sábado, abril 28, 2007

Nem melhores, nem piores

Um mito acabou se formando no ocidente a respeito do budismo, por falta de informações, ou porque um discurso edulcorado a respeito dele construiu uma imagem errada. Nas falas e livros escritos pelo Dalai Lama, a compaixão é tema presente muito mais do que a Iluminação e dos malefícios produzidos pela existência do ego. Por outro lado, ainda hoje confunde-se o Zen com a atitude alienada de grande paz interior, isento de raiva e ignorância. Este mito chegou ao ponto de colocar os praticantes do budismo na margem irreal do decurso da história. Seriam portanto, seres acima do padrão de normalidade, vivendo em outras ondas celebrais, retirado nas montanhas e fazendas alternativas. Mas tudo isso não passa de um tremendo engodo, uma grande balela.
Claro que o praticante do budismo leva em consideração valores como o da compaixão, da sabedoria, do desapego, da renúncia. Não se trata de palavras que enfeitam os discursos dos budistas televisivos e da midia impressa. Nada disso. Estamos tratando de condições reais de existência, no qual a compaixão deve ser inventada a cada instante através da experiência. Não existe uma compaixão distanciada da experiência. Se alguém disser que existe, tal colocação é falsa. O mesmo se refere à sabedoria, ao desapego e a renúncia. Assim, aquilo que se chama prática budista é justamente este comportamento de vigilância constante dos próprios ânimos, da atenção permanente. É necessário esforço para que isso realmente ocorra.
Mesmo com tal atitude, nenhum budista ou seu praticante pode ser considerado melhor do que um outro, que professa atitude e comportamentos diferentes. É pior um praticante de budismo pensar desta forma do que um outro pensar assim. Se um outro pensar assim, existe um motivo: desconhecimento. Mas se um budista pensar que ele é especial, então a prática se deteriora e aquele se torna o mais deludido dos homens.
Como parte da cultura universal, o budista é um ser normal, igual a tantos outros, com os mesmo sentimentos. Como vive na sociedade, acaba reproduzindo em seus lares e locais de treinamento o mesmo comportamento dela. Não poderia ser diferente. Nada existe de especial num praticante budista. O diferencial é que ele assume o compromisso de identificar a raiva assim que esta se manifesta e saber de sua inconsistência. O budista treina a mente nestas situações. Alguns treinam mais, outros menos. Não quer dizer, que o budista conseguiu acabar com a própria raiva, a própria ignorância, a própria ira. Não. Por saber de sua existência, ele esforça-se em diminuir a sua manifestação.
A representação do budismo é a da flor de lótus surgindo no meio de um pântano. A sociedade é este pântano, com todas as suas paixões, vícios e preconceitos, mas temos a capacidade de surgir nela como flor maravilhosa.

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