(Sesshin - retiro para meditação intensiva) No primeiro dia acordei às quatro e meia da manhã para ir ao templo na Liberdade. Sai de casa para a caminhada habitual até o metrô, a temperatura estava muito agradável. No percurso, comecei a ouvir alguém cantando ao longe, o som chegava claro àquela hora da madrugada. Finalmente avisto um homem sem camisa. Com andar em constante desequilíbrio vem em minha direção cantando um samba enredo, da escola Pérola Negra, se não me engano. Eu observava tranqüilamente aquela alegria desmedida. Ao passar por mim o homem não parou de andar nem de cantar, fez apenas um pequeno aparte dizendo: "Bom serviço!" Eu agradeci e continuei meu caminho. Na estação Paraíso do metrô, acordei um rapaz que dormia sentado no chão encostado numa pilastra, pois não se movera com a chegada do trem. Ele deu um pulo como uma mola para dentro do vagão. Eram cinco horas da manhã do segundo e último dia de sesshin. Logo depois, durante o pequeno percurso de duas estações até o meu destino, observei à minha frente uma moça que dormia sentada ao lado de um rapaz, de repente ela se curvou no colo dele, e ele, carinhosamente a acolheu, tampando com a mão a luz fria e dura das lâmpadas fluorescentes de seus olhos.
Agora, terminado este sesshin, não consigo definir exatamente o que em mim se modificou, se quebrou, abriu ou se reorganizou de uma nova maneira. Mas fiquei pensando como é delicada a relação entre o eu de uma pessoa e o eu das outras pessoas e, o quanto isto afeta a todos. Neste sentido, vejo como as expectativas - em relação às outras pessoas - nos retiram do presente, fazendo-nos perder o que ainda nem tínhamos de verdade, muitas vezes causando dor. E neste ângulo, temos também a felicidade de ver à mostra a raiz de muitos problemas.
Miríades de pássaros
ResponderExcluirEsbaldam-se nos coquinhos.
Carnaval no Templo.
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Delicadeza
ResponderExcluirLuz
Despertar