Terça-feira à noite, o templo vazio, só um monge praticando, sozinho. No momento do kinhin, o porteiro abre cuidadosamente a porta do salão e chama-lhe: “Há um homem na portaria, ele veio de longe, não conhece muito bem a cidade, não sabia dos horários apropriados, você pode recebê-lo?” Há dias certos para que iniciantes recebam as intruções para o zazen, o que é feito na sala de chá, mas, como não há ninguém nessa noite, o monge concorda em receber o homem. O porteiro desce, abre o portão do templo e o homem entra. Em voz baixa saúda o monge e, meio sem jeito, pergunta se é preciso tirar os sapatos. Assim que os descalça e põe os chinelos, entra na Sala de Buda. O monge indica-lhe um zafu ao lado do seu e começa a explicar os procedimentos para o zazen. O homem, um pouco confuso, o interrompe: “Desculpe-me, mas não entendo o que você diz. É que esta é a primeira vez que venho a uma igreja messiânica”. Supreso, o monge lhe esclarece que estavam num templo budista, a igreja messiânica era no quarteirão de cima. O homem se dá conta de que havia “entrado na igreja errada”. Após alguns segundos de hesitação, o homem pergunta: “Mas vocês também fazem cerimônias para os antepassados? É que eu queria fazer uma para os meus.” O monge lhe diz que sim. O homem se alegra, pergunta os detalhes, anota o telefone da secretaria e sai aliviado e contente. O monge volta para o zafu.
O homem aprendeu que não há igreja errada.
E o monge aprendeu que, antes de mais nada, é preciso perguntar: "O que você deseja"?
Fico imaginando a versão do homem...
ResponderExcluir