terça-feira, junho 27, 2006
Banheiro do templo x vestiário de futebol.
Há alguns anos durante um sesshin, num período de intervalo, um grupo de praticantes encontrava-se no banheiro, entre eles, eu. Automaticamente o clima tornou-se descontraído, todo mundo falando alto, fazendo brincadeiras e gerando altas gargalhadas. Era como se livres dos momentos de disciplinada interiorização precisácemos voltar ao nosso familiar estado de exacerbação. No meio daquele tumultuado ambiente, que mais parecia um vestiário de futebol, e em meio à minha própria exaltação interior, algo soou-me estranho. Algo estava fora de lugar. Senti um mal-estar e de repente passou pela minha mente uma suspeita. Imediatamente calei-me e sai do banheiro confirmando o que suspeitara: por todo o salão ecoava o alarido eufórico. Em meio ao barulho Sokan Koichi Mioshi tentava travar uma conversa com algumas pessoas. Meu olhar cruzou com o de uma monja que acompanhava a conversa do Mestre. Senti-me profundamente envergonhado. Sem que uma palavra fosse proferida, reconheci meu erro e fiz uma reverência desculpando-me à ela, que respondeu ao meu ato com outra reverência. Conscientizei-me que era preciso estar atento para que cada coisa estivesse em seu lugar, em benefício da harmonia. A atitude correta no lugar correto. Além dos momentos em que sentamos, o zazen continua nas demais dependências do templo e se estende para fora de seus muros.
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