Outro dia conversava com uma pessoa de mais de setenta anos, que me disse: "Vou fazer setenta e cinco anos e gostaria de voltar o tempo, mas isso não é possível".Por quê tememos a morte? perguntei."Porque é tão triste morrer, tudo se acaba", ela respondeu.
Essa conversa avivou recordações deixadas por parentes e amigos que morreram.Não foram poucos.Muitos desses ao pressentirem a morte entregaram-se a toda sorte de soluções mágicas, sem nada conseguir, pois o tempo de vida já estava determinado.Mortos marcados pela dor e pelo sofrimento com ecos de desespero dentro de si.Essas vivências marcaram-me profundamente.Ainda posso senti-las muito perto de mim.
Pergunto-me como vivemos para morrer assim.O desespero não surge na última hora, ele é alimentado cotidianamente na vida, pois vivemos como se fóssemos eternos, como se pudéssemos reverter o envelhecimento e mesmo resistir à própria morte.Devotamos a vida a isso e no final da vida mortal como morremos?Morremos iludidos.Morremos como vivemos.
Dogen Zenji disse; "Esclarecer vida e morte é a questão mais importante da vida...".O silêncio e a imobilidade do zazen nos orientam sobre isso.De alguma maneira antecipam a experiência do fim da vida mortal.A prática e a persistência no zazen, no seu ritual silencioso e imóvel, na intenção que brota do coração, repetido dia após dia nos ajuda a compreender o sentido da vida, nos conduz à paz e a um progressivo caminho espiritual . Se tivermos paz teremos alegria no coração.A alegria já é por si só um sentimento que expressa agradecimento e reverência à vida.Se vivermos assim, com sinceridade e alegria, na hora de nossa morte talvez possamos expressar o que pode haver de mais puro dentro de nós - a gratidão pela vida.
Lembro-me daquilo que me dizia o meu mestre de ordenação Aoki Roshi: "a partir do nosso nascimento, estamos cada vez mais próximos do dia de nossa morte". Mas como não sabemos quando isso vai ocorrer, "temos que viver intensamente cada momento". Visto de outra forma, não há morte para ser temida, nem a vida para ser desejada. Nâo existe dualidade entre vida e morte e este é o processo da Iluminação.
ResponderExcluirQue bom, Denkô! Obrigado.
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