Não me lembro do nome do monge, com quem teria acontecido a seguinte história. De qualquer forma, era chinês, isso tenho quase certeza. Assim ouvi a respeito dele. O velho monge vivia numa aldeia e tinha relações cordiais com todos. Sempre ajudou, não medindo esforços para isso. Ninguém alimentava nenhum rancor contra ele, pelo contrário.
Um casal de namorados ficou em apuros quando recebeu a notícia da vinda de um filho. Não era desejável naquele momento. O rapaz desempregado, não sabia como assumir a paternidade. Claro, amava a moça, mas um filho naquelas condições somente iria prejudicar-lhe. Quanto à moça, também comungava de mesma opinião: nada de filhos! Mas o que fazer?
- Podemos dizer que o pai é o monge - disse a moça.
- Isso mesmo - concordou sem pestanejar.
Assim dirigiram-se ao templo e encontrando-se com o monge disseram:
- O filho é seu.
- Ah! é - sem demonstrar nenhuma aflição, o monge tomou a criança nos braços.
Todos da aldeia passaram a repudiar o monge. Não se importando com isso, este cuidou da criança, alimentando-o e educando-o nos primeiros ideogramas ao ensinar-lhe o Sutra do Diamante. A criança cresceu e tornou-se o orgulho de seu protetor. Respeitava todas as formas de vida, inclusive as formigas e lesmas. Quando encontrava um passarinho morto, recolhia o seu corpo e enterrando-o, cobria com pedras. Depois recitava com sua voz infantil as preces ao Bodhisattva Avalokstevara.
Passados alguns anos, o rapaz, o verdadeiro pai da criança reatou com a moça e, como a situação era estável, resolveram reclamar o filho. Explicaram ao monge dos motivos que tinham levado-os a entregarem a criança, mas agora, estavam bem e, por isso, pediam-na de volta.
- Ah é - disse o monge e entregou o filho querido.
Na aldeia todos tinham esquecido do acontecimento. Poucos lembravam que a criança tinha sido entregue pela mãe, acusando o monge de ser o pai. Mas sabedores da verdade, não se importaram com isso. Os que desconheciam a história, ao tomar conhecimento da devolução da criança, acharam normal o filho viver com os pais. Até a raiva que sentiram do monge foi esquecido. Não havia arrependimento para os pais da criança e nem da população. Quanto ao monge, nunca viveu amargurado pela acusação injusta e nem responsabilizava os outros pelo ato insensato.
O monge continuou vivendo como sempre vivera: esmolava, fazia zazen, cantava os sutras e compunha poesia.
Ah é!
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