quinta-feira, maio 03, 2007

Quero ser monge...eu também

Vale muito mais ser um bom leigo do que um mal monge. Conforme Shunryu Suzuki (Mente Zen, Mente de Principiante) o treino de um monge não diferencia o de um leigo. Em outras palavras, o leigo deve praticar com igual intensidade que um monge. De fato, conheço leigos excelentes. Quando se fala em leigos, da forma entendida pela Soto Zen do Japão, trata-se de um Zaike, ou seja "aquele que treina e permanece em casa". Assim, o leigo cuida do templo e dos demais praticantes, consultando o monge quando isso for necessário. Não quer dizer que o leigo fique dispensado da prática como fazer zazen, participar das cerimônias, treinar os instrumentos, cozinhar durante o sesshin, manter a mente alerta, destruir o próprio ego, enfim tudo aquilo que é necessário de um praticante. No caso do zen, não fazemos aqui diferença de um monge e de um leigo.
Certa vez uma pessoa que tinha experimentando em uma outra tradição, me disse que somente os monges desenvolviam tarefas específicas, ficando os leigos em atitude de total obediência e passividade. Isso não deve acontecer, no zen. Nem mesmo o zen deve ser considerado melhor que outras tradições. Não é o caso. Apenas praticamos o Caminho, juntos com todos os seres vivos, inclusive as paredes, os telhados, os muros, as pedras, montanhas e rios.
Alguns destes leigos, por algum motivo, resolvem ser monges. Não sabemos se todos estão preparados para isso. A grande maioria, não. Trata-se apenas de mais uma ilusão. Em todo caso, talvez sirva de inspiração alguns pontos relevantes.
1. Como ensinou o jovem Sidharta, o futuro Buda, o primeiro passo é o da renúncia. Ser monge é saber, de antemão, que deve praticar o desapego incondicional de tudo: material e espiritual. Em japonês, a palavra para monge é Shukke, ou seja aquele que abandona o lar. De alguma forma, terá que abdicar-se um pouco dos laços familiares, apesar de hoje em dia os monges poderem constituir uma família. Neste caso, depende também do entendimento da esposa.
2. Aprender a perder. Quando estava no Mosteiro Shogoji, Japão, um rapaz da Universidade Provincial de Kyoto treinou conosco durante dez dias. Ele disse que procurava um sentido em sua vida. Após, vencido este período, ele confidenciou conosco: "Ganhei algo muito bom nestes dias de mosteiro, mas não sei o que realmente seja". O monge que ouviu a conversa ensinou-lhe "você não ganhou nada, você perdeu". Naquele momente, pensei estamos praticando o budismo para perder e isso me alegrou imensamente. Como dizia meu mestre, Miyoshi Roshi, nesta vida "não ganhamos nada, não perdemos nada; se não ganhamos, o que temos que perder".
3. Ser monge exige dedicação nesta atividade. Não se pode ser monge de sábado apenas: vestir-se como monge, agir como monge, sentar-se como monge. Mas uma vez que se sai do templo, retorna-se à vida ordinária e ao pensamento e atitudes ordinárias. Isso é um engano. No meu pensamento, o monge deve ser aquilo 24 horas por dia/noite. Não existe meio monge, 1/4 de monge ou ainda monge apenas de final de semana. Uma vez que se coloca o manto de Buda, o Kessá, este impregna-se ao corpo. Por isso, conforme o trabalho que o monge execute fora do templo, ele deverá usar a roupa negra de monge, que pode ser o samuê. Se existir um monge que no templo usa a roupagem de Buda, mas fora dele calça jeans, camisa de marca, não o considere.
4. Todo monge ou monja deve ter os cabelos raspados. Se isso não acontecer, equivale-se a um leigo. Não pode ser considerado monge alguém que ainda possui apego ou vaidade com a própria aparência. Ainda que seja dífícil para uma mulher raspar os cabelos, uma monja com cabelo é intolerável. Ou se quer ser monja ou leiga? No momento de uma ordenação de monja, o mestre pergunta se ela quer ser monja ou não. Sim, responde ela. Sim, significa que ela pode ter os cabelos raspados. Neste momento, diante de Buda, o mestre munido de uma navalha raspa-lhe a couro cabeludo. Assim deve continuar ela, como fosse o momento de ordenação: sem cabelos. Mas se o cabelo crescer, é o mesmo que retornar à vida de leiga.
5. Um monge deve fazer zazen. Um monge que não faz zazen, não consegue fazer zazen, não deseja fazer zazen, não é um monge da tradição de Dogen Zenji, que teria afirmado Shikantaza - "penas sentar-se". Um monge zen pode fazer muitas coisas, mas sentar-se em zazen é primordial. Não apenas uma vez por semana. Isto é pouco. Há leigos que fazem até três vezes por semana no templo. Se um leigo consegue fazer três vezes, por quê o monge pode fazer apenas uma vez? Se isto existir, o leigo terá que ensinar o zen para o monge. Este monge não tem autoridade para ensinar ao leigo, em hipótese alguma.
6. O monge massagista. Não somente no Brasil, como em outros países da América do Sul vi constantemente monges que se dedicavam também a esta terapia. É válido. Talvez somente a atividade de monge não seja suficiente para suprir as suas necessidades. No caso, uma outra atividade é necessária. Há monges massagistas, monges acupunturistas, monges moxabustão e outras variantes. Mas precisamos deixar claro: monge massagista é diferente de massagista que é monge. Se um massagista for um monge, pode ser concomitante professor de yoga, de ninjutsu, lojista, feirante, mecânico e policial. Acontecendo isso, monge é apenas uma das atividades desenvolvidas em seu leque de preferências. Neste caso, ser monge é como vestir uma camisa e depois de suada, trocar por uma outra e outra ainda.
8. O monge de biblioteca. Sem prática, não existe budismo. Um monge formado em biblioteca é tão pernicioso como o maior dos enganadores. Um monge de biblioteca substitui a prática pela teoria. Mas alguém poderia explicar em palavras o cheiro da jaca para alguém do Japão, da Europa ou dos Estados Unidos? Nunca as palavras e o entendimento mental serão suficientes para falar a respeito da jaca.
9. Um monge deve ser um monge e não apenas comportar-se como monge.
10. Se tudo isto estiver de acordo, receba a ordenação para ajudar a todos, que não seja eu o beneficiado, antes do benefício ser o de todos...

5 comentários:

  1. Anônimo12:45 AM

    Olha eu adorei esse texto,e é bem interresante.

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  2. Anônimo5:35 PM

    EU PENSEI EM SER MONJE . MAS NAO QUERO CORTAR O CABELO . SERÁ QUE POSSO SER UM MONJE COM CABELO . pq eu vi no filme que chama o templo perdido e lá jack chamn e jet lee sao monje . e o jack cham tem cabelo comprido

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    1. Anônimo11:05 AM

      não se iluda com filmes

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    2. Anônimo10:28 PM

      Sugiro que você leia o texto denovo se não entender, leia denovo

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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