
uma sincronia absoluta, uma oferenda, um caminho.

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