sexta-feira, junho 08, 2007

Um pouco mais...

Seria totalmente dispensável qualquer linha que explicasse a experiência na prática do Caminho. Ao invés disto, deve-se aconselhar a prática. Não pode existir prática ausente o sentar-se em zazen, assim teria ensinado Eihei Dogen. Mas respeitemos aqueles que sentam-se apenas uma vez por semana, também os que sentam-se duas vezes ou ainda três. Melhor seria sentar-se todos os dias. Na verdade todos os dias comemos, trabalhamos e dormimos; freqüentamos a academia de ginástica por mais de uma vez por semana. Não se trata de priorizar mais uma atividade do que a outra, o zazen em detrimento às demais. Quando isto acontece, deparamos com uma situação de extremo condicionamento mental. Ainda a nossa mente acaba dando preferência às atividades mais convencionais. Por isso, fazemos pouco zazen. E fazendo pouco zazen, igualmente, a prática também acaba ficando debilitada. Vez por outra, ouvimos de algumas bocas que, apesar de não fazerem tanto zazen, estão praticando. Esta afirmativa não é totalmente falsa, mas apenas incorreta. O zazen e a prática no cotidiano são totalmente indissociáveis. Com a mente e a atitude do zazen nós vivemos no mar incerto do samsara. Isso não seria possível acontecer sem fazer regularmente o zazen. É como falar sobre o budismo com um leigo, que nunca experimentou o zazen. Claro, o budismo enquanto discurso pode ser interessante, até persuasivo, entretanto nunca poderá substituir a própria experiência.
Tenho pensado a respeito: "Por quê os praticantes não sentam-se mais". O que posso dizer é apenas "venha mais vezes fazer o zazen". Palavras totalmente inconsistentes, diante de uma quantidade enorme de outras motivações para não faze-lo: preciso trabalhar, preciso ganhar dinheiro, preciso malhar para emagrecer, enfim, não tenho tempo. É preciso, então, priorizar o tempo. Dogen disse: "não percam tempo, iluminem-se neste momento". Não obstante, continuamos em permanente estado de delusão. É como que o sonho fosse preferível à Iluminação. Como que a Iluminação fosse algo temido. Quer dizer, a prática é importante mas não de forma exagerada. Esta colocação é extremamente infeliz. Afinal, penso eu, a prática é um compromisso de quem escolheu este Caminho.
E se me considero ainda praticante, que eu possa ser mais compassivo com os outros e menos condescendente conosco mesmo. Que eu possa praticar sempre um pouco mais... Que a alegria da prática seja capaz de entender os que têm dificuldade em praticar. Que a prática de um coração totalmente vazio reverta em méritos para aqueles que não tiveram a chance de praticar, nem de se sentar em zazen. Sentamos e praticamos não pelo benefício próprio neste universo da interdependência. Sentamos enfim para diminuir o karma negativo de um mundo violento, injusto, de muita miséria, de palavras duras contrárias às ações benevolentes de nossa crença.

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