quarta-feira, outubro 25, 2006

Intoxicantes e libertação

"Não ingerir tóxicos": o que seriam – ao pé da letra – as substâncias intoxicantes na época de Buda? Alguns tipo de plantas alucinógenas e álcool, provavelmente.
Nos dias de hoje, como devemos pensar nisso? Além dessas substâncias, é preciso refletir também sobre a adequação do consumo de tabaco (que não existia na época de Shakyamuni). Igualmente deve ser preciso também estar atento para a pornografia e a violência transformadas em produto pela indústria da comunicação. Deve-se cuidar também dos apelos ao consumo, que freqüentemente excitam os sentidos muitas vezes mais que substâncias entorpecentes. Tudo isso são coisas de nosso tempo.
Quando ingerimos um cálice de vinho no almoço de domingo com nossos familiares, estamos ingerindo susbstâncias entorpecentes? Muitos podem dizer que não – argumentando, inclusive, que a medicina tem afirmado que tal consumo seria saudável ao organismo. Porém o que dizer sobre as milhares de vidas e famílias que são destruídas pelo vício ao álcool? Ou sobre os acidentes de trânsito que são causados por corretos cidadãos que apenas ingeriram uma ou duas cervejinhas na casa da sogra? Será que esses aspectos também não estão contidos naquela taça de vinho?
Da mesma forma pode-se pensar nas imagens violentas e pornográficas veiculadas constantemente pela TV. Quanto sofrimento elas causam em quem as recebe – na medida em que aprisionam o indivíduo em seus sentidos – e quanto sofrimento elas já não causaram para serem produzidas? Ou, então, nos insistentes apelos ao consumo, que muitas vezes levam a pessoa a ficar aprisionada num ciclo de desejos e dívidas.
Uma psiquiatra relatou o seguinte: hoje em dia, são freqüentes os distúrbios compulsivos alimentares. Muitas mulheres da classe alta, que podem pagar por esse tipo de intervenção, têm optado pela cirurgia de redução de estômago, para tentar resolver esse problema. Porém um interessante fenômeno tem sido observado em seu consultório: muitas dessas mulheres, após a cirurgua, impossibilitadas fisicamente de se alimentar exageradamente, têm se tornado consumidoras compulsivas. Gastam dezenas de milhares de reais em uma tarde, sem saber o porquê.
Cada tóxico tem seu próprio vazio. Podemos apenas fugir deles, da maneira que se diz popularmente "como o diabo foge da cruz", motivados tão-somente pelo medo. Porém isso não basta. E se o medo diminuir? E se formos pegos desprevenidos? É preciso, através da prática incansável do zazen, penetrar profundamente em sua verdadeira natureza. Quando da observação implacável do zazen emerge todo o sofrimento que esses comportamentos trazem, o apego a eles se desmancha no ar e a libertação surge.
Um a um, a seu tempo, sem temor, vão sendo derrubados pelo praticante, confiante, aprumado e sereno em seu zafu.
Entreguem-se ao zazen.

Um comentário:

  1. Como poderia um praticante do dharma, que busca a verdade, a observação direta da realidade, perder tempo com estados artificiais da mente?

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