Algumas palavras produzidas culturalmente e, desta forma, criando raízes como ervas daninhas na mente, contribuem para o condicionamento de nossa atuação no mundo. Uma destas, diz respeito a nossa pessoa, ou seja eu. Primeiro pessoa do singular.
Eu faço
Eu sinto
Eu penso
Eu conquisto, e assim por diante.
Mas toda vez que faço, tenho que arcar com as conseqüências. Assim sendo, tudo que faço acaba repercutindo em todas as dez direções. Como uma onda vibratória, a tudo acaba afetando, de maneira positiva ou não.
Quando eu sinto, talvez raiva, talvez compaixão, da mesma maneira me coloco como ser do mundo. Existindo a raiva discrimino a minha relação com o todo. Mais do que nunca o eu sobressai-se, sendo a raiva um instrumento para esta projeção. Maior a raiva, maior é o ego. Posso dizer também, estou bravo. Estado patológico de desequilíbrio emocional, um ego ferido que necessita produzir a contraparte. Por isso, o eu bravo precisa descarregar sua sandice no outro que causou-lhe tal arrebatamento. Assim, o ego vai se inflando na medida em que as emoções apaixonadas dominam o sistema nervoso. Outrossim, a respeito da compaixão, penso que a colocação não seria do tipo "eu sinto compaixão..." Melhor posto, a compaixão deve estar isenta de um eu. Se pratica atos compassivos quando o eu não pensa, ou seja o eu é vazio.
Colocando desta forma, um eu vazio, não sente raiva e também não sofre.
O sofrimento, conhecido também por dukkha, é gerado pela existência do eu. Um eu que realmente não existe, mas apenas um fantasma nascido de nossas ilusões. Quando o eu pensa, cria projeções, que não realizadas geram sofrimento. Se o eu pretende conquistar, uma vez que vê seus planos irem água abaixo, então o eu sofre. Maior o sofrimento, maior é o eu. Por isso, para o ego aparecer em toda a plenitude precisa sofrer. Quer dizer: eu sofro, na mesma medida que eu conquisto. Sofro quando não levo vantagem alguma nas minhas relações com o mundo.
Ao se falar no eu, o instante seguinte é o pronome possessivo Meu e Minha.
Minha casa
Meu carro
Meus filhos
Minha esposa
Meu emprego
Meu dinheiro
Se minha casa pegar fogo, sofro.
Se meu carro bater, sofro.
Se meus filhos se forem, sofro.
Se meu emprego eu perder, sofro.
Se meu dinheiro faltar, sofro.
Tudo aquilo que torna o ego o centro do mundo, sendo o resto um apêndice daquele, então o sofrimento continuará existindo. O sofrimento não existe se não existir um eu fortalecido. Assim como os atos de autocomiseração tornam o eu uma enorme fonte de profundo egoísmo.
Mas destruir o eu gera controvérsia, porque ninguém quer se desfazer dele. Basta um eu ferido para todo exercício de sua anulação se frustar!
Quando começamos a trabalhar a desconstrução do ego, podemos notar como este é na realidade um vício. Nos momentos que não nos identificamos com ele surge uma alegria leve e despreocupada, o tempo faz uma curva e nossos pés pisam leve o instante presente.
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