terça-feira, abril 18, 2006
Mente em atenção
Fazemos zazen para treinar a mente, em mantê-la em estado de atenção. Quando se fala em mente pura, também se refere à atenção. Tendo a atenção, nenhuma atitude racional se torna necessária. Não se pensa, apenas fazemos aquilo que a nossa intuição manda. Como naqueles filmes antigos de bang bang: cidade do velho oeste varrida pela ventania, levantando redemoinhos pelas ruas; de repente surge solitário um pistoleiro com o colt 45 pendendo pelo cinturão do lado direito; do outro lado da calçada um outro pistoleiro, com arma semelhante; uns vinte metros separam um do outro, vão se aproximando, de repente param; um tiro certeiro liquidará o outro, ou seja quem for mais rápido no saque. Esta imagem foi clássica nos western spagetti, da década de 60, começo de 70. Aqueles contendores nada pensavam. Nem piscavam. Um mínino pestanejar, uma hesitação qualquer, colocaria a própria vida em perigo. Para sacar rápido não dependia apenas de técnica mas de total absorção naquilo que estava ocorrendo. Mente em atenção. Durante o zazen, muitas são as vezes que deixamos a hesitação pairar em nossa mente. Neste momento, somos derrotados com tiro certeiro pelo bandido Maya. Morremos neste instante por falha nossa, derrotados pela ilusão. Aos sábados realizamos o treino de nossa atenção durante a cerimônia após o zazen. Erramos muitas vezes. Somos derrotados por nossa falta de atenção. Um único erro nesta cerimônia pode criar desarmonia e todos erram. Mais do que no duelo entre os titãs do colt 45, que apenas um morre, aquele que se atrasa em sacar a arma, na cerimônia mencionada um atraso que seja, um adiantamento que seja, quase trinta praticantes sofrem a conseqüência daquele erro e morrem. Esta é a lei do karma. Toda ação tem por conseqüência uma reação imediata ou não, nesta vida ou na outra, no presente, no passado e no futuro. Toda nossa desatenção provoca desastres, não somente contra nós próprios mas estende-se a todo o resto. Nesta semana uma notícia causou-me uma sensação de impotência e loucura não justificável. Foi o caso do pai que esqueceu-se do filho pequeno no carro, causando a sua morte. Foi por pura desatenção. Mas procurou-se justificar. Diariamente, seguindo uma rotina o pai deixava primeiro a filha maior na escola, depois a menor na creche e depois a esposa no metrô. Só então, dirigia-se ao serviço. Bastou mudar o roteiro, num trecho apenas para sua mente continuar ainda condicionada a um roteiro pré-determinado. Este é o perigo. Uma mente condicionada. Uma mente que não vê além dos limites estabelecidos para a sua atuação. Mente pequena esta. Ainda que os afazeres diários sejam muitos não se justifica o apego a uma mente automática, que se desumaniza, tal qual engrenagem que não responde a estímulos emocionais e criativos. Quando a mente é pequena, todos os desastres são justificáveis. Não a mente de um praticante do Dharma. Não este.
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