sexta-feira, junho 22, 2007

O peso do manto da prática

Quando se pratica assumimos a nossa face verdadeira, totalmente isento de maquilagem. Não há que agradar alguns, não temos reconhecimento, nem lucros e vantagens. Ainda acho que praticar o zazen uma vez por semana é pouco. Claro, devemos levar em consideração o tipo de prática de cada um, ou seja leve, média ou profunda. Também o grau de comprometimento de cada um, pouco ou grande. Nesse caso, a fé de cada um nesta prática, pequena ou grande. Inclusive, temos que pesar o tempo disponível para esta prática semanal ao lado de outras como ir à academia de musculação, aeróbica e yoga. Talvez haja cursos para se fazer,como o de inglês, espanhol e informática. Sem contar, claro, os momentos de lazer: cinema, gandaia e outros. Evidentemente, pode-se fazer tudo isso, mas também zazen um pouco mais. Quem faz uma vez por semana, poderia fazer duas. Não obstante esta tarefa é muito difícil.
Por outro lado, poderia se dizer que o praticante deve atuar fora do templo. Esta assertiva é verdadeira, mas não serve para justificar o pouco zazen realizado. Penso que a prática deve estar associada ao zazen constante. Uma prática budista que abandona o zazen, me parece, totalmente irresponsável e deludida. Enquanto o zazen for visto como um adereço da vida, de importância menor, continuarei mergulhado no lodo da ilusão, com uma mente totalmente condicionada. Sinto que vestir o manto da prática é tão difícil, ao ponto que uma vez realizado o zazen tenho que me livrar dele o mais rápido possível. O manto de Buda é pesado, e poucos conseguem vestí-lo por mais tempo. Mas desconhecem os méritos contidos naquele manto, remendado e negro. A roupa da prática no templo deveria ser a vestimenta permanente do praticante. Quem sabe, um dia ela se torna parte de sua pele e não consegue mais arrancá-la.
Não é de hoje que se diz "me falta tempo" para desenvolver esta atividade. Mas para realizar algo é necessário abdicar-se de algumas tarefas em função de outras. É impossivel fazer tudo ao mesmo tempo, com o mesmo grau de importância. Posso me tornar um especialista em Shakespeare lendo toda a sua obra teatral na sala de leitura da Biblioteca Municipal. Para que isso aconteça, vou deixar de fazer outras coisas, porque a prioridade é a leitura da obra citada. O mesmo acontece com o zazen, com toda prática budista. Mas não agimos desta forma. Nossa mente não funciona assim, porque está condicionada. Está condicionada aos apelos do mundo com seus fetiches, loucuras e seduções. Pode-se viver desta forma, mas o sofrimento continuará existindo, bem como a ilusão e a desesperança. Um ser condicionado não é livre, pelo contrário. E neste condicionamento, faz do zazen uma somatória de outros afazeres do mundo sansârico. Talvez exista um medo grande de abandonar a ilusão, ou preferem a ilusão como condição humana do que a iluminação como condição do ser da sabedoria e compaixão.
Pratiquem zazen... Ingressem nas profundezas da mente e libertem-se das amarras da ignorância de conceitos, idéias e abstrações. Pratiquem budismo com seriedade!

Um comentário:

  1. É verdade, ainda me sinto dividido, embora eu saiba da prosposta não-dualista. Sinto a prática do dharma permear a minha vida social e profissional e o oposto também. Muitas vezes sinto vontade de me dedicar bem mais à prática mas sempre acabo esbarrando nos outros planos feitos e pensados para esta mesma vida... Um coisa é verdade, a vida vai ficando cada vez mas simples e válida por si só, desde que comecei a praticar.

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